O plano de parto é um documento que ajuda na comunicação entre gestante/família e os profissionais da saúde que farão o parto. Ou seja, é um mecanismo que ajuda as enfermeiras e médicas que darão assistência ao parto a conduzirem o parto conforme o desejo da gestante.

Por isso, o plano de parto é considerado uma ferramenta que tem como objetivo garantir melhor qualidade de assistência ao parto para mulher. Assim sendo, ele tende a oferecer uma experiencia mais satisfatória e mais feliz para a mulher e sua família nesse momento tão importante.

Entenda melhor o que é este documento, como ele é e veja como montar o seu, para que a sua experiencia de parto seja do seu jeitinho. Boa leitura!

O que é o plano de parto?

Ilustração de documento, contrato, plano de parto

Médico lendo plano de parto de gestante – Crédito da foto: Freepik

Assim como brevemente mencionado na introdução, o plano de parto é um documento onde fica registrado por escrito todo o planejamento de como o parto deverá ocorrer. Mas além do parto, no documento também constam os desejos em relação ao trabalho de parto e em relação aos cuidados pós-parto tanto com a mulher quanto com o bebe recém-nascido.

Este documento pode ser escrito pela mulher de forma individual, pela mulher em conjunto com sua família e/ou pelo médico obstetra que faz o acompanhamento de pré-natal. Na verdade, o ideal é que a gestante e o médico trabalhem juntos na construção do plano de parto. Ou então, que cada um escreva um modelo e depois conversem sobre os pontos para definir a versão final.

Esse entrecruzamento entre médico e gestante é importante porque sendo feito em conjunto, há mais chances do parto ocorrer exatamente conforme planejamento. Isso porque o médico poderá dar sugestões e indicar quais elementos são ou não possíveis. E a mulher, por sua vez, poderá informar quais os seus desejos com base naquilo que é possível.

Basicamente, este documento é uma estratégia criada para deixar bastante clara a comunicação em relação aquilo que a mulher e família esperam da assistência ao parto. Além disso, com a construção do documento a gestante demonstra pra equipe profissional que está minimamente informada sobre os procedimentos feitos durante o parto. Então, é uma forma de demonstrar que deseja ser tratada de forma respeitosa e acolhedora, e não passar desnecessariamente por intervenções de rotina.

O plano de parto na prática

Na prática, o documento vai apresentar de forma contundente o trabalho de parto, parto e cuidados pós-parto que são desejados.

Além disso, com o documento as equipes também terão acesso a informação de como agir em determinadas situações inesperadas, caso hajam. Ou seja, além do que a gestante espera, o plano de parto também revela aquilo que ela quer evitar. E aqui vale se atentar: é muito, mas muito importante que você possa também deixar claro o que voce não quer no seu parto.

Mas também é importante estarmos atentos a dinamicidade do trabalho de parto e parto. É preciso levar em conta que mesmo o melhor e mais completo plano de parto pode não contemplar todas as possíveis circunstancias de um parto. E, dependendo do caso, é possível que hajam mudanças que precisem ser feitas que escapem aquilo que foi previamente definido entre gestante a médico.

Por isso, é importante ter em mente que é possível que hajam coisas que saiam do planejamento. Então, tente sempre ser clara e abrangente no seu plano de parto.

Relação profissional-paciente

Paciente em consulta médica plano de parto

Médico segurando mão de paciente em consulta médica – Crédito da foto: Freepik

Além de garantir que a equipe profissional terá acesso ao desejo da gestante, o plano de parto também ajuda na construção da relação médico-paciente. Isso porque através do plano de parto a mulher poderá tirar suas dúvidas, falar de seus medos e suas preferências. E o médico poderá ouvir estes medos, esclarecer suas questões e poderá a orientar sobre como o parto funciona.

Ou seja, o plano de parto pode servir de instrumento pra incentivar a paciente a falar de si, seus medos e fantasias. O médico pode fazer uso deste instrumento pra se aproximar da paciente, e para demonstrar acolhimento.

Por isso, diversas instituições e referências da área incentivam que os médicos obstetras incentivem a mulher a construir um plano de parto. Em alguns casos, é incentivado que o documento seja escrito em conjunto. Não à toa, a construção do plano de parto é também uma recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Mas aqui vale destacar que a vantagem do plano de parto é justamente propiciar estes momentos de proximidade e interação entre médico e paciente. Por isso, não basta levar o documento impresso no dia do parto, para que a equipe veja naquele momento pela primeira vez a ideia de parto que a mulher deseja. Não, o ideal é que o documento todo seja feito em conjunto e seja debatido ao longo do pré-natal. Desse modo, levar o documento impresso será somente mais um cuidado para que seja respeitado aquilo que já foi definido e discutido anteriormente.

Condições necessárias para adesão/respeito ao plano de parto

Naturalmente, há algumas condições que são necessárias para que o plano de parto possa ser respeitado. Isso porque cada instituição possui uma estrutura, organização, recursos e etc. Então, o planejamento construído pela gestante e médico precisam corresponder às condições reais do ambiente e equipe de assistência.

Por exemplo, não adianta a mulher pedir para fazer uso das bolas de ginástica se a maternidade não conta com este recurso. Ou então, não adianta a mulher pedir para ser acompanhada pelo parceiro e por uma doula se a mulher não contratou uma doula na gestação e se o hospital não fornece atendimento dessa profissional.

Então, é muito importante que o plano de parto seja escrito com base no conhecimento sobre o ambiente onde o parto ocorrerá. O que reforça a recomendação de que o documento seja construído em conjunto com o médico, que terá estas informações.

Os principais fatores normalmente considerados pelos médicos pra escrita do plano de parto dizem respeito ao seguinte:

  • Avaliação do risco da gestação no pré-natal (risco habitual ou alto risco)
  • Condições de ambiência hospitalar (estrutura e recursos do ambiente)
  • Aspectos técnicos de assistência para o caso de intercorrências obstétricas (o que é ou não possível fazer no caso de complicações)

Elementos necessários para montagem do plano de parto

Grávida

Grávida deitada em cama – Crédito da foto: Freepik

Como mencionado, quanto mais completo, claro e abrangente o plano de parto, melhores as chances de “nada sair do controle“. Por isso, busque especificar de forma clara todos os cenários possíveis.

Veja abaixo uma lista com alguns dos pontos mais importantes de mencionar no documento.

Práticas obstétricas mais regularmente contestadas pelas mulheres

Umbigo de bebê recém nascido plano de parto

Umbigo de bebê recém nascido – Crédito da foto: Freepik

Existe uma série grande de práticas realizadas na assistência ao parto que são mal avaliadas e causam sofrimento desnecessário nas mulheres. Por isso, é fundamental que no plano de parto você também apresente claramente todas as práticas que você não quer passar, exceto em casos realmente necessários.

Este cuidado na montagem do plano de parto é bem importante porque muitos hospitais realizam estas práticas de forma rotineira. Ou seja, eles sequer avaliam a necessidade da mesma, apenas aplicam porque “faz parte do protocolo”. No entanto, cada uma dessas práticas possui razões específicas pra existir. Basicamente, a prática pode ser necessária para um determinado cenário, mas o que acaba acontecendo é que todas as gestantes são submetidas a ela quando a prática se torna corriqueira (mesmo aquelas gestantes que não necessitariam disso).

Veja aqui algumas das práticas de rotina mais comumente questionadas e mal avaliadas pelas mulheres que passaram pela experiência de parto normal:

  • Jejum de alimento e água rígido e por muitas e muitas horas
  • Enteroclisma, também conhecida como “lavagem estomacal”
  • Amniotomia, que se trata da ruptura artificial da bolsa amniótica
  • Indução com ocitocina para aceleração do trabalho de parto, causando contrações desnecessárias
  • Episiotomia, que se trata de um corte feito na região da vaginal e ânus
  • Uso de fórceps e vácuo-extrator, que são instrumentos utilizados para “puxar” a cabeça do bebê durante o trabalho de parto
  • Corte do cordão umbilical pela equipe profissional, e não pelo acompanhante ou gestante
  • Expulsão e destino da placenta decidido pela equipe profissional, e não pela gestante (que pode levar pra casa, guardar, emoldurar e até comer, se quiser)

Atenção!

Em relação à ruptura artificial da bolsa: Esta prática era amplamente utilizada de forma rotineira tendo como principal objetivo acelerar o trabalho de parto. Não havia nenhum outro objetivo além de “ir mais rápido” para “desocupar” a equipe profissional. Isso porque para os hospitais era vantajoso que as equipes fizessem os partos rapidamente.

No entanto, muitos lugares deixaram de ter esta prática como rotina depois de ser descoberto que ela tende a aumentar os batimentos cardíacos do feto e é responsável por boa parte das “complicações” que faziam com que a mulher precisasse fazer uma cesárea de emergência. Ou seja, além de ter nenhuma utilidade quando usada de rotina, ela ainda prejudicava o trabalho de parto.

Infelizmente, algumas maternidades seguem a usando indiscriminadamente. Por isso, talvez valha a pena você mencionar com todas as letras que não a quer, mesmo que aparentemente a sua maternidade já não a faça.

Dicas de como escrever o plano de parto

Ilustração de documento sendo assinado

Ilustração de documento sendo assinado – Crédito da foto: Freepik

Mesmo citando os elementos importantes de se fazerem presentes no plano de parto, ainda pode ser muito difícil de o escrever, não é?

Pensando nisso, elaboramos esta outra dica: clareza e simplicidade. Opte sempre por ser o mais clara possível, e fale de forma simples o que deseja e o que não deseja.

Para tentar ser mais clara, inicie as frases com:

  • Gostaria de
  • Preferimos que
  • Se possível
  • Seria melhor ou mais adequado que

Ou então, caso você não deseje algo:

  • Não gostaria de
  • Evite
  • Não queremos que
  • Em nenhuma hipótese

Pode parecer uma dica muito simples, mas este tipo de comunicação ajuda muito a equipe a entender e.x.a.t.a.m.e.n.t.e o que você quer. Além disso, este tipo de escrita também revela quais pontos você está mais disposta a “flexibilizar” e quais são inegociáveis.

Então, seja bem clara, ok?

Exemplos de como montar um plano de parto

Gestante no pré-natal

Gestante fazendo acompanhamento de pré-natal para montagem de plano de parto – Crédito da foto: Freepik

Veja agora alguns exemplos de textos de plano de parto. Obviamente estes exemplos vão te ajudar bastante a ver como colocar todas as suas ideias no papel de forma sucinta.

Estes exemplos se referem a trechos de planos de parto reais de mulheres diferentes. Eles falam de pontos diferentes da assistência ao parto, para que você possa visualizar mais claramente cada um destes elementos “na prática” (ou seja, no texto).

Indução do parto

“Preferimos esperar até pelo menos 41 semanas antes de recorrermos a quaisquer procedimentos de indução do parto. No caso do bebê estar pélvico durante o trabalho de parto, não desejamos que sejam feitas manobras de versão externa e descartamos a possibilidade de um parto pélvico por via vaginal.”;

“Gostaria que me fossem administradas drogas para indução apenas se houver necessidade médica e com informação prévia. Eu também gostaria que me fossem administradas drogas para aceleração do trabalho de parto apenas se houver necessidade médica e com informação prévia. Em relação ao rompimento artificial da bolsa, gostaria que ocorresse apenas se houver necessidade clínica e também com informação prévia. Gostaria de poder caminhar e ter liberdade de movimentos durante todo o trabalho de parto. E gostaria de poder tomar banhos durante o trabalho de parto e ingerir líquidos e alimentos à vontade.”

Ambientação e técnicas para alívio da dor

Médico obstetra durante trabalho de parto

Médico obstetra durante trabalho de parto – Crédito da foto: Freepik

“Gostaria de ouvir música, fazer meditações, usar minha própria vestimenta, tirar fotos e fazer vídeos, receber massagens, fazer uso da bola, barra/corda de agachamento, banquinho de parto, técnicas de respiração e vocalização, óleos essenciais, aromaterapia e afins, assim como o uso ilimitado do chuveiro e/ou banheira durante o meu trabalho de parto.”

Cesárea

“Tendo sido esgotadas todas as opções ou havendo indicação médica clara, e uma cesariana seja necessária, gostaria de ter o
meu marido e doula presentes durante todo o procedimento. Neste caso, gostaria que o procedimento fosse realizado sem sedação, preferencialmente com o uso de anestesia raquidiana e que o útero fosse suturado em duas camadas. Gostaria que o bebê fosse entregue ao meu marido imediatamente após o parto.”

Médico plantonista segue o plano de parto?

Muitas gestantes têm essa dúvida: Será que o médico plantonista da maternidade segue o plano de parto?

Esta é uma questão muito justa, tendo vista que é totalmente diferente ser atendida por um médico previamente conhecido que ajudou a escrever o documento e o conhece, e ser atendida por alguém que nunca se viu antes. A verdade é que este tema é um conflito e gera debate no campo da obstetrícia, tanto entre médicas quanto entre enfermeiras.

Infelizmente, é comum que o médico plantonista não consiga atender as solicitações do plano de parto. Isso normalmente acontece porque o médico não conhece o texto, não sabe do quais são os elementos ali inseridos. Ou seja, o primeiro contato dele com aquele documento é ali, durante o trabalho de parto da mulher. Além disso, médicos plantonistas também tem uma alta demanda: precisam atender várias mulheres. E isso dificulta significativamente suas condições de dar a devida atenção a cada uma delas.

É uma realidade totalmente diferente das mulheres que são atendidas por médicos já conhecidos, que a acompanharam no pré-natal. Neste caso, é muito mais fácil do médico conseguir dar conta do plano de parto quando já acompanha a gestante.

De toda forma, praticamente todas as maternidades possuem um plano de assistência ao parto padrão. Neste documento protocolar, há explicações precisas e objetivas sobre todos os procedimentos que serão utilizados, e as circunstâncias de cada um deles. De modo geral, no documento há também itens envolvendo a ambiência hospitalar. Assim, é possível pedir informações no hospital onde será atendida sobre o procedimento realizado no local.

Legislação

Vista superior do martelo em um livro com espaço de cópia Foto Premium

Martelo simbolizando o poder jurídico em mesa com listras – Crédito da foto: Freepik

Infelizmente, muitas mulheres se sentem embaraçadas e constrangidas por montar seu plano de parto ou na hora de o apresentar. Mas não é necessário ter este tipo de sentimento, como se fosse um problema ter um plano de parto personalizado.

O plano de parto é um documento tão importante quanto os outros documentos e exames associados à gestação. Inclusive, você sabia que o documento de parto é um direito que é garantido a todas as gestantes pela legislação brasileira? Sim, este documento é tão legítimo que foi inserido na legislação como uma forma de garantir o direito ao mesmo pra todas as mulheres do país.

As diretrizes do Ministério da Saúde (MS) sobre acompanhamento pré-natal e assistência ao parto garantem que você deverá ter seu direito ao plano de parto respeitado pela equipe profissional. Isso porque nestas diretrizes consta que os profissionais da saúde que acompanham a mulher devem lhe perguntar sobre o plano de parto. Aliás, mais do que perguntar: a recomendação do Ministério da Saúde (MS) é que os profissionais perguntem sobre o plano, leiam o documento e discutam ele com a mulher. E estas conversas devem ocorrer ao longo do pré-natal.

Ou seja, o profissional que a acompanhar tem obrigação por lei de conversar com você sobre seu plano de parto. No caso de mulheres que não tenham um, ele deve explicar o que é e ajudar a construir. Considerando que estas conversas devem ocorrer no pré-natal, é normal que o assunto volte em várias consultas. Inclusive, este “retorno” do tema é bastante importante, pois assim a mulher pode ir se apropriando aos poucos da ideia de como o parto será, e poderá também tirar diferentes dúvidas que surjam ao longo da gestação.

Recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS)

Além disso, o plano de parto é tão importante que está entre as recomendações da própria Organização Mundial de Saúde (OMS). A prática de montar um plano de parto se tornou uma recomendação da mais importante instituição de saúde do mundo devido aos estudos que demonstraram sua importância. Isso porque foi comprovado que quando há trocas significativas entre obstetra e paciente sobre o planejamento do parto, o acompanhamento pré-natal, a assistência ao parto e os cuidados pós-parto são mais humanizados e respeitosos.

Ou seja, o plano de parto é uma documentação que serve como fator de proteção contra violência obstétrica e complicações após o nascimento, como depressão pós-parto, por exemplo. Então, o objetivo da Organização Mundial de Saúde (OMS) ao orientar sobre a construção do plano de parto é garantir melhorias na qualidade da assistência ao parto oferecida às mulheres e aos bebês recém-nascidos no mundo todo.

Considerações sobre o plano de parto

Retrato de uma mulher grávida feliz tocando sua barriga Foto gratuita

Mulher grávida olhando para barriga em frente à janela – Crédito da foto: Freepik

Assim como mencionado anteriormente, o profissional que acompanha a mulher na gestação precisa perguntar e discutir com a gestante sobre seu plano de parto. No entanto, vale destacar que a apresentação do plano de parto por parte da mulher é somente o primeiro passo. Isso porque o que há de mais importante é justamente as conversas que acontecerão a partir dele.

Nós não podemos tudo, ninguém pode tudo. E, infelizmente, com a gestante não é diferente. Não é porque a gestante escreveu no seu plano de parto detalhadamente tudo que ela quer, que isso signifique que o parto vai ocorrer exatamente daquele jeito. E é muito importante que as mulheres estejam cientes disso.

O plano de parto é um documento de serve pra melhorar a comunicação entre a mulher e a equipe profissional. No entanto, é nas conversas com o médico que será definido o que daquele planejamento é possível e o que não é, infelizmente. Para isso, o médico deverá levar em consideração as reais condições para implementação daquele plano. Algumas questões que o médico precisará considerar, por exemplo:

  • Como é a organização do local onde o parto ocorrerá?
  • Quais as limitações (físicas, estruturais, de recursos, de pessoal…) relativas ao espaço?
  • Qual a disponibilidade existente para certos métodos e técnicas?

Ou seja, é no debate entre gestante e médico que será definido a versão final do plano de parto, considerando as condições reais de o colocar em prática.

E vale ressaltar também que é sempre possível ocorrer complicações imprevisíveis. Nestes casos, é possível que o parto passe por uma série de situações não previstas no documento. Em casos com complicações, fica a critério dos profissionais de saúde tomar a decisão final sobre as formas mais seguras de conduzir o parto, tanto no sentido de proteger a mulher quanto o bebê.

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