A gravidez e o parto são dois assuntos que vem preocupando largamente as gestantes e suas famílias nessa pandemia do novo Coronavírus. Isso porque, obviamente, nem a gravidez e nem os trabalhos de parto deixaram de existir por causa da pandemia.

A verdade é que mais de 300 mil bebes nasceram no país desde o primeiro caso do vírus confirmado no Brasil. Isso quer dizer que o novo Coronavírus não gerou impacto no crescimento da população. No entanto, é claro que a pandemia mudou o cotidiano das mulheres que estão em processo de gravidez e daquelas que deram a luz neste período. Isso porque essas mulheres precisaram reorganizar suas rotinas, seus planos e seus cuidados.

Por exemplo, algumas famílias precisaram mudar os planos de parto e a rotina de consultas médicas. Além disso, as mulheres também precisaram acrescentar na sua já extensa lista de cuidados todas as recomendações específicas sobre o vírus.

Com todo o sistema de saúde focado no atendimento, combate e controle da pandemia no país, o acesso as unidades de saúde e aos hospitais está mais restrito. Mesmo não havendo estudos científicos suficientes que indiquem maior risco da doença entre as grávidas e puérperas, o Ministério da Saúde decidiu as incluir nos grupos de risco. Esse foi um cuidado no sentido preventivo, uma vez que não há informações suficientes a medida tem como objetivo garantir que problemas maiores não ocorram com esse público.

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Mas, afinal de contas, como a pandemia pode estar afetando a gravidez e a experiencia de parto das mulheres? Quais medos e situações elas estão enfrentando? Como é atravessar um gravidez em uma pandemia dessa proporção? Compreenda tudo sobre esse cenário aqui. Boa leitura!

Experiência de gravidez, consultas de pré-natal e cuidados médicos na pandemia

Médico obstetra em trabalho de parto gravidez

Médico obstetra em trabalho de parto – Foto: Freepik

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Algumas médicas obstetras estão relatando um cenário preocupante: há mulheres que estão sendo infectadas com o novo Coronavírus no pós-parto. Além disso, há casos relatados também de mulheres que estão sendo contaminadas durante a gravidez devido a procedimentos excessivos ou desnecessários.

Vale ressaltar um ponto importantíssimo elencado pelas especialistas: “É comum que no Brasil o número de exames feitos no pré-natal seja excessivo e muito acima do indicado e do necessário. Neste momento de pandemia, é hora de seguirmos as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso porque suas orientações estão sempre pautadas na ciência e zelam pela saúde e bem-estar da mulher e da criança”.

Ultrassons e procedimentos de rotina no pré-natal

Por exemplo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta que seja feito três ultrassons ao longo da gestação. Este é o número ideal deste procedimento para todo o período da gravidez e do acompanhamento pré-natal. No entanto, há experiencias de mulheres que chegaram a fazer o dobro disso nas suas gestações, ou até mais que o dobro.

A realidade dos convênios particulares chega a ser mais alarmante que a realidade de saúde pública. Isso porque nos planos particulares a mulher comumente é vista como uma “cliente” e não como paciente. Ou seja, é comum que ela tenha regalias ou direito a fazer determinados procedimentos só para “não ser frustrada” por ser uma “cliente”, mesmo que o procedimento vá contra as recomendações científicas.

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Além de ultrassom, há outros procedimentos de rotina que também devem ser limitados no pré-natal da gravidez. Além de desnecessário, submeter a mulher e o feto/bebe a alguns destes procedimentos de forma irrestrita pode afetar seu desenvolvimento saudável.

As especialistas lembram que as orientações definidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) são bem estabelecidas e seguem rigorosamente estudos clínicos embasados, robustos e com bastante evidencia de sua eficácia e segurança. As médicas acreditam que voltar ao básico e tornar a escutar as evidencias científicas e as autoridades de saúde de nível global é fundamental, principalmente neste momento. Isso porque já há relatos de mulheres se contaminando justamente por serem submetidas a procedimentos desnecessários ou excessivos durante a gravidez.

Voltando ao básico e as recomendações científicas, as mulheres serão menos submetidas e menos expostas a situações de risco. Com a redução da sua exposição, a mulher terá menos riscos de contrair a Covid-19 ou de gerar outros problemas no desenvolvimento do feto.

Breve história da cesárea em contexto brasileiro

parto e gravidez

Grávida prestes a dar a luz – Foto: Freepik

As especialistas também relembram que a cesárea deve ser a última alternativa quando falamos de gravidez e de parto na pandemia.

No nosso país, mais de 55% de todos os nascimentos acontecem através de cesárea. Na rede privada de saúde, esse número sobe para praticamente 85%. No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a cirurgia é necessária apenas entre 10% a 15% dos casos. Ou seja, 70% dos casos de cesárea da rede privada de saúde e 40% dos casos de cesárea de todo o país (considerando rede pública e rede privada) estão submetendo as mulheres e os bebês a uma cirurgia de risco de forma desnecessária.

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Infelizmente, o Brasil é o país que mais desrespeita a ciência nesse sentido. Isso porque nosso país é o que mais faz cirurgias de cesárea de forma desnecessária no mundo. Diversos estudos sobre a temática apontam que as principais razões para a cesárea ocorrer de forma indiscriminada no país estão associadas com a conveniência para o médico. Isso porque é muito mais confortável para o médico colocar um dia e hora na agenda para fazer uma cirurgia do que aguardar o tempo do bebe.

Ou seja, o conforto do médico está sendo protagonista na decisão, e não o quadro da mulher, a necessidade da cirurgia ou a saúde do bebe.

Indicação clínica de cesárea e por que não faze-la na pandemia?

Obviamente, a cesárea não é um procedimento “ruim” ou “malvado”. Pelo contrário, essa cirurgia pode ser extremamente positiva e pode salvar a vida da mãe e/ou do bebe, dependendo do caso. O problema não é o procedimento em si, mas o seu uso indiscriminado por médicos e equipes ou instituições de saúde.

Quando utilizado por razões objetivas e alinhadas ao quadro clínico da mulher e do bebê, a cesárea pode ser uma salvação para aquelas vidas.

Fora do contexto de pandemia, a cesárea já costumava expor a mulher a um risco maior e desnecessário. Isso porque as complicações ocorridas em cesáreas desnecessárias já fizeram com que inúmeras mulheres precisassem passar por experiencias nocivas de forma leviana e sem qualquer necessidade. E vale lembrar que estamos falando de experiencias negativas em um momento tão importante e que poderia/deveria ser registrado na lembrança da mulher como uma recordação gostosa.

Dentro do contexto da pandemia, a situação é ainda mais delicada. Isso porque a mulher precisa prolongar sua estadia hospitalar quando se submete a uma cesárea. Nesse cenário, ela não poderá receber uma alta precoce e precisará se submeter a uma recuperação cirúrgica (que costuma ser lenta e difícil, isso quando não conta com complicações).

A ciência já demonstrou através de uma série de estudos que procedimentos de cesárea sem indicação eleva em 6 vezes o risco de morte da mulher. Ou seja, além do procedimento ser desnecessário e acarretar em riscos para o desenvolvimento do bebe, a mulher também corre maior risco de vida. Por isso, as especialistas alertam para o maior cuidado nesse sentido e para a opção da cesárea ocorrer exclusivamente em situações cujo a indicação é recomendada pela ciência.

Parto e maternidades na pandemia

parto

Mulher hospitalizada após gravidez e parto – Foto: Freepik

O distanciamento social (também chamado de quarentena ou isolamento) é uma medida necessária para combater a pandemia. As especialistas afirmam que este cuidado precisa ser posto em prática com critérios rígidos pelas mulheres que estão em gravidez ou pelas puérperas.

Felizmente, basicamente todas as maternidades a que temos acesso demonstraram já estarem tomando cuidados neste sentido. A redução na quantia dos acompanhantes é o cuidado mais comum destes lugares, em conjunto com avaliação de sintomas gripais nas mulheres. Além disso, as maternidades também estão fornecendo itens de segurança para mulheres e acompanhantes, como máscaras. Boa parte das maternidades também conseguiu isolar as mulheres em trabalho de parto e no pós-parto.

A experiência na prática

Táli tem 38 anos e é socióloga. Ela passou pelo parto do seu bebe há cerca de 3 semanas e conta sua experiencia.

A moradora de São Paulo/SP conta que seguiu todas as recomendações e os critérios recomendados desde o princípio. Táli conta que vive com o filho de 3 anos e com o marido (e agora, com o bebe). Ela narra que desde as primeiras medidas adotadas pelo governo paulista, ela passou a se isolar em casa com o filho mais velho. Ficou a critério do marido sair de casa para emergências, para fazer compras ou por quaisquer outros motivos.

Além do distanciamento social, a família também segue rigorosamente os cuidados com a higiene.

Na maternidade, Táli conta que sua única companhia foi seu marido. Apesar do desejo, a socióloga pediu que ninguém da família a visitasse. Posteriormente e já em casa, Táli seguiu sem receber visitas. Até o momento, a família conhece o novo integrante exclusivamente por fotos, vídeos e chamadas de vídeo feitos pelo celular.

Nas palavras dela, “Quando começou a pandemia, nós imaginamos que as medidas nos hospitais seriam bem rígidas em relação a visitas e acompanhantes. Minha médica explicou como seria o parto, de uma maneira não alarmista, e a gente entendeu que a primeira coisa era: sem visitas e um acompanhante, porque isso ainda é um direito da mulher. Qualquer mudança nesse sentido vai um pouco além da pandemia. Como a gente tem um filho pequeno, a gente tinha a expectativa de que ele pudesse ir visitar a irmã, mas não deu, e tudo bem, é compreensível”.

A solidariedade como instrumento para manter o equilíbrio na pandemia

Duas pessoas segurança um coração de borracha

Duas pessoas segurança um coração de borracha – Foto: Freepik

Infelizmente, a pandemia não está trazendo somente riscos sobre para a saúde física das pessoas. A verdade é que a pandemia, as incertezas dela e o isolamento tem obrigado as pessoas a lidarem com uma série de problemáticas emocionais e mentais. Não a toa, diversas especialistas em saúde mental tem relatado aumento na gravidade dos casos acompanhados e aumento no sofrimento mental/emocional das pessoas.

Para se proteger de mais esse problema, Táli optou por fugir das polemicas e reviravoltas novelescas da política brasileira. A socióloga revela que está ocupando seu tempo com as orientações científicas e com a solidariedade. Escolher trilhar o caminho da solidariedade como forma de lidar com essa nova realidade tem trazido bons frutos, de acordo com ela.

Táli conta que “Após um tempo, nós freamos o contato com as notícias, porque nós já estávamos em isolamento e as notícias não mudariam a nossa rotina. Por outro lado, procuramos estar perto nas redes sociais e ajudar quem precisa. Na escola do meu filho, o conselho de pais e mães fez um mapeamento das famílias em situação de vulnerabilidade e fizemos doações para quem precisava, por exemplo”.

Além disso, a socióloga também revela que um grupo de moradores de seu bairro se juntou a um movimento social que luta em prol do direito a moradia. Evidentemente, este grupo busca atender necessidades básicas de pessoas que não possuem casas e que estão em situação de rua ou de ocupação de propriedades abandonadas. O pequeno grupo de moradores do bairro de Táli se uniu a este movimento para realizar doação de alimentos e de itens básicos de higiene e de vestimenta.

A mudança de foco do panico e alarme para o auxílio mútuo e solidariedade tem ajudado Táli a se manter ativa e equilibrada neste momento.

As dificuldades das mães periféricas e da gravidez na periferia

Barriga de uma mulher grávida gravidez

Barriga de mulher grávida – Foto: Freepik

Daniele é doula e atua no Mãe na Roda. O Mãe na Roda é um projeto de doulagem coletiva que ocorre nos bairros periféricos de São Paulo.

Mulher, negra e moradora da periferia, Daniele estuda os processos femininos há mais de dez anos. Ela conta que se tornou militante pelo parto natural depois de sofrer violência obstétrica no parto de seu primeiro filho.

Como era de se esperar, a pandemia tem acarretado dificuldades e desafios extras para essa população periférica. Nesse sentido, Daniele conta que as mulheres mais vulneráveis são as que estão mais expostas por diversos motivos. Entre as razões mais comuns, está a dificuldade de fazer um isolamento adequado e o menor acesso a meios de transporte seguros para as idas ao médico.

A doula conta que a região onde está é marcada como um “triangulo” entre 3 hospitais. No entanto, o que poderia ser positivo se torna um problema quando todos se tornaram referencia para atendimento de casos de Covid-19. Ou seja, a mulher que precisar ir ao hospital precisará perambular na busca de outros hospitais, mais distantes. Evidentemente, ficar se deslocando pela para poder ter o parto está longe de ser o ideal.

Daniele conta que já houveram mulheres que se contaminaram por irem até o hospital. Diferente das mulheres mais favorecidas, essa população costuma precisar utilizar transporte público ou aplicativos de carona, pois não possuem carros próprios.

Infelizmente, parte dessas contaminações foram desnecessárias, uma vez que a mulher não tinha necessidade para ir ao hospital naquele momento. No entanto, o pouco caso governamental com a política de saúde faz com que as mulheres sequer consigam avaliar adequadamente quando é momento de procurar o médico, e quando não é necessário.

O trabalho das doulas no acompanhamento da gravidez na pandemia

Daniele conta que precisou reinventar e reconstruir sua forma de trabalho na pandemia. Essas mudanças são uma forma de proteger a si mesma, a sua família, as gestantes e as famílias dessas gestantes. Neste momento de distanciamento social, ela optou por trabalhar através de grupos virtuais. Basicamente, Daniele conta que está realizando chamadas de vídeo e está fazendo orientações pelas mídias sociais.

Ela diz compreender que ser doula é dar colo, cuidado e conforto na gravidez e depois do parto. Por isso, ela lamenta não estar conseguindo atender as mulheres como gostaria neste momento mais difícil.

Daniele ainda conta que trabalhar com mulheres da periferia é particularmente complicado neste momento. Isso porque elas são usuárias de hospitais públicos, ambiente onde as doulas não tem autorização para entrarem. Além disso, os grupos Online de preparação para o parto feitos através de transmissões ao vivo dependem da mulher ter acesso a Internet. Quando falamos de mulheres periféricas, isso significa que muitas não poderão ter atendidas nem mesmo a distância.

Fortalecimento da família e dos laços de cuidado

Família com filha pequena

Família feliz com filha pequena – Foto: Freepik

Algumas especialistas no campo da saúde tem demonstrado em suas análises recentes sobre o cenário que as mulheres são as mais afetadas pela crise. De acordo com estas pesquisadoras, o desmonte dos direitos e o sucateamento das políticas públicas tem afetado de forma mais severa as mulheres, em especial aquelas que vivem na periferia e/ou que são as únicas responsáveis pela família.

Apesar das dificuldades, Daniele diz acreditar que o caminho mais certeiro para este momento é apostar no fortalecimento das mulheres, das famílias e das suas redes de apoio. Nas palavras da doula, “É muito pesaroso para nós, que somos profissionais do cuidado, do toque e do acolhimento. Mas a gente se reinventa e compreende que a gente precisa mesmo é fortalecer essa família, esse companheiro, essa companheira, que vão estar lá junto com essa mulher para trazer e cuidar desse bebê”.

Assim, a doula compreende que sua profissão tem seus limites (como qualquer outra) e que uma saída possível é apostar nas pessoas que possam estar mais próximas da mulher neste momento.

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