O novo coronavírus já mostrou que reage de uma forma diferente entre as crianças. Essa mudança de comportamento do vírus vem alimentando a ideia de que as crianças estão protegidas ou são “imunes” ao vírus (ou aos estados mais graves da doença, ao menos).

Entretanto, essa é uma narrativa muito perigosa. Isso porque apesar de serem mais raros, existem casos de crianças contaminadas. Inclusive, existem casos de crianças em estados seríssimos devido a Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus).

A boa notícia é que a maior parte dos casos de crianças com Covid-19 têm apenas os sintomas mais leves, não chegando aos quadros graves. Justamente por isso, é possível que hajam muito mais crianças com o vírus do que sabemos. Isso porque é testado somente quem chega nos hospitais. Ou seja, só é testado quem está em estado grave. Isso quer dizer que as crianças que estão aparentando ter um “resfriado comum” e não vão para o hospital acabam não sendo diagnosticadas.

Mas por quais razões as crianças estão sofrendo menos do que adultos com a doença? O que está acontecendo? Veja neste artigo alguns casos graves do novo coronavírus entre crianças, qual o comportamento do vírus nas crianças e quais razões podem estar por trás desse fenômeno. Boa leitura!

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Casos graves de coronavírus em crianças

mãe colocando máscara em criança para proteger de coronavírus

Mãe colocando máscara de proteção em criança – Foto: Freepik

Como mencionado: a parte dos casos do novo coronavírus e da Covid-19 entre crianças e jovens são mais leves. No entanto, existem casos graves da doença entre as crianças.

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Um exemplo mais grave aconteceu com um menino de 5 anos que já tinha problemas de saúde no Reino Unido. O segundo caso relatado em situação grave de criança também aconteceu na Europa: uma menina de 12 anos residente da Bélgica. Na China também aconteceu, mas dessa vez com um pré-adolescente que tinha somente 14 anos de idade.

Infelizmente, esses três casos levaram as crianças à óbito (devido a doença).

É muito triste, mas a verdade é que no Brasil também temos casos graves de coronavírus entre crianças. Por exemplo, só no estado de São Paulo já ocorreram 3 mortes de crianças e adolescentes de 10 até 19 anos devido a Covid-19. Isso fora os casos de bebês (incluindo recém-nascidos) que foram a óbito devido ao novo coronavírus.

Bebês brasileiros com coronavírus

Talvez o caso mais conhecido de bebê/criança do Brasil com coronavírus seja o bebê de apenas 5 dias que morreu por Covid-19 em Natal (RN). Entretanto, está longe deste ser o único caso (infelizmente). De acordo com este dado, até os bebês recém-nascidos podem ser gravemente afetados pela doença.

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Com outros casos de recém-nascidos contaminados com a doença ao redor do mundo, diversos cientistas estão estudando sobre a transmissão durante a gestação (em casos de grávidas que são infectadas e podem contaminar os bebês no útero, mesmo antes deles nascerem).

Além deste bebê de 5 dias, há também outros casos de bebês do Brasil infectados com o vírus. Outra situação que ficou conhecida é o bebê de 3 meses de Iguatu (CE) que morreu devido ao Covid-19. Fora este bebê de Iguatu, no estado do Ceará também foram identificados outros 38 anos com menos de 1 ano de vida com o vírus. Felizmente, o caso de Iguatu foi o único óbito até o momento, mas os registros desmontam a crença existente até o momento de que crianças e jovens eram imunes ao vírus de alguma forma.

Número de crianças infectadas é o mesmo que de adultos

Mãe colocando máscara de proteção em criança pequena devido ao coronavírus

Mãe colocando máscara de proteção em criança pequena – Foto: Freepik

Andrew Pollard é professor de disciplinas de infecções infantis e de imunidade infantil na Universidade de Oxford. O professor do Departamento de Pediatria da universidade relata que “No início da pandemia, pensávamos que as crianças não estavam sendo infectadas pelo vírus. Mas agora está claro que a quantidade de infecções entre as crianças é a mesma que entre adultos”.

O que parece acontecer é que as crianças infectadas têm sintomas mais leves e, por isso, são menos diagnosticadas e tratadas. Entretanto, o especialista assume que isso não deve de forma nenhuma significar que “está tudo bem” relaxarmos os cuidados com as crianças.

Pelo contrário, o professor e pediatra acredita que é preciso compreender melhor as razões que fazem o vírus mudar de comportamento nesta faixa etária. De acordo com Pollard, somente depois de compreendermos o que está acontecendo será possível estabelecermos os melhores caminhos de prevenção. Portanto, até lá as crianças devem seguir as mesmas diretrizes de prevenção já massivamente anunciadas pela OMS, como o isolamento, lavagem de mãos, não levar as mãos ao rosto e etc.

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Por que está havendo menos casos de infecção entre as crianças?

Até a segunda quinzena de fevereiro, os casos confirmados de jovens de 19 anos ou menos respondia a somente 2% de todos os casos identificados com Covid-19 na China. Essa informação foi divulgada pelo próprio Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país asiático.

Nos Estados Unidos, uma pesquisa com mais de 500 pacientes descobriu que somente 1% dos casos estudados correspondiam a crianças. Mais que isso: neste estudo foi constatado que nenhuma das crianças foi um caso fatal. Ou seja, nenhuma delas foi à óbito.

Sanjav Patel é especialista em doenças infecciosas no Hospital Infantil de Southampton, na Inglaterra. Ele acredita que é possível que essa diferença nos números ocorra porque o maior foco de transmissão do vírus até o momento são os locais de trabalho. Isso pode estar acontecendo porque o vírus se propagou no período de férias da escola, então as aulas foram rapidamente suspensas. Por isso, os adultos estavam em aglomerações no trabalho e as crianças não.

Essa teoria sobre os aspectos ambientais do vírus de Patel parece ganhar solidez quando é percebido que neste momento o número de casos de crianças infectadas tem aumentado significativamente. Isso acontece porque com o isolamento dos adultos, estes estão mais próximos de seus filhos e, consequentemente, há mais crianças sendo diagnosticadas.

O especialista também lembra que é muito provável que a quantidade de crianças infectadas seja bem maior do que os números oficiais dizem. Isso porque as crianças não estão sendo testadas em larga escala. Ou seja, é possível que haja muito mais crianças infectadas com coronavírus do que sabemos. Essa teoria se deve principalmente ao fato que é basicamente quem chega no hospital que é testado. Então, quantas crianças que estão em casa foram infectadas e nós não sabemos?

Efeitos do coronavírus entre as crianças

Criança com máscara na rua

Criança com máscara de proteção na rua – Foto: Freepik

É verdade que o este novo coronavírus afeta as crianças de um jeito diferente dos adultos? Sim, tudo indica que sim.

Além de atuar como professor, Pollard também coordena o grupo de estudos sobre vacinas na Universidade de Oxford. Ele menciona que já foi descoberto pela ciência que mesmo crianças com situações de saúde mais delicadas são menos afetadas pela Covid-19 do que os adultos. Mesmo crianças em tratamentos para câncer ou sob terapias imunodepressivas são sofrem com o vírus como os adultos.

Estudo chinês que avaliou casos graves da doença demonstrou que o percentual de crianças que adoecem seriamente é muito menor do que o percentual dos adultos que também tenham adoecido gravemente. De acordo com a pesquisa, somente 6% de todos os casos infantis chegam aos níveis mais sérios da doença. Entretanto, entre os adultos 19% dos infectados desenvolvem quadros mais graves.

Por que nas crianças os sintomas são mais leves?

Outro estudo asiático focou sua atenção no desenvolvimento da doença entre as crianças. Os principais achados desta pesquisa demonstraram para a seguinte realidade:

  • Mais de metade das crianças com Covid-19 apresentaram sintomas leves, como febre, tosse, dor de garganta, coriza, dores no corpo e espirros
  • Cerca de 30% das crianças infectadas desenvolveram sinais de pneumonia, com febre constante, tosse e chiados no peito. Entretanto, elas não tiveram falta de ar e nem dificuldade para respirar

Mas qual a razão disso?

Mãe com máscara em sofá com criança durante quarentena

Mãe com máscara em sofá com criança – Foto: Freepik

Graham Roberts trabalha como pediatra consultor na Universidade de Southampton explica o seguinte sobre o caso “As crianças com Covid-19 são predominantemente afetadas nas vias aéreas superiores. Por exemplo, no nariz, boca e garganta. Por isso elas desenvolvem sintomas parecidos com resfriados. O vírus não parece conseguir acessar as vias aéreas inferiores delas, como o pulmão. Assim, menos crianças desenvolvem pneumonia e sintomas fatais, que são mais comuns nos adultos”.

A razão do vírus ter maior dificuldade de acessar o pulmão das crianças ainda não é conhecida pela ciência. O pediatra consultor acredita que isso será descoberto na medida em que as pesquisas sobre o assunto avançarem. Roberts lembra que o vírus ainda é muito novo e que é necessário tempo para que os estudos apresentem mais dados.

Hipóteses aceitas pela ciência até o momento

Uma das possibilidades mencionadas por Roberts diz respeito às características do próprio vírus. Ele afirma que “Uma das possibilidades é que o vírus dependa de alguma proteína específica para entrar na célula e começar a causar problemas”.

Ao que tudo indica, o novo coronavírus parece utilizar o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA-2) para adentrar nas células. Uma das hipóteses estudadas pela ciência é que as crianças tenham menos desses receptores ECA-2 no pulmão e mais nas vias superiores. Assim sendo, faria sentido que o vírus afetasse mais o nariz, boca e garganta do que o pulmão.

Se for confirmada, essa hipótese poderia explicar as razões das crianças desenvolverem mais resfriados do que pneumonias quando afetadas pelo vírus.

Estudos anteriores sobre a família coronavírus já havia descoberto que estes vírus possuem afinidade com este receptor ECA-2.

Envelhecimento humano e coronavírus

Entretanto, a hipótese de Roberts sobre os receptores utilizados para propagação do vírus no corpo não são a única explicação possível. Pollard acredita que existe pelo menos mais uma possibilidade de explicação. De acordo com ele, “Não é tanto que as crianças não estão sendo afetadas. Talvez a questão não seja que as crianças não se infectam, porque elas estão se infectando. Talvez seja algo associado com as mudanças que acontecem quando a pessoa envelhece. Quando a pessoa envelhece parece acontecer algo com o corpo que aumenta a probabilidade dela ser contaminada”.

De acordo com Pollard, “isso” que acontece com o corpo quando envelhece pode ser justamente o envelhecimento do sistema imunológico. Ele acredita que o sistema imunológico mais velho se torna menos capaz de enfrentar problemas, como novas infecções.

Todavia, o próprio Pollard admite que essa teoria não explica tudo. Isso porque jovens adultos não tem seu sistema imunológico “velho”, e mesmo assim têm maior risco de desenvolver problemas severos de Covid-19 do que as crianças. Isso quer dizer que a hipótese de Pollard não explica todo o fenômeno. Portanto, é necessário ainda aguardarmos novos estudos para termos mais dados sobre o assunto.

Sistema imunológico infantil

Dois meninos com máscaras de proteção olhando pela janela de casa

Dois meninos com máscaras de proteção olhando pela janela de casa – Foto: Freepik

A verdade é que o sistema imunológico da criança e do adulto é diferente em muitos sentidos. Uma das diferenças mais lembradas pelos especialistas é justamente o fato de que as crianças ainda estão desenvolvendo ele. Por exemplo: crianças são expostas a uma grande quantidade de novas infecções respiratórias, principalmente aquelas que vão para escola ou creche.

Muitos pediatras e pesquisadores acreditam que essa exposição a tantas infecções de forma quase cotidiana faz com que elas (as crianças) tenham uma base muito maior de anticorpos contra vírus. Isso porque para uma pessoa criar anticorpos ela precisa ser exposta ao vírus. Por isso, supostamente crianças que frequentam escolas e creches teriam mais anticorpos que adultos (porque esses frequentam ambientes com menor exposição).

Roberts relembra que “Crianças parecem acumular mais respostas a infecções virais do que adultos, como febres altas”. O especialista acredita que “É bem possível que o sistema imunológico da criança esteja melhor equipado para controlar o vírus, restringi-lo somente às vias aéreas superiores, não causar grandes problemas e eliminá-lo”.

Além disso tudo, a pesquisa chinesa sobre o vírus nas crianças também sugere que “Como crianças têm menor incidência de problemas respiratórios e cardiovasculares crônicos, é possível que elas sejam mais resilientes à infecção grave do vírus do que os adultos e idosos”.

Resposta do corpo ao novo coronavírus

Há ainda outro elemento que vem se mostrando interessante para os cientistas: a resposta do corpo à doença.

Adultos em estado grave parecem dar uma resposta exagerada na tentativa de combater a doença. Em termos médicos, o organismo faz uma tempestade de citocina. Entretanto, essa resposta do sistema imunológico adulto ao vírus traz mais danos do que benefícios para a pessoa. Isso porque um resultado comum dessa “resposta exagerada” é a falência múltipla dos órgãos.

As crianças, por outro lado, não conseguiram responder de forma tão brusca nem que quisessem. Isso porque como seu sistema imunológico está se formando, ele não tem toda essa empregar contra a doença. Por isso, aparentemente seria mais fácil da criança superar o problema: porque seu corpo não “passará do ponto” no combate a doença.

Entretanto, essa também é uma hipótese que responde apenas parcialmente toda a questão. A verdade é que a ciência ainda está estudando todas as possibilidades e é muito provável que não haja uma única resposta certa. O mais provável que haja um conjunto de fatores que façam com que as crianças estejam “se saindo melhor” do que os adultos com o coronavírus.

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