Sharenting é um fenômeno recente, mas que tomou imensas proporções entre famílias com crianças pequenas na atualidade. O termo diz respeito ao uso excessivo de redes sociais pelos pais e familiares para compartilhar conteúdos associados aos pequenos.
Os conteúdos compartilhados são os mais diversos, desde fotos e vídeos até textos com relatos sobre as atividades da criança e o dia a dia. Sharenting é um conceito cunhado em 2012 e ele mescla dois termos: “share” (que significa compartilhar) e “parenting” (que está ligado a noção de parentalidade, ou seja, a função de pai e mãe).
O termo foi desenvolvido junto com o advento das mídias sociais porque foi através dela que ficou muito mais fácil compartilhar fotos, histórias e vídeos das crianças (o que antes ficava “guardado” no círculo privado das famílias). Ou seja, sharenting está associado com o conceito de “muita informação” (ou com a noção de “hiper exposição“).
A verdade é que nunca foi tão fácil compartilhar coisas sobre os pequenos. Mas esse comportamento pode apresentar uma série de riscos para a criança. Além disso, o sharenting também pode prejudicar os adultos envolvidos, que podem estar ferindo o direito a privacidade das crianças (e colocando sua segurança em risco), mesmo sem querer.
Veja neste artigo quais os possíveis problemas e consequências da hiper exposição das crianças nas mídias sociais. E, por fim, veja algumas dicas de como manter suas publicações fofas sobre o pequeno nas mídias sem colocar você mesma e ele em risco. Boa leitura!
Sharenting: A superexposição de crianças nas redes sociais
Pai e Filho – Foto: FreePik
Pesquisa apresentada no ano de 2018 demonstrou que uma busca simples no Instagram com uma hashtag envolvendo o termo “bebe” traz como resultado mais de meio milhão de imagens de crianças. Destaca-se aqui que este levantamento inicial incluiu apenas uma hashtag, uma mídia social e perfis brasileiros.
As imagens obtidas através desse pequeno levantamento trouxeram milhares de crianças nas mais diversas situações: na cama, no banho, brincando na escola, passeando no carrinho, na praia, aprendendo a falar e a caminhar, e etc. Todas elas são fotos públicas e, portanto, estão disponíveis para qualquer um encontrar.
No primeiro momento, as fotos podem ser consideradas inocentes. Isso porque elas são publicadas quase que exclusivamente pelos pais/tutores/responsáveis da criança que desejam somente dividir com seus seguidores alguns momentos da vida de seus filhos.
Entretanto, expor as crianças dessa forma em um ambiente ainda considerado “terra sem lei” (como a Internet) pode acarretar uma série de problemas para os adultos e, principalmente para as crianças. Por isso, o termo sharenting foi desenvolvido: para auxiliar na reflexão sobre o tema.
Veja quais são os riscos mais comuns que as crianças costumam estarem sendo expostas nestes casos. Lembrando que esses riscos ocorrem mesmo quando os pais nem sonham com isso.
Riscos do sharenting
Mãe em rede social – Foto: FreePik
Os problemas da exposição dos filhos nas mídias sociais começa quando se percebe que este conteúdo fica exposto na Internet por tempo indefinido. Isso porque essas mesmas publicações que hoje adquirem likes, comentários e compartilhamentos no futuro poderão desagradar, constranger e até mesmo facilitar o bullying com seus filhos, quando eles estiverem mais velhos.
Aquele vídeo fofinho e bonitinho da criança caindo ao tentar aprender a caminhar pode não ser nada “bonitinho” para a criança em questão. Mais que isso: estes conteúdos podem acarretar sérios traumas para a criança, uma vez que podem servir de suporte para que ela sofra bullying na escola.
Ademais, estes conteúdos podem servir para fins diversos, uma vez que elas são públicas e qualquer pessoa pode acessar as informações. Os dois exemplos mais comuns do destino que a sharenting pode acarretar é o uso de vídeos e imagens para pornografia infantil e o uso das informações para roubo de identidade.
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Roubo de identidade e fraude na Internet através de sharenting
O problema mais comum normalmente associado com o sharenting é justamente as fraudes e o roubo de identidade das crianças.
As fraudes costumam acontecer devido a imensidão de fotos e de informações que é possível obter de forma Online de uma criança e família. As crianças são vistas como alvo em potencial porque elas costumam passar muitos anos (toda a sua infância) sem precisarem efetivamente de certos documentos.
É possível, por exemplo, fazer pedidos de abertura de conta bancária ou crédito financiado através de informações acessadas virtualmente. E adivinhe só: levará muito tempo para a família descobrir isso, uma vez que a criança não costuma precisar mexer nos seus documentos com recorrência.
Chefes de segurança de bancos pedem que os pais e tutores sejam mais cautelosos com as configurações de privacidade das suas redes. Eles também relembram que nunca foi tão fácil adquirir informações-chave nas redes sociais, por exemplo:
- Nome
- Idade
- Local de nascimento
- Nome dos pais
- Cidade de moradia
Por isso, os especialistas no assunto pedem que as famílias sejam mais responsáveis e cuidem o que estão publicando e qual o público que pode acessar essa informação. Entretanto, o roubo de identidade e as fraudes estão longe de serem o único problema do sharenting.
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Outros riscos do sharenting
Avô com a criança – Foto: FreePik
Além das fraudes, a exposição excessiva de informações sobre a criança pode acarretar outros sérios problemas para seu filho. Alguns dos mais comuns são, por exemplo:
Perda de privacidade
Não raramente, filhos que chegam na pré-adolescência ou na adolescência apresentam traumas, desagrado e problemas sério de relacionamento com os pais/responsáveis que invadiram significativamente suas privacidades ao longo da infância. Isso acontece porque, ainda que não seja essa a intenção, a criança perde totalmente a sua privacidade quando vê toda sua vida exposta aos estranhos que habitam na Internet.
Aqui vale lembrar que as crianças tem os mesmos direitos constitucionais que os adultos e, dentre eles, há o direito a privacidade. Portanto, legalmente pode ser considerado crime a exposição de conteúdos excessivos sobre os filhos sem o seu consentimento (ainda que as crianças não abram processos formais e judiciais contra os adultos pelo fato).
Naturalmente que há um equilíbrio necessário. Isso não quer dizer que os adultos não poderão publicar mais nada sobre os pequenos. Isso significa, na verdade, que é importante apenas ter uma maior reflexão e análise sobre o que será compartilhado (e com quem).
As taxas de adolescentes que chegam em consultórios psicológicos para tratamento por dificuldades de se relacionar com os pais aumenta a cada ano. Infelizmente, o número desses adolescentes que apresentam sofrimento grave pelos pais não conseguirem respeitar o espaço e a privacidade dos filhos também aumenta anualmente.
Ao que tudo indica, há uma dificuldade muito grande dos pais verem o filho como uma pessoa separada, como um ser independente e que, portanto, não é uma extensão de si.
Cyberbullying e Grooming
Ainda que esse esteja longe (bem longe!) de ser o objetivo das famílias, com o sharenting os pais acabam facilitando o cyberbullying de seus filhos. Isso porque as famílias estão expondo de forma descontrolada o acesso a diversas informações das famílias, dos adultos e das crianças.
Além disso, o grooming também acaba por ser facilitada devido a essa exposição exagerada dos filhos nas mídias sociais. Isso acontece porque o termo se refere ao assédio ocorrido particularmente na Internet. Ou seja, as informações fornecidas pelos adultos pode facilitar que um adulto tenha acesso facilitado ao seu filho.
O que pode favorecer o aliciamento de menores para situações de assédio virtual e, em alguma medida, para transposição das mídias (chegando a possibilidade de encontros presenciais). Portanto, é cada vez mais fácil obter dados que podem favorecer o assédio e a intimidação online.
Fins sexuais
Assim como mencionado no item anterior, o sharenting pode facilitar o uso das informações de seus filhos para fins sexuais. Ainda que o grooming comece com contatos virtuais, são muitos os casos de crianças e adolescentes que se tornaram vítimas sexuais de “caçadores virtuais”.
A verdade é que os conteúdos excessivos compartilhados pelos adultos podem se desdobrar nos fins mais horríveis para as crianças. Isso porque qualquer um pode acessar os dados e transformar eles. Mensagens sexuais podem ser enviadas através das redes e o conteúdo fornecido pelos adultos sobre seus filhos pode “enriquecer” elas, por exemplo.
Direito a privacidade em tempos de rede social
Criança com tablet – Foto: FreePik
Um grupo de advogadas e pesquisadoras sobre o tema da Universidade da Flórida acreditam que a dificuldade de encontrar um ponto de equilíbrio na prática do sharenting ocorre porque o problema ainda é muito recente. Apesar disso, há alguns conteúdos já publicados pelo grupo da faculdade.
De modo geral, são reflexões que analisam a tensão entre o direito dos pais de publicarem conteúdos de seus filhos e o direito das crianças a privacidade e a definição de sua própria identidade digital. Steinberg, uma das pesquisadoras sobre o tema, relata que “Quando os pais dividem informações sobre seus filhos na internet, eles o fazem sem o consentimento da criança. Esses pais agem como guardiões/protetores da história pessoal da criança e, ao mesmo tempo, como narradores/divulgadores da vida dela. Esse papel duplo na definição da identidade digital do filho deixa a criança desprotegida”.
Legislação para regular sharenting?
A advogada acredita que a criação de leis específicas sobre o tema pode ajudar a regular essa questão. Isso porque as leis podem servir para definir o “direito ao esquecimento“. Esse “novo direito” parece se tornar necessário porque as crianças estão nascendo na era digital, onde as pessoas conhecem tudo sobre elas desde a gestação e o parto até depois de nascidas.
Entretanto, é importantíssimo salientar que deve caber aos próprios pais a definição do que, quando e como compartilhar os conteúdos de seus filhos. As especialistas contam que “mesmo os pais mais bem intencionados não têm a orientação necessária para tomar decisões sobre o compartilhamento digital. Alguns sequer reconhecem os conflitos que vêm da prática do ‘sharenting’”.
Portanto, parece faltar um debate que seja mais amplo, público e democrático sobre o assunto. Esses debates precisam levar em conta os limites sobre o direito ao compartilhamento e também o direito a privacidade das crianças. Lembrando que, assim como apresentado anteriormente, os riscos e os traumas gerados pela dificuldade dos pais levarem em conta o direito dos próprios filhos cresce a cada ano que passa.
Onde está o equilíbrio?
irmãos com tablet – Foto: FreePik
É cada vez mais importante que os adultos consigam fazer o exercício de analisarem até onde eles podem ir e a partir de onde eles poderão estar prejudicando as crianças (ainda que eles não tenham essa intenção, é claro). Entretanto, nem sempre é fácil encontrar esse equilíbrio.
Na verdade, o assunto é particularmente difícil de ser analisado quando percebemos que além de novo, ele ainda é um tema que os adultos tem grande dificuldade de encararem. De modo geral, essa dificuldade está associada a resistência de admitirem que há algo que eles fazem que podem ter efeitos negativos sobre a criança (ainda que eles saibam que sua intenção não era essa).
Ademais, é fundamental que os pais e responsáveis se esforcem para servir de exemplo aos pequenos. E isso vale também para “ensinar” sobre o uso moderado das mídias sociais. Assim como todo pai e mãe precisa refletir sobre a escola que a criança estudará, o quanto a criança pode brincar na rua e outras tantas decisões, eles também precisam refletir sobre o tema. O sharenting é mais uma peça do grande quebra-cabeça da parentalidade.
Estudo britânico
Estudo publicado em 2017 com pais de crianças britânicas demonstrou que os adultos costumavam compartilhar cerca de 195 fotos dos seus filhos nas redes sociais por ano. Isso quer dizer que quando o pequeno fechasse 5 anos de idade, ele já teria cerca de mil fotos suas postadas na Internet sem qualquer consentimento (e reflexão, muitas vezes).
Não a toa, os estudiosos mencionam nos artigos sobre o tema que esta é a geração mais observada de toda a história da humanidade. Schmueli e Blecher-Prigat, os pesquisadores sobre privacidade infantil, alertaram também sobre a importância de dar voz aos pequenos. Ou seja, sobre a necessidade de pedir autorização para eles antes de fazer qualquer publicação os expondo.
Sobre a realidade brasileira
Assim como mencionado pelas advogadas e pesquisadoras estadunidenses e britânicas, no Brasil também falta uma maior conscientização sobre o tema. A advogada Isabella Henriques representa o Instituto Alana – que é especialista na área de educação infantil – e concorda que sociedade e famílias precisam aprofundar a discussão sobre os limites do sharenting.
Henriques acredita que a discussão sobre o direito a privacidade na Internet e nas redes sociais já se aprofundou bastante. Afinal, vale lembrar que hoje já temos o Marco Civil da Internet, que é um conjunto de leis que regulam o uso da Internet no país. O Marco faz uso da previsão de uma série de princípios, garantias, direitos e deveres para regular a utilização Online.
Entretanto, a advogada também revela que muito pouco se fala sobre o universo infantil nesse contexto. E esse é um problema seríssimo na medida em que atualmente as crianças estão deixando suas pegadas digitais desde antes de nascerem. Isso acontece porque as famílias estão utilizando um espaço atemporal, como a Internet, para deixarem registros sobre a descoberta da gravidez, a experiencia da gestação, o momento do parto e toda experiencia da criança desde seu nascimento.
É necessário analisarmos de que forma os adolescentes e adultos lidarão com toda essa exposição de suas vidas (e quais as consequências disso sobre seu desenvolvimento).
Pegada digital
Pegadas na Areia – Foto: FreePik
Isabella Henriques também lembra que o artigo 227 da Constituição Federal (1988) dá “prioridade absoluta” a garantia de direitos de crianças e adolescentes. Isso quer dizer que é regulado constitucionalmente a aplicação da garantia de direitos das crianças e jovens sobre sua exposição na Internet.
E vale destacar que isso vale mesmo para os casos onde a pessoa que supostamente está violando o direito seja seu tutor legal, como o pai, mãe ou responsável pela criança. É direito da criança ter sua pegada digital preservada até que tenha condições de opinar sobre o assunto.
Para aqueles que não conhecem o conceito: pegada digital são os traços (por exemplo: fotos, textos, vídeos e qualquer informação pessoal) deixados na Internet que viram ou podem virar públicos.
Inclusive, a advogada revela que não são somente os conteúdos publicados pelas famílias que podem se tornar um problema. Isso porque as escolas estão começando a usar ferramentas digitais para guardar dados sobre seus alunos. E isso também gera uma pegada digital. Agora, parem um momento para analisar as possíveis consequências disso para o futuro de seu filho.
Se não houver uma legislação que regulamente a situação, é possível os dados permaneçam disponíveis a qualquer um e a qualquer momento. Você gostaria que seu filho estivesse tendo toda a sua vida revirada do avesso ao concorrer a uma vaga de emprego, bolsa de estudos ou concurso público?
Culpabilização x Responsabilização
Entretanto, a análise dos efeitos e das possíveis consequências do sharenting não deve de forma alguma se tornar uma ferramenta para culpabilizar os pais, familiares e adultos que praticam esse compartilhamento excessivo de informações. A polarização e a culpabilização das famílias não terá nenhum efeito positivo sobre o cenário.
Na verdade, é possível que esse posicionamento julgador atrapalhe ainda mais a situação. Isso porque os adultos envolvidos podem se fechar para o diálogo e simplesmente passarem a negar que seus comportamentos tenham qualquer efeito negativo sobre o futuro da criança e sobre o seu desenvolvimento. Isso pode acontecer como um mecanismo de defesa, ou seja, como uma forma deles negarem a sua responsabilidade sobre o assunto.
A verdade é que todos ainda estamos aprendendo sobre os limites do uso de redes sociais. Pare um momento e pense: desde o mundo é mundo as pessoas se reproduzem através do sexo e da gestação e parto. Entretanto, já passamos por uma série de experiencias diversas de cuidados com crianças.
As famílias nem sempre foram centradas no modelo (hoje já em decadência) de pai, mãe e crianças. As tribos indígenas onde as crianças são cuidadas por todo o grupo é só o exemplo mais recente de um modelo diferente.
Se estamos vivendo com esse modelo de família há alguns séculos e ainda temos inúmeras dificuldades, medos e receios sobre as “melhores formas de sermos pais e mães”, como poderíamos cobrar que as famílias conheçam exatamente os limites sobre o uso da Internet, que é algo que surgiu em nosso dia a dia há poucos anos?
Etiqueta nas redes sociais
Evidentemente, as famílias que exageram com o sharenting não o fazem “por mal”. Inclusive, não raramente esse exagero na publicação de informações está associado com uma tentativa de demonstrar o seu amor e o seu orgulho. Ou seja, é uma forma de mostrar “olha como meu filho é lindo”, “olha que inteligente que ele é”, “olha como ele consegue fazer isso e aprender aquilo rápido” e etc.
Efetivamente, estamos todos aprendendo sobre a nova etiqueta social, que inclui consumir e utilizar adequadamente as mídias sociais.
Sobre o poder da decisão e o consentimento
Criança celular na mão – Foto: FreePik
Essa polêmica envolvendo o fenômeno sharenting pode ser muito proveitoso para as famílias ensinarem sobre privacidade e sobre consentimento para as crianças. Para isso, é muito importante que a criança seja incluída no processo de decisão sobre o que será e o que não será publicado.
Trazer as crianças para a tomada de decisão ajuda a refletir sobre o tema e também permite que a criança aprenda que ela tem voz ativa e que seu desejo é respeitado quando falamos sobre algo que reflete em sua vida (e seu corpo). Ou seja, é uma excelente oportunidade de fazê-las começar a entender sobre a importância do consentimento. Afinal, se nem os pais (que são seus tutores) têm o direito de fazer algo com o corpo delas sem seu consentimento (como compartilhar fotos dela), então ninguém tem esse direito.
Que modelo estamos fornecendo para as crianças?
Pare por um minuto e pense na seguinte questão: qual modelo estamos dando para as crianças sobre o uso das redes sociais?
É claro que é importante que os pais possam refletir sobre o uso das redes sociais por parte das crianças, assim como o tempo que eles gastam no computador, celular e etc. É necessário que alguns limites sejam estabelecidos nesse sentido. Entretanto, também é importante que os tutores olhem para si mesmos e pensem: mas afinal, o que o meu comportamento está ensinando para ele?
O mais indicado é pedir autorização para seu filho antes de publicar qualquer foto ou vídeo. E é claro que a conversa pode variar bastante, dependendo da idade da criança. Por exemplo, com um adolescente de 12, 14 ou 16 anos você pode perguntar diretamente “tudo bem se eu publicar isso?”. Entretanto, com uma criança menor talvez seja necessário ter um diálogo mais didático.
Uma forma simples é iniciar perguntando se a foto/vídeo pode ser enviado para uma pessoa conhecida dela (por exemplo: a tia Ana, o avô Pedro ou a vizinha Joana). Dependendo da reação da criança, você pode avançar na conversa para ver até onde ela não se sente incomodada com a exposição da mídia (ou onde está o limite, que não deve ser ultrapassado por você, por mais tentador que seja).
Essa é uma bela forma de ensinar para a criança sobre o direito que ela tem sobre sua imagem e sobre seu corpo. Afinal, somente ela pode decidir o que, quando e como suas fotos serão compartilhadas.
Cuidados e precauções
Bebê no computador – Foto: FreePik
Uma boa forma de medir o que é ou não é adequado de ir para as redes sociais é analisar o impacto dessa mídia na Internet. Para isso, pode ser interessante pensar o seguinte: tudo que você não gostaria ou que você desconfia que seu filho não gostaria de ver na parede do elevador do prédio ou na entrada da escola não deve ir para a Internet.
Essa reflexão é bastante útil porque a Internet é uma espécie de praça pública pós-moderna. O que significa que mesmo com todos os cuidados sobre filtros de privacidade, há sempre a possibilidade de algo “vazar” (por exemplo, quando uma pessoa com permissão de ver seus conteúdos faz um print e compartilha de forma pública).
Recomendações sobre a exposição de crianças nas mídias sociais
- Conhecer as políticas de privacidade de sites e redes, para poder escolher com qual público você quer compartilhar (em geral ou só amigos, por exemplo);
- Registrar-se para receber notificações (por exemplo, do Google) sobre o que é publicado;
- Pensar quando é o caso de postar anonimamente. Por exemplo, buscar fóruns onde seja possível fazer perguntas de forma anônima se você precisar tirar dúvida sobre um quadro médico que a criança pode se constranger no futuro
- Não compartilhar a localização da sua família nas fotos e vídeos publicados;
- Dar às crianças maiores o poder de vetar o que elas não quiserem que você publique sobre elas, tanto por respeito a elas como para ensinar-lhes a importância do consentimento e de bons modos nas redes sociais;
- Não publicar imagens de crianças nuas, seminuas, se “comportando mal” (por exemplo: fazendo birra) ou em qualquer situação possivelmente constrangedora;
- Sempre pensar no bem-estar futuro das crianças e como elas se sentirão, mais tarde, ao verem aquela publicação.
Essas sete dicas podem servir de suporte para os pais que estão preocupados com o fenômeno de sharenting. Aliás, parabéns por se preocuparem com isso!
Por fim, há algumas perguntas que também poderão ajudar vocês a aprenderem a estabelecer limites nesse tema. Pense um pouco sobre essas questões quando estiver pensando em compartilhar algo: Quanto você compartilha na Internet sobre a vida dos seus filhos? Para quê/Por quê/Com qual objetivo você publica questões sobre os seus filhos nas redes? Com quem você compartilha as informações sobre eles?
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