O parto normal é assunto ainda cheio de mitos e de mistérios, que gera inquietação e medo em mulheres do mundo todo. Isso é super normal, principalmente quando nos deparamos com histórias mirabolantes de pessoas que tiveram experiências negativas no passado.
No entanto, é sempre importante lembrarmos que a ciência avança a cada dia, e que a cada dia descobrimos novos benefícios do parto normal. Tanto a mãe quanto o bebê são beneficiados quando o nascimento ocorre através do parto normal. E vale lembrar também que hoje temos estratégias para alívio da dor e protocolos que melhoram a experiência de parto.
Receber a confirmação da gestação é algo muito impactante, independente deste bebê ser planejado ou não. É certo que esta notícia vai mudar a vida da mulher de alguma forma. Mas é muito comum que logo após noticiar a novidade para as pessoas próximas, as futuras mamães comecem a pensar sobre tudo que precisam planejar. E essa preocupação é muito importante, porque são muitas coisas a serem organizadas mesmo!
Para aliviar a tensão, o estresse e os medos é bem importante que você possa conversar abertamente sobre seus medos com o obstetra. Isso porque é ele que vai te acompanhar durante toda a gestação e vai estar presente no momento do parto. Por isso, escolha com cuidado o seu obstetra e aposte naquele profissional que se mostrar atencioso e acolhedor com você. Então, não esqueça de fazer o pré-natal e de se informar sobre os benefícios e os riscos de cada tipo de parto, para tomar sua decisão.
Neste artigo você vai saber mais sobre o parto normal, e vai entender porque ele amedronta tantas mulheres. Veja neste conteúdo algumas das ideias mais difundidas sobre o parto normal e descubra quais delas são verdadeiras e quais são mitos. Ah, e detalhe: todas as informações deste artigo são baseadas em pronunciamentos e entrevistas de obstetras, e também em artigos científicos recentes sobre o tema. Então, boa leitura!
Mitos e verdades sobre o parto normal
Gestante em hospital em trabalho de parto com acompanhante – Crédito da foto: Freepik
É provável que hajam poucos assuntos que gerem tantos receios e que tenham tantos mitos e tabus quanto o tema parto. Basta você anunciar que esta grávida para começar a ouvir todo tipo de história que as pessoas conhecem ou já ouviram falar. E cada história parece mais aterrorizante que a outra, não é? Por exemplo, algumas histórias muito comuns são:
- Bebês que morrem por diversas razões diferentes nas barrigas da mães
- Partos problemáticos que fazem o bebê nascer com paralisia cerebral
- Líquido amniótico que seca
- Cordão em volta do pescoço do bebê que o faz sufocar
- Bebês que morrem durante o trabalho de parto
Basta anunciarmos a gravidez que a vizinha, a tia da avó, a colega de trabalho, a manicure, a prima do marido e tantas outras mulheres vêm nos contar todas estas e tantas outras histórias, não é? Mas calma! Boa parte das histórias contadas nestes casos jamais ocorreram (ou, pelo menos, não foram como a história conta) e mesmo aquelas que parecem ter um plano de fundo de verdade costumam se tratar de casos raríssimos ou de situações que ocorriam há muitos e muitos anos, muito antes de termos toda a tecnologia e conhecimento que temos hoje. Ainda bem, a civilização evoluiu muito.
O que estas história terríveis nos contam?
O que parece estar por trás destas narrativas é uma ideia antiga: que as “mulheres de hoje” não são capazes de parir seus filhos. Ou seja, é uma ideia de que as mulheres de hoje não têm as mesmas aptidões e capacidades de gestar e dar à luz como antigamente. Mas, será que é verdade? Será que passar pelo trabalho de parto é algo perigoso mesmo? Será que é algo antiquado?
Se este fosse o caso, provavelmente todas nós teríamos nascido paraplégicas e nossos ancestrais teriam diversas anomalias, não? Ou então, nossa espécie teria sido extinguida.
A verdade é que nossa espécie faz parte da natureza. Portanto, nosso funcionamento “natural” é tão sábio quanto o resto da natureza é. O parto normal é até hoje considerado pela ciência e pelos especialistas a forma mais segura e mais adequada de dar à luz. Isso porque é o método que traz mais benefícios para a mãe e para o bebê.
Veja agora 23 ideias super populares sobre o parto e descubra quais delas são verdadeiras e quais delas são mitos sem fundamentos na realidade.
1. O parto normal é a melhor opção para o bebê
Gestante em maternidade se preparando para parto normal – Crédito da foto: Freepik
Verdade.
Se estiver tudo bem com a mãe e com o feto, o parto normal é a melhor indicação. Os especialistas sempre lembram que a passagem do bebê pelo canal vaginal da mãe prepara seus pulmões e seu corpo para o ambiente externo. É nesta passagem que o bebê vai ter contato com algumas bactérias que vão o ajudar a lidar e prevenir de várias doenças tanto na infância quanto ao longo da vida. Por exemplo, bebês que nascem naturalmente têm menos riscos de desenvolverem diabetes e asma, assim como várias outras doenças – em especial associadas à problemas respiratórios.
Muito diferente da cesárea agendada, no parto normal é o bebê quem diz o momento do nascimento acontecer. Assim, ele vem ao mundo somente quando está realmente pronto e maduro o suficiente – e não quando adultos decidem que é o “melhor momento”. Diversos especialistas lembram que o “melhor momento” é o momento dele, quando ele estiver preparado.
2. Depois de fazer cesárea uma vez a mulher não poderá mais dar à luz naturalmente
Mito.
Este é talvez um dos mitos mais populares sobre o tema. Inclusive, há uma quantia significativa de médicos cesaristas que utilizam este argumento de forma arbitrária, como justificativa para a indicação de cesárea. Mas a verdade é que mulheres que passaram por uma cesárea podem, sim, dar à luz via parto normal ao seu segundo filho.
A recomendação do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia é que haja restrição de parto normal apenas no caso de mulheres que passaram por 3 ou mais cesáreas. Nestes casos há maior risco, realmente. Isso porque as chances de haver o rompimento uterino é maior. Ginecologistas do Hospital de Clínicas da USP pontuam que o corte feito no útero durante a cesárea é realizado em uma região sensível. Por isso, é possível que haja uma ruptura e há risco de hemorragia que pode levar a mãe e o bebê à óbito. Mas este risco é significativo somente em casos onde há muitas cesáreas em sequência, e não somente uma.
Os especialistas contam que mulheres que passaram por uma cesárea podem ter um parto normal tão seguro quanto aquelas que estão em primeira viagem. Por isso, se você passou por uma cesárea e quer experimentar o parto normal, a indicação que estes especialistas dão é de conversar sobre o assunto com seu obstetra. A recomendação da equipe é ter um intervalo de dois anos ou mais entre a cesárea e o parto normal, pois assim a cicatriz poderá estar bem forte.
3. A episiotomia acontece em todo parto normal
Cirurgiões usando lupas cirurgicas. Foto: Freepik
Mito.
Assim como o mito anterior, este também está entre os mais populares e difundidos entre as mulheres. Infelizmente, a episiotomia no Brasil foi muito mais utilizada do que o necessário, de uma forma rotineira e sem critérios técnicos. Mas não, ela não é algo obrigatório em partos normais.
Para aquelas que não sabem: a episiotomia é um corte feito na região do períneo (entre a vagina e o ânus). O objetivo deste corte é aumentar a abertura para saída do bebê, facilitando o parto em mulheres que não tem o perfil elástico necessário. Este corte pode ser muito importante, pois ele garante que o bebê venha ao mundo sem lesar órgãos da mãe, como a bexiga. Mas os casos em que há necessidade de episiotomia são raros.
Na verdade, quando a mulher fez ao longo da gestação um bom trabalho no períneo (normalmente através de fisioterapia) é quase inexistente a chance dela necessitar deste procedimento no momento do parto. Infelizmente, até a década de 70 este procedimento era utilizado de forma rotineira e sem qualquer questionamento. Apenas entre a década de 70 e 80 que as mulheres começaram a questionar sua frequência. É claro que ainda levou-se um tempo para que a técnica fosse deixada em segundo plano e deixasse de ser usada rotineiramente.
Quando a episiotomia é necessária?
Os médicos relembram que a episiotomia não deve ser utilizada de forma rotineira, mas também não pode ser demonizada. A episiotomia é recomendada quando o obstetra perceber que não haverá espaço para o bebê passar por conta da musculatura da pelve da mulher. Nestes casos, é possível que haja rupturas locais. Por isso, a episiotomia é indicada para casos onde o bebê não conseguiria sair sem o corte – sem lesar a mulher.
Nestes casos onde há indicação clínica, a episiotomia pode salvar a vida do bebê e garantir que a mulher terá menos lesões. Isso porque a musculatura da mulher já seria rasgada de qualquer jeito pela saída do bebê. O problema da episiotomia reside no fato de que por muito tempo esta técnica foi utilizada sem que fosse necessário, apenas para acelerar o trabalho de parto.
4. O parto normal dói muito
Depende.
Esta resposta depende muito, pois cada mulher tem um nível de tolerância à dor muito particular e pessoal. E é claro que o fator psicológico interfere significativamente na experiência de dor que cada mulher vai enfrentar. Inclusive, muitos estudos já demonstraram que a experiência de dor está associado com os medos e com as histórias que ouviu. Por isso, o nível de dor que a mulher sentirá está associado com os medos que ela tem, com o que já ouviu falar sobre o assunto e com suas expectativas. Então, a dor é algo super variável.
No entanto, o que os especialistas percebem é que a dor sentida no trabalho de parto costuma ser algo suportável e esquecível após o nascimento. E isso se torna ainda mais simples na atualidade, onde contamos com inúmeras estratégias diferentes para alívio de dor.
E quando é possível utilizar remédios para alívio de dor?
Bem, esta é uma questão que divide opiniões, mesmo entre a equipe de especialistas. A primeira questão é se certificar se a mulher quer ou não receber anestesia. Isso porque é possível passar pelo parto normal sem anestesia, e este é um direito da mulher, se ela assim desejar.
É mito a ideia de que é necessário um mínimo de dilatação para a realização da anestesia. Mesmo antes da dilatação iniciar, é possível aplicar a anestesia, caso a mulher deseje. Infelizmente, alguns médicos não ofertam esta alternativa para alívio de dor até que a mulher esteja nas fases finais do trabalho de parto. Mas esta é uma prática negligente e até mesmo ilegal, tendo vista que há prerrogativas legais que garantem à mulher o seu direito a anestesia a qualquer momento do trabalho de parto.
Além disso, existem também algumas alternativas naturais que ajudam no alívio de dor, para aquelas mulheres que não querem utilizar a anestesia. Por exemplo:
- Massagens
- Água quente
- Caminhadas
- Mudança de posição
- Conversar e receber atenção de pessoas queridas
5. Fazer exercícios físicos durante a gestação ajuda no trabalho de parto
Gestante fazendo atividades físicas – Crédito da foto: Freepik
Verdade.
Fazer atividades físicas durante a gestação traz uma série importante de benefícios para a saúde da futura mamãe. Consequentemente, fazer atividades físicas também ajuda no desenvolvimento do bebê (que depende da saúde da mulher pra crescer saudável). Mas é importante sempre lembrar que a gestante não deve lidar com exageros e excessos. Por isso, é importantíssimo seguir as recomendações do médico.
Manter uma estrutura adequada de ganho de peso durante a gestação ajuda muito, assim como fazer atividades que melhorem a flexibilidade. Estar atenta a práticas que possam contribuir para a abertura óssea e que ajudem a mulher a ficar na posição de parto sem ter muitas câimbras também é bem importante. Além disso, alguns especialistas mencionam que mulheres que fazem fisioterapia do assoalho pélvico passam por um trabalho de parto mais tranquilo.
O trabalho de parto é algo que vai exigir paciência e força da mulher. Por isso, a atividade é super indicada – porque ela ajuda a mulher a ter melhor condicionamento físico e a fazer força com mais facilidade. Muitos especialistas lembram também que deixar o sedentarismo de lado e fazer atividades físicas é algo que pode contribuir inclusive para que os riscos de passar pela episiotomia sejam reduzidos. Isso porque as mulheres que praticam alguma atividade consegue reduzir os riscos de sofrer com lacerações no trabalho de parto.
6. É mais difícil para mulheres que passaram por parto normal voltarem a vida sexual porque o canal vaginal fica largo
Mito.
Aqui também encontramos um dos mitos mais populares e mais difundidos como verdade, mas que é uma mentira. A mulher que passa pelo trabalho de parto e pelo parto normal não fica com o canal vaginal largo e não demoram mais para retomar a vida sexual ativa. Ao contrário disso, a musculatura da vagina é elástica e foi feita para dar conta do nascimento, isso faz parte da natureza. Então, a musculatura volta ao normal logo após o nascimento do bebê.
A quarentena (recomendação de que a mulher fique 40 dias sem relações sexuais após o parto) é uma orientação feita para todos os tipos de parto, e não é específico ao parto normal. Esta recomendação ocorre como um cuidado para reduzir os riscos de ocorrer alguma infecção. Na verdade, mulheres que passaram por cesárea tendem a demorar mais e ter mais dificuldade de retomar a vida sexual. Isso porque elas precisarão enfrentar a cicatrização dos pontos e o pós operatório, o que quem passa por parto normal não vive.
É claro que é possível que ocorra o rompimento das fibras musculares. Aí, sim, é possível que a mulher enfrente algum problema na vida sexual. Mas isso é uma exceção, e é raríssimo. A maioria das mulheres que atravessam o parto normal voltam a ter uma vida sexual ativa normalmente.
7. O leite materno desce mais rápido depois do parto normal
Mulher amamentando bebê em quarto – Crédito da foto: Freepik
Verdade.
Não é uma regra, mas é muito comum que o leite materno realmente desça mais rapidamente após um parto normal do que após uma cesárea. Isso acontece porque entrar no trabalho de parto é justamente um dos fatores que mais interferem para a descida do leite.
O trabalho de parto inicia quando o bebê está pronto, e quando o corpo da mulher também está. Então, há uma questão hormonal que ocorre e que desencadeia tanto o trabalho de parto quanto a liberação do leite. Além disso, os especialistas também apontam que o contato pele com pele entre mãe e recém nascido também influencia na questão. Isso porque o bebê nasce e é colocado em contato com a mãe, então ele pode se dirigir ao seio para mamar. O contato com o bebê e seu estímulo na mama da mulher ajudam a lactação.
Mulheres que deram à luz através de uma cesárea agendada costumam demorar muito mais para conseguir a liberação do leite. Isso porque seu corpo não estava pronto para aquilo e não foi “informado” que estava na hora de liberar o leite (esta “notificação” acontece justamente quando o corpo começa a entrar em trabalho de parto). Ou seja, mulheres que iniciaram com o trabalho de parto e precisaram passar por uma cesárea de urgência não costumam ter este problema, pois elas ao menos iniciaram o trabalho de parto (que é o que vai indicar ao corpo que ele precisa liberar o leite).
8. Depois do parto normal, a mãe tende a se recuperar mais rápido do que na cesárea
Verdade.
De modo geral, mulheres que tiveram parto normal conseguem se recuperar e retomar sua vida mais rapidamente e mais facilmente. Isso acontece porque a experiência de parto normal propicia que a mulher retome suas atividades mais rápido, e isso faz seu corpo e sua musculatura trabalhar mais. Por isso, até o peso ganho durante a gestação é perdido mais facilmente quando o parto foi natural.
No entanto, mulheres que deram à luz através de cesárea tendem a ter muito, mas muito mais dificuldade nesse sentido. Isso porque elas vão demorar muito mais para poderem retomar suas vidas, devido a todas as limitações impostas pelos cuidados pós cirúrgicos.
Além disso, os especialistas também relembram que no parto normal o útero tende a contrair mais rápido. Então, as chances de ocorrer sangramentos são menores. A mulher se recupera mais rápido do parto normal porque a estrutura dos seus órgãos internos não foi alterada em nada. Quando se dá à luz naturalmente, a mulher não passa por nenhuma abertura da parede de sua barriga. Então, quando o canal de parto fecha é como se o seu organismo estivesse intacto.
9. Bebês com cordão umbilical enrolado no pescoço não podem nascer naturalmente
Bebê recém nascido dormindo – Crédito da foto: Freepik
Mito.
Certamente está é uma daquelas histórias que você já cansou de ouvir por aí (e sempre propagadas com muita segurança e em tom de verdade absoluta). Isso porque a crença de que o cordão no pescoço é impeditivo pro parto normal é algo muito popular e tradicional no Brasil.
É claro que cada caso é único e particular, mas normalmente isso não é uma contraindicação, não. Especialistas contam que em cerca de 50% das gestações há uma circular de cordão frouxa no pescoço do feto. E mesmo assim, a recomendação internacional é que apenas 10% dos partos ocorram via cesárea. Ou seja, se ter o cordão umbilical em torno do pescoço fosse impeditivo, a orientação contemplaria ao menos 50% dos nascimentos e não apenas 10%.
Os especialistas explicam que o problema existe somente nos casos onde o cordão está muito apertado ou nos casos onde há um nó. Infelizmente, muitos médicos cesaristas se utilizam deste mito para “justificar” a sua escolha pela cesárea, então é importante escolher um obstetra de confiança.
E mesmo não sendo impeditivo absoluto, é importante que os casos sejam analisados na sua singularidade. Inclusive, é recomendado que no trabalho de parto a equipe esteja olhando para esta questão. Se houver algum problema na circular que esteja afetando o bebê, os batimentos cardíacos dele vão mostrar isso. E nestes casos, a equipe poderá analisar qual a melhor solução.
10. Mulheres com quadris largos têm mais facilidade para ter o parto normal
Mito.
Tão popular quanto a questão do cordão umbilical no pescoço, muitas pessoas acham que a largura dos quadris da mulher indica se ela terá ou não condições de parir naturalmente. Mas este é mais um mito amplamente propagado. Isso porque o tamanho ou largura do quadril da mulher não interfere no trabalho de parto.
Os especialistas contam que o que faz diferença mesmo é a estrutura interna da bacia da mulher. Isso porque é possível que uma mulher tenha quadris largos, mas uma bacia apertada. Este elemento é analisado pelo médico durante o pré-natal, com os exames físicos. O que o médico costuma analisar é a distância entre um osso e outro, pois existem bacias mais abertas e fechadas. Obviamente, mulheres com bacias mais abertas terão mais facilidade no parto, e as mulheres com bacias mais fechadas podem não ter passagem suficiente para o bebê. No entanto, estes casos são avaliados individualmente pelo médico no pré-natal.
11. Bebês que estão na posição pélvica não podem vir ao mundo pelo parto normal
Bebê recém nascido – Crédito da foto: Freepik
Depende.
Esse assunto é bastante controverso, mas de modo geral os médicos optam pela cesárea. Alguns estudos recentes que analisaram o fenômeno demonstraram que há mais risco para o bebê quando o mesmo tenta nascer de parto normal e está sentado. Por isso, nestes casos a cesárea tende a ser considerada a melhor alternativa.
No entanto, há também a versão cefálica externa (VCE), que é uma manobra onde o médico tenta virar o bebê dentro do útero. Mas esta técnica não é indicada para todos os casos e exige atenção e cuidado extremos da equipe. Por isso, o mais comum é que a mulher seja encaminhada para cesárea nestes casos.
Essa é uma situação arriscada para o bebê justamente porque sua cabeça é a parte do seu corpo mais volumosa. Então, é possível que no parto pélvico saia primeiro o bumbum do bebê, depois os braços mas a cabeça não consiga sair. Por isso, este tipo de parto coloca o bebê em um risco de óbito e de fraturas.
O parto pélvico não é uma contraindicação absoluta para a possibilidade de parto normal, mas nela carrega um risco maior. Por isso, é importantíssimo conversar com o médico sobre o assunto, para que vocês possam tomar a decisão do que será feito neste caso em conjunto. Infelizmente, é relativamente comum que equipes tentem fazer a manobra VCE quando a mulher está em trabalho de parto para dar à luz naturalmente. Então, se você não desejar passar por esta experiência e quiser ser diretamente encaminhada para cesárea é importante que isso esteja claro entre você e seu obstetra.
12. A falta de dilatação é um impedimento para o parto normal
Mito.
Este também é um mito muito popular e amplamente utilizado como argumento mesmo entre médicos para realizar a indicação da cesárea. Mas os especialistas alertam que o fenômeno não impede a mulher de passar pelo parto normal.
O que costuma acontecer é que a suposta “falta de dilatação” nada mais é do que falta de paciência da equipe para esperar o tempo necessário para as contrações atuarem no colo do útero. A dilatação pode dar uma “estacionada” durante o trabalho de parto, é verdade. Mas é possível que a pressão seja retomada com a utilização de soro e medicações. Mas é claro que essa prática não deve ser utilizada rotineiramente e deve se restringir aos casos onde a dilatação está demorando muito mais que o habitual.
Os especialistas reforçam a importância de que a mulher inicie o trabalho de parto. Isso porque é comum que a mulher seja diagnosticada com “falta de dilatação” sem nem sequer ter iniciado o trabalho de parto. Naturalmente, antes do trabalho de parto todas as mulheres poderiam receber este diagnóstico. Por isso, o ideal é que a mulher entre em trabalho de parto para que ela possa ser avaliada de forma honesta.
Além disso, vale ressaltar também que não raramente esta “falta de dilatação” está associada com aspectos emocionais da mulher ou com o ambiente externo. Por exemplo, mulheres com medo ou assustadas demais tendem a ter mais dificuldade de dilatar. E ambientes externos nocivos (com ar condicionado muito forte, com o clima da equipe tenso e pressionando, e etc) também atrapalham. É responsabilidade dos profissionais compreender o que está havendo e ajudar a mulher a seguir com o trabalho de parto.
13. Bebê grande demais é um impedimento para o parto normal
Bebê chorando – Crédito da foto: Freepik
Depende.
Essa é uma questão delicada e que varia de caso a caso. Afinal, o que é “grande” e o que é “pequeno”? Esta questão do bebê ser ou não grande demais pro parto normal depende do peso do bebê e da estrutura da mãe. A avaliação dessa situação é realizada ainda no pré-natal, através do ultrassom.
O bebê pode ser grande, mas a questão é analisar se a estrutura da mãe permite o parto normal. Isso porque é normal que mulheres grandes tenham também bebês maiores. No entanto, elas são grandes e conseguem parir eles. Mas é claro que existem casos de mulheres com estrutura baixa e que é avaliado que o bebê realmente não conseguirá passar.
É preciso ter muito cuidado com esta lógica de que bebês grandes supostamente não podem nascer de parto normal. Isso porque a realidade é mais complexa e depende de mais fatores do que somente o tamanho do feto. No entanto, é verdade que bebês com mais de 4,5 kg têm mais riscos de precisarem de cesárea para o nascimento.
Vale lembrar também que essa não é uma recomendação absoluta e que a mãe precisa ser avaliada também, e não somente o peso do bebê. Então, é super importante conversar com o seu médico e tirar todas as suas dúvidas. Normalmente, o parto normal não é recomendado quando a bacia da pelve da mulher não for muito larga e o peso do bebê puder interferir muito no momento do nascimento.
14. O fórceps sempre é indicado quando houver parto normal
Mito.
Infelizmente, por muito tempo o fórceps era realmente utilizado como uma prática de rotina nos trabalhos de parto. No entanto, já faz algum tempo que o instrumento deixou de ser utilizado de forma leviana.
A verdade é que o fórceps deve ser utilizado apenas em casos de necessidade extrema. Este é um instrumento que tem como objetivo ajudar no nascimento em situações onde o bebê fica preso no canal vaginal. Quando utilizado corretamente, esta estratégia pode salvar vidas.
Ou seja, o fórceps é um instrumento que pode auxiliar o médico nos casos mais complicados. Mas é fundamental que ele seja o último recurso a ser adotado e que o obstetra discuta essa possibilidade com a paciente durante o pré-natal. Nas consultas de pré-natal a mulher deve ser informada sobre o funcionamento do fórceps e deve ter direito a tirar todas as suas dúvidas.
15. O parto normal demora mais do que a cesárea
Ampulheta em fundo preto – Crédito da foto: Freepik
Verdade.
A cesárea é realmente bem mais rápida que o parto normal, e isso acontece porque ela não depende do tempo do bebê e nem da natureza.
De modo geral, é possível concluir um parto via cesárea em até 3 horas, no máximo. Já o parto normal varia muito dependendo de cada mulher, uma vez que são experiências únicas.
Normalmente, mulheres que estão parindo pela primeira vez podem levar entre 8 e 12 horas na parte ativa do parto normal. E mulheres que já deram à luz costumam levar de 5 até 8 horas para evoluir o trabalho de parto.
16. O trabalho de parto libera hormônios que ajudam o nascimento
Verdade.
Quando a mulher entra em trabalho de parto, o seu organismo libera uma série de hormônios que ajudam neste processo de nascimento. Isso acontece por causa da dor natural do trabalho de parto. Isso porque é a partir da dor do trabalho de parto que o organismo libera estes hormônios fundamentais.
Os hormônios liberados no trabalho de parto ajudam não somente no próprio parto, mas até mesmo na amamentação. Por isso, é importantíssimo que a mulher inicie o trabalho de parto, mesmo que ocorra alguma complicação que exija que ela seja encaminhada para cesárea.
Um dos hormônios liberados neste momento é a ocitocina, que é chamada de “hormônio do amor” e auxilia até mesmo na construção da relação mãe-bebê após o nascimento. E outro hormônio liberado neste momento é a endorfina, que atua como um analgésico natural. Ou seja, a endorfina gera alívio natural para a dor que a mulher sente.
17. Cesárea é um procedimento que não dói
Utensílios médicos para cirurgia em maternidade – Crédito da foto: Freepik
Mito.
Encontramos aqui um enorme mito. Isso porque é muito, mas muito comum que mulheres dêem preferência pro parto cirúrgico porque acreditam que dessa forma estarão isentas da dor. Mas isso não é verdade, infelizmente (quem dera tivéssemos alguma alternativa totalmente indolor).
A verdade é que a mulher pode não sentir dor no momento do parto, pois estará anestesiada, mas a cesárea dói e dói muito. O corte da cirurgia normalmente continua doendo de forma contínua mesmo semanas ou meses depois do parto ter ocorrido. E isso é péssimo, pois é justamente nesse momento que a mulher precisará estar mais disposta, uma vez que o bebê demandará muito da mãe neste início de vida.
Os especialistas relembram que a cesárea é uma cirurgia de grande porte. Este procedimento corta um total de sete camadas de tecido, incluindo o músculo abdominal. Mesmo sem sentir dor no momento do corte devido a anestesia, é possível sentir todo o processo de abertura da pele e os movimentos com o bebê e com o útero. Então, mesmo não sentindo dor a mulher sente todo o manejo em seu corpo (e isso pode ser muito aflitivo e angustiante para muitas mulheres).
18. Parto demorado coloca a vida do bebê em risco
Mito.
Infelizmente, muitas mulheres acreditam neste mito que afirma que se o trabalho de parto demorar demais o bebê pode correr risco de vida. Mas os especialistas apontam que a verdade é que não existe um padrão de tempo pré-definido para que o parto aconteça. Cada mulher tem um corpo, uma natureza e deve levar seu próprio tempo para parir.
Uma mulher pode conseguir dar a luz em poucas horas e outra mulher pode levar dias em trabalho de parto. O importante é que a equipe avalie de forma adequada os sinais vitais do feto e da mãe. Se os sinais vitais estiverem normais é porque o parto está correndo bem e está no tempo certo.
É claro que existem casos onde o bebê demonstra estar em risco pelos sinais vitais, e nestes casos a equipe deverá decidir qual o procedimento mais seguro a ser feito. Mas esta complicação não tem relação com o tempo de parto.
19. A cesárea não coloca a mãe e o bebê em risco
Equipe médica em procedimento cirúrgico – Crédito da foto: Freepik
Mito.
Vale lembrarmos e relembrarmos que a cesárea é uma cirurgia. A cesárea é um procedimento cirúrgico de grande porte que precisa de indicação médica para ser realizada. Por isso, a cesárea só deve ser indicada quando houver riscos reais para a vida da mãe, do bebê ou de ambos.
Estudos recentes demonstram que quando não há recomendação clínica séria, fazer uma cesárea aumenta em até 120 vezes o risco do bebê desenvolver problemas respiratórios. Além disso, a cesárea também triplica o risco de morte materna, quando ela é realizada sem necessidade.
20. Parto normal e parto humanizado é a mesma coisa
Mito.
Quem dera todo parto normal fosse humanizado. Aliás, quem dera que todos os partos fossem humanizados.
O parto normal diz respeito especificamente ao nascimento do bebê pelo canal vaginal da mulher. Por isso, ele também é conhecido como parto vaginal. Ou seja, o termo parto normal não contempla nada além do fenômeno de dar à luz sem a intervenção cirúrgica que ocorre com a cesárea.
O parto humanizado, por outro lado, não diz respeito a um tipo de parto específico ou a uma técnica em especial. Isso porque todos os tipos de partos podem também ser uma experiência humanizada (e quem dera todos fossem). O parto humanizado diz respeito ao modo como a mulher é acolhida na gestação, na assistência ao parto e nos cuidados pós-parto.
Então, o parto humanizado inclui a criação de espaços seguros e adequados nas maternidades e em outros ambientes onde a mulher venha a dar à luz. Além disso, faz parte do conceito de parto humanizado os cuidados para que o pré-natal seja de qualidade e garanta que a mulher seja acolhida e tenha todas as orientações necessárias tanto sobre a gestação quanto sobre o momento do parto.
Ter um ambiente tranquilo, com iluminação e ventilação adequada, ter suas escolhas respeitadas e seus medos e angústias acolhidas fazem parte da experiência de parto humanizado. No parto humanizado, a mulher tem direito de tomar decisões, de escolher as posições que ficar, de realizar banhos quentes, massagens e outras técnicas de relaxamento e alívio de dor. E, é claro, com o parto humanizado a mulher poderá ter o bebê nos braços logo que o nascimento ocorra.
Muitas mulheres pensam que o parto normal e o parto humanizado são a mesma coisa, mas isso está longe de ser verdade, infelizmente. É possível que uma mulher passe por um parto normal não-humanizado e uma mulher dê à luz via cesárea e tenha uma experiência humanizada. Isso porque o que define se o parto foi humanizado ou não é o cuidado, acolhimento e respeito que a mulher receberá – e não o tipo de parto ou técnica utilizada.
21. A cesárea só é indicada se houver riscos para a mãe ou bebê
Mulher fazendo cesárea em hospital – Crédito da foto: Freepik
Verdade.
O parto normal é considerado o melhor tipo de parto porque ele traz uma série enorme de benefícios tanto para a mulher quanto para o bebê. Por isso, ele é recomendado para todos os casos onde o bebê esteja saudável e a mulher não tenha nenhum quadro impeditivo.
Por exemplo, o parto normal ocorre de maneira espontânea – o que faz com que o tempo do bebê seja respeitado. Ou seja, o bebê vem ao mundo quando está totalmente pronto e maduro para tal. Quando ele passa pelo canal vaginal, o tórax do bebê é comprimido e isso estimula a expulsão do líquido amniótico dos pulmões. Por isso, crianças que nascem naturalmente têm menos riscos de sofrerem com problemas respiratórios tanto na infância quanto no resto da vida.
O sistema neurológico e imunológico do bebê também se beneficia com o parto normal. Isso porque com o trabalho de parto o organismo da mulher libera uma série de substâncias que auxiliam no amadurecimento do bebê. Então, é justamente no momento do trabalho de parto que o bebê termina de “se desenvolver”.
Com isso tudo, a recomendação é que a cesárea seja indicada somente no caso onde houver riscos sérios de complicações para a mãe, para o bebê ou para ambos. Alguns exemplos de situações onde a mulher pode ser indicada para cesárea:
- Hipertensão grave que descompensa
- Soropositiva (HIV/AIDS)
- Quando o cordão umbilical sai antes do bebê
- Placenta que descola antes do nascimento
- Bebê com cabeça maior que a passagem do canal vaginal
- Posição pélvica (bebê em posição sentada)
- Quando a localização da placenta impede a saída do bebê
Então, sim: existem várias situações que podem fazer com que a cesárea seja uma alternativa viável. No entanto, vale lembrar que o parto normal é uma alternativa mais segura e mais benéfica na maior parte das situações. Por isso, sempre que for possível, a recomendação é que a mulher dê à luz naturalmente.
22. O parto normal é mais benéfico para a mulher
Verdade.
Felizmente, esta é uma informação que está chegando em cada vez mais mulheres.
Entre outras coisas, o parto normal auxilia na recuperação das mulheres, de modo que elas se recuperam mais rapidamente. O parto normal também favorece o aleitamento materno, não deixa cicatrizes na mulher, não há dores após o parto, reduz o risco de complicações (como infecções) e da necessidade de medicações. E, ainda, o parto normal permite a imediata interação entre a mãe e o bebê, o que contribui para a relação mãe-bebê.
Então, sim, o parto normal é muito mais benéfico para a mulher do que a cesárea. Não é à toa que este é o tipo de parto considerado padrão-ouro na medicina no mundo todo.
23. O parto normal traz mais benefícios para o bebê do que a cesárea
Bebê sorrindo no quarto – Crédito da foto: Freepik
Verdade.
Essa também é uma informação que vem chegando as mulheres cada vez mais, felizmente.
Assim como mencionado, o parto normal ocorre no tempo do bebê. Por isso, o bebê que nasce naturalmente chega ao mundo mais pronto e mais maduro – e é claro que isso é ótimo para sua saúde e seu desenvolvimento.
Quando o bebê passa pelo canal vaginal, os seus pulmões são comprimidos e são estimulados a expulsar o líquido amniótico. Então, crianças que nascem dessa forma têm menos riscos de desenvolverem asma e outros problemas respiratórios. Este benefício acompanha não somente a infância, mas toda a vida da pessoa que nasceu via parto vaginal.
E não é somente o sistema respiratório que é beneficiado com o parto normal. A verdade é que todo o desenvolvimento do bebê é melhor maturado quando ele nasce naturalmente: sistema neurológico, imunológico, digestivo, cardiovascular, nervoso e etc – todos estes tendem a estar mais amadurecidos quando ocorre parto normal.
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