É considerado mortalidade materna todo óbito que tenha ocorrido durante a gestação ou até 42 dias depois do fim da gravidez, por qualquer causa desenvolvida ou agravada pelo processo gestacional. Ou seja, qualquer circunstância que tenha ocorrido devido à gestação, ou que tenha sido piorado na gestação e que, por ventura, leve ao óbito da mulher, é considerado mortalidade materna.

Nesse sentido, não faz diferença o local e a duração da gravidez. Além disso, estão excluídos todos os casos de mortes por acidentes ou por qualquer causa que não tenha associação direta com a gestação.

Entenda neste artigo porque a mortalidade materna é um assunto que precisa ser debatido. Conheça as principais causas, a realidade mundial e brasileira e as principais formas de prevenir essa situação. Boa leitura!

Dados gerais sobre mortalidade materna

Dados sobre mortalidade materna

Crédito: Freepik

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No fim de 2018, a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde) e a OMS (Organização Mundial de Saúde) atualizaram e publicaram os dados mais recentes sobre a realidade mundial de mortalidade materna. De acordo com essas organizações e com pesquisadores do mundo todo, a mortalidade materna é um dos problemas mais sérios de saúde que o mundo enfrenta.

É estimado que ao menos 50% dos casos de mortalidade materna, que é inaceitavelmente alta, poderiam ser evitados somente com as informações que já temos até o momento sobre o tema. Quase todas as mortes aconteceram em ambientes com poucos recursos, como países ou regiões onde as mulheres não têm acesso a serviços e profissionais qualificados.

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De acordo com o levantamento publicado no fim de 2018, há aproximadamente 830 mulheres morrendo em situações que poderiam ser evitadas todos os dias. Esse número diz respeito à mortalidade materna mundial. Todos os dias pouco menos de 1 mil mulheres morrem por complicações na gestação e no parto no mundo. E esse número é referente somente aos casos que poderiam ter sido evitados.

Desigualdades regionais e de idade

Dos casos citados acima, praticamente todos (99%) acontecem em países em desenvolvimento, como o Brasil. As regiões mais afetadas são justamente as que estão em desenvolvimento, como América Latina, sul da Ásia e boa parte da África. Entretanto, também existem diferenças dentro de um mesmo país ou região: mulheres que residem em áreas rurais ou em regiões mais pobre e/ou periféricas/afastadas correm mais risco de a mortalidade materna do que mulheres do mesmo país que residem em áreas urbanas ou em regiões mais desenvolvidas e centrais.

A idade também pode ser um fator adicional de risco. De acordo com o levantamento publicado, as adolescentes gestantes correm mais riscos de virem a óbito devido à mortalidade materna. Muitos estudos mostram que esse maior risco entre as adolescentes tem associação com dois fatores:

  • Médicos e equipes de saúde tem mais preconceito com adolescentes gestantes do que com o restante das gestantes. Por isso, o atendimento da adolescente é prejudicado, o que pode levar ao óbito
  • É mais comum que adolescentes gestantes mais pobres deem continuidade a gestação. Isso porque diversos estudos mostram que gestações na adolescência em famílias com mais dinheiro acabam resultando mais frequentemente em cirurgias de aborto em clínicas, de modo que a maioria das gestantes adolescentes são mais pobres

Redução nos índices de mortalidade materna

Estatísticas de mortalidade materna

Crédito: Freepik

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Felizmente, esse tema vem tendo centralidade em pesquisas no mundo todo. Além disso, organizações como a OMS e a OPAS vem se preocupando cada vez mais com a saúde da mulher. Por isso, há diversas iniciativas de conscientização em torno do assunto.

Toda essa atenção vem gerando resultados positivos em termos estatísticos. Por exemplo, houve uma redução de mais de 40% nas taxas de mortalidade materna mundial entre os anos de 1990 e 2015. Infelizmente, o estimado era que os números tivessem melhorado ao menos 65% nesse período, uma vez que se trata de 15 anos de trabalho árduo. Apesar disso, ver uma melhora tão significativa já é um estímulo para que as pesquisas continuem acontecendo e os dados continuem sendo levados ao público.

Em 2014 foram contratados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) mundiais. Entre outros assuntos, a mortalidade materna esteve presente na discussão. Foi acertado que, entre os anos de 2016 e 2030, um dos objetivos é reduzir a taxa global de mortalidade materna para menos de 70 mortes para cada 100 mil nascidos vivos.

Audaciosa, especialistas do mundo todo acham muito difícil que a meta seja alcançada. Isso porque o índice atual é mais que o dobro. Portanto, seria necessário um investimento enorme (não somente em termos de dinheiro) para que esta realidade fosse alcançada.

Onde as mortes maternas acontecem?

Todos os levantamentos globais já realizados sobre o assunto assustam sobre a realidade da mortalidade materna. Os indicadores tendem a apontar para as desigualdades no acesso aos serviços de saúde e a profissionais capacitados para o trabalho. Além disso, o panorama global também demonstra as diferenças entre a realidade das mulheres ricas e das mulheres pobres.

Apesar de todos os problemas existentes no Brasil e na região, nenhum país da América Latina lidera entre os locais com piores situações, em termos mundiais:

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  • Mais de 50% dos casos de mortalidade materna acontecem na região Subsaariana da África, em países como Congo, Ruanda e Somália
  • Cerca de 30% dos casos ocorrem na região sul da Ásia, em países como Afeganistão, Índia, Nepal e Bangladesh

A instabilidade social também tem associação direta com a mortalidade materna. Isso porque mais de metade dos casos ocorrem em regiões socialmente fragilizadas e/ou em contextos de crises humanitárias.

Regiões desenvolvidas X regiões em desenvolvimento

Regiões desenvolvidas X regiões em desenvolvimento

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Assim como apresentado anteriormente, a diferença entre a realidade de locais ricos e de locais pobres é enorme. A maioria dos especialistas no assunto mencionam esse fator como um dos preponderantes entre os riscos de uma mulher vir a sofrer ou não com a mortalidade materna.

Por exemplo, em países em desenvolvimento a taxa de mortalidade materna foi de 239 para cada 100 mil nascidos vivos, no ano de 2015. No entanto, o mesmo período teve uma taxa média de apenas 12 por 100 mil nascidos vivos em países já desenvolvidos. Ou seja, em países como Japão, Noruega, Coreia do Sul, Alemanha e Canadá a taxa estava em torno de 12 mortes, enquanto em locais como Angola, África do Sul, Argentina, Maldivas e Brasil a taxa média era de 239 mortes para o mesmo período e mesma quantidade de nascidos vivos.

Estudiosos do mundo todo acreditam que o investimento em educação em todos os níveis e em saúde pública são as melhores formas de combater a mortalidade materna. Isso porque somente através desses investimentos seria possível capacitar profissionais e garantir espaços seguros para o atendimento das gestantes.

Causas principais da mortalidade materna

A maioria das causas de morte materna são complicações que acontecem durante a gestação e que podem ser evitadas e tratadas, desde que a mulher tenha acesso a algumas condições básicas de atendimento e cuidado. Também é comum que a causa da mortalidade materna seja um problema desenvolvido antes da gestação mas que piorou após a gravidez. Esses casos normalmente levam ao óbito quando o assunto não foi devidamente tratado ao longo do processo gestacional.

As principais complicações hoje consideradas as causas mais importantes de mortalidade materna são:

  • Hipertensão
  • Hemorragias graves, normalmente ocorridos depois do nascimento
  • Infecções, também ocorridos depois do parto
  • Complicações durante o parto
  • Abortos clandestinos

É estimado que estas complicações somam quase 80% do total de causas da mortalidade materna no mundo.

Tratamento e prevenção

gravidez

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Uma vez que já temos informações sobre os principais riscos, pesquisadores acreditam que é importante construir políticas de saúde pública que previnam esses possíveis acontecimentos.

Além disso, também é fundamental que os profissionais se capacitem para poderem lidar com complicações que possam vir a ocorrer.

Prevenção baseada nas principais causas já conhecidas

Hipertensão

A hipertensão precisa ser detectada e tratada logo no início da gestação. Com isso, as convulsões (eclâmpsia) poderão ser prevenidas, assim como outras consequências fatais. Atualmente já se sabe que administrar sulfato de magnésio em gestantes hipertensas reduz o risco das convulsões.

Hemorragia grave

Assim como no caso da hipertensão, a hemorragia após o parto também pode ser facilmente prevenida. Quando acontecem, as hemorragias graves podem levar uma recém-mamãe a óbito em poucas horas, então o cuidado precisa ser redobrado. Para prevenir esses casos é só fazer uso de oxitocina logo depois do nascimento. Diversas pesquisas apontam que esse cuidado pode prevenir até 60% dos possíveis casos de hemorragia puerperal.

Infecções

cirurgia

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Talvez ainda mais simples do que os casos anteriores, para evitar complicações associadas a infecções o cuidado mais eficaz é garantir uma boa higiene após o parto. Fazer uso de equipamentos esterilizados e limpar pontos e feridas adequadamente leva à prevenção quase total de complicações futuras por infecção. Além disso, também é importante ficar atenta aos primeiros sinais de uma possível infecção e acionar o serviço de saúde rapidamente.

Violência obstétrica

Dezenas de estudos nacionais demonstram que a maioria das complicações durante o parto que levam à mortalidade materna estão associadas com a violência obstétrica. Negligência por parte dos médicos, se recusar a respeitar os direitos da mulher, não oferecer estratégias para alívio da dor, fazer uso de xingamentos, chacota ou ofensas contra a mulher. Todas essas coisas são exemplos de violências obstétricas. Quase todas as complicações ocorridas durante o parto que levam ao óbito materno poderiam ter sido evitadas, caso os profissionais respeitassem as diretrizes e não praticassem esse tipo de violência em seu ambiente de trabalho.

Uma forma importante de prevenir esse problema é ter seu direito a acompanhante garantido. Estudos demonstram que mulheres que têm acompanhantes sofrem menos violência e, consequentemente, têm risco muito menor de sofrer traumas e vir a óbito por negligência médica.

Aborto clandestino

Por fim, a última causa mais comum de mortalidade materna é submissão a abortos clandestinos. Por isso, uma forma de evitar esse problema é investir recursos suficientes para prevenir gestações precoces ou indesejadas.

Para que isso seja possível a OMS (Organização Mundial da Saúde) propõe que haja investimento na educação básica de qualidade, com inclusão de conteúdos informativos sobre sexualidade, reprodução e métodos contraceptivos. O resultado desses investimentos, nos países que realizaram o mesmo, costuma ser a queda significativa de gestações precoces e de experiências de gravidez indesejadas.

Outra estratégia prevista pela organização é fazer investimentos significativos no fortalecimento de políticas públicas de saúde. Com investimento, os profissionais poderão se capacitar para atender o público de acordo com as suas necessidades. Além disso, oferecer métodos contraceptivos em unidades de saúde e espaços próximos da realidade das pessoas também ajuda nisso.

Infelizmente, a prática de fornecer métodos contraceptivos por meio do SUS não tem surtido todo o efeito esperado devido ao investimento fornecido – muito baixo. Uma série de estudos brasileiros demonstram que não raramente os serviços ficam longas semanas ou meses sem os produtos, de modo que a população fica desassistida nesse período.

Outras formas de prevenir a mortalidade materna

gestante e médico

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As formas mais simples e eficazes para prevenir a mortalidade materna já são bem conhecidas. Isso porque já faz décadas que o tema é exaustivamente pesquisado e discutido em diversos lugares do mundo. Sendo amplamente conhecido o assunto, a grande maioria (mais de 90%, de acordo com a OMS) dos casos de mortalidade materna poderiam ser evitados.

Acompanhamento de pré-natal

Realizar o acompanhamento de pré-natal adequadamente é talvez o fator mais importante quando falamos de prevenção. Isso porque é nesse período que uma série de possíveis problemas e complicações podem ser percebidos precocemente ou evitados. A recomendação é que a gestante faça ao menos 4 consultas de pré-natal. Entretanto, esta é a quantia mínima necessária. O ideal é que haja entre 5 e 7 consultas.

Ao contrário do que muitas futuras mamães acreditam, o médico obstetra não oferece necessariamente um acompanhamento melhor do que os outros profissionais capacitados. Pelo contrário, uma série de estudos no Brasil e em outros países do mundo demonstraram que a atenção fornecida pelas enfermeiras obstetras ou pelos médicos de família costuma ser melhor do que o atendimento do médico obstetra.

Isso parece acontecer porque a formação desses profissionais os prepara para ouvir a mulher e considerar a sua realidade, seus medos e etc. Com um profissional mais sensível e acessível, as mulheres se sentem mais confortáveis para fazer perguntas. Por isso, o atendimento com esses profissionais é tão eficaz (ou mais) que o acompanhamento com o obstetra.

Infelizmente, é comum que o acompanhamento seja prejudicado devido a alguns fatores. Por exemplo:

  • Pobreza
  • Distância
  • Falta de informação
  • Serviços inadequados

Durante o parto

Infelizmente, é comum que as causas da mortalidade materna tenham associação com algum acontecimento do momento do parto.

As pesquisas sobre o tema mostram que as mulheres que se comportam de uma forma que “incomoda” os médicos e profissionais do hospital podem sofrer reprimendas, negligência ou serem ignoradas pela equipe. Com uma demora maior para receber o atendimento adequado, é comum que muitas mulheres sejam vítimas de cenas traumáticas no momento do parto, de forma desnecessárias. Alguns desses casos traumáticos também levam ao óbito, ampliando as estatísticas da mortalidade materna.

Por tudo isso, é comprovado que garantir o respeito ao direito a acompanhante é uma forma de prevenir essa tragédia. Mulheres que tiveram a companhia de seu acompanhante antes, durante e depois do parto sofreram muito menos com a violência obstétrica. Os dados também mostram que essas mulheres correm muito menos risco de se tornarem vítimas da mortalidade materna.

Por isso, confirmar com a maternidade sobre o direito ao acompanhante e levar ao hospital alguém de sua escolha é uma maneira de cuidar para que a possibilidade dessa tragédia acontecer seja reduzida.

Cuidados após o parto

Cuidados após o parto

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Outra forma de prevenir a mortalidade materna é garantir que a nova mamãe tenha suporte e cuidados adequados depois do nascimento. Isso é fundamental porque boa parte dos casos de óbito acontecem depois do parto, e não antes. Um dos cuidados fundamentais é fazer o acompanhamento no serviço de saúde. Porém, para além disso, alguns estudos mostram que mulheres que sentem que têm apoio familiar e social nas primeiras semanas correm até 3 vezes menos risco de serem vítimas da mortalidade materna.

Ou seja, dar apoio para a mulher e garantir que ela consiga cuidar de si mesma (descansar, ir ao médico, se alimentar nos horários e da forma correta, etc) é uma maneira de prevenir que algo letal aconteça.

Mortalidade materna no Brasil

Uma série de estudos nacionais demonstram que as causas mais comuns de mortalidade materna no Brasil estão vinculadas à práticas de violência obstétrica e de abortos clandestinos. Assim como foi falado anteriormente, a violência obstétrica é algo que não acontece somente no momento do parto.

Por isso, garantir que o pré-natal esteja sendo feito por alguém que te olha, te escuta e considera a sua realidade e os seus medos é uma forma de cuidar não somente da gestação, mas da sua saúde também. Desse modo, fuja de médicos que fazem atendimentos de 5 minutos, que não te olham ou que não te dão abertura para você fazer perguntas e questionar os apontamentos dele.

Investimento público

A OMS, OPAS, ONU e outras instituições fornecem cartilhas, capacitações, cursos e apoio para melhorar o trabalho na saúde em diversos países do mundo, incluindo o Brasil. As pesquisas sobre o tema demonstram que, quando o Estado investe e garante que os profissionais se capacitem e reciclem o seu trabalho, toda a população é beneficiada com práticas de cuidado melhores.

Infelizmente, muitas das dificuldades do nosso país estão vinculadas à falta de investimento nessa área. É comum vermos serviços de saúde com poucos profissionais, ou com profissionais que se formaram “há séculos” e nunca foram atualizados. Também é normal que a estrutura física e os equipamentos usados pelas equipes brasileiras deixem a desejar.

Educação

Além disso, os estudos também demonstraram que uma forma adequada de garantir que as tentativas de aborto clandestinos (porque no Brasil é proibido) sejam reduzidas é trabalhar a saúde e a educação em parceria. De acordo com os especialistas, jovens que recebem educação sobre sexualidade desde cedo correm quase 15 vezes menos riscos de virem a engravidar (as mulheres) ou engravidar uma parceira (os homens).

É preciso que essa educação seja informativa, que as crianças possam ter espaço para tirarem dúvidas e que tanto as meninas quanto os meninos tenham consciência das suas responsabilidades. Isso porque alguns estudos brasileiros mostraram que o fator “ter sido abandonada pelo namorado” foi uma das razões mais importantes entre jovens que já fizeram algum aborto.

Os especialistas relatam que quando as pessoas têm acesso a métodos anticonceptivos adequados, informações seguras e espaços de acolhimento para se dirigirem quando necessário as chances de gestações indesejadas acontecerem é significativa reduzido. Para isso, entretanto, é preciso que haja não somente iniciativas individuais de cuidados consigo mesma, mas também investimento do Estado como responsável pelo bem-estar social da população.

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