Infelizmente, a tocofobia tem sido cada vez mais discutida nos campos acadêmicos e voltados à saúde mental. Isso porque o medo da gestação e o medo de parir podem estar colocando a saúde de milhares de mulheres e bebês em risco – tendo em vista que a mortalidade materna, em um parto cesariano, é cinco vezes maior do que em um parto vaginal.
Hoje, as pessoas associam o nascimento a uma cesária. Se conversamos com grupos de mulheres que desejam ser mães, muitas delas apontarão que preferem passar pela cesária, principalmente por conta do medo de sentir dor. No entanto, a falta de informação sobre os riscos da cesariana podem fortalecer a busca por esse método.
Logo, conhecer o que é tocofobia, entender quando ela aparece e buscar a ajuda ideal é, antes de qualquer coisa, uma forma de proteger a saúde materna a infantil. Por isso, reunimos uma série de considerações importantes sobre o tema, neste conteúdo. Acompanhe e, se possível, compartilhe este texto!
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O que é tocofobia?
Mulher grávida com expressão de medo e dúvida. Foto: Freepik
A tocofobia pode ser caracterizada como um medo exacerbado da gestação e do parto. Este medo pode envolver muitos fatores relacionados ao período perinatal em si: é o caso do medo da dor, medo de morrer, medo do aborto, medo da morte fetal, etc.
Embora a gestação, em algumas circunstâncias, possa apresentar riscos para a saúde da mãe e/ou do bebê, o medo irracional pode provocar um estresse exacerbado. E estudos apontam que estresse na gestação pode abrir caminho para nascimentos prematuros.
Sendo assim, o medo da gestação e do parto pode impactar a saúde e o bem-estar da mãe e do bebê. Por conta disso, merece atenção profissional e os cuidados adequados.
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Quais os sintomas de tocofobia?
Vetor de mulher grávida com medo de adoecer. Foto: Freepik
Estudos apontam que 80% das mulheres que já passaram pela gestação apresentam algum tipo de medo do parto. Claro que, em grande parte, o medo é benigno, tendo em vista que tudo que é diferente e desconhecido pode nos assustar. Por isso, justamente, que o acesso à informação sobre o parto, sobre a dor e sobre como lidar com esse momento é tão importante.
No entanto, nos casos nos quais a tocofobia está instalada, o medo do parto deixa de ser algo leve e benigno. Assim, passa a ser algo extremamente intenso e que impacta a saúde e o bem-estar da mulher. Costuma ser representado pelos sintomas abaixo, que podem variar no quesito periodicidade e intensidade, em cada caso:
- Ataques e crises de pânico, especialmente quando pensamentos repetitivos sobre a gestação ou parto vêm à mente;
- Ansiedade excessiva;
- Pesadelos relacionados à gestação, parto ou puerpério;
- Medo irracional de parir;
- Medo irracional de morrer ou de perder o bebê durante o parto;
- Extremo medo de sentir dor, a ponto de optar por uma cesariana sem haver real necessidade obstétrica para isso;
- Distúrbios do sono ou do apetite, durante o período gestacional;
- Descontrole emocional evidente ao se falar sobre a gravidez;
- Visão distorcida da realidade de uma gestação. Por exemplo: enxerga a gestação como um “caminho para o sofrimento” ou uma fase punitiva, que só causa mal a mulher;
- Entre outros tipos de sintomas que possam denunciar um medo intenso de gestar, parir e engravidar.
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Quais as causas desse problema?
Gestante roendo as unhas por conta do medo. Foto: Freepik
A tocofobia é uma questão multifatorial. Isto é, não há uma única causa para o problema. São diversos os fatores que podem impactar uma mulher e desencadear o medo exacerbado do período perinatal. Veja alguns episódios que podem servir de estopim para o problema:
- Idealização errada da gestação, ao assistir cenas de parto em novelas, filmes e etc. Normalmente, na dramaturgia, os partos são repletos de “gritos de dor” da gestante, demonstrando um período absolutamente doloroso, infindável e cansativo.
- Discursos errôneos sobre o parto, ao ouvir outras pessoas contando histórias horríveis sobre o parto natural.
- Violência obstétrica já vivida em outra fase de sua vida, isto é, em alguma gestação já vivida.
- Falta de informações sobre o funcionamento do corpo, estratégias de minimização da dor, etc.
- Falta de vínculo entre a gestante e o profissional da saúde responsável pelo seu parto. Aqui, a gestante pode não confiar no profissional, ficando extremamente insegura e ansiosa com o parto – crendo que será um desastre.
- Mulheres que só descobrem a gravidez na hora de parir.
- Problemas familiares com partos – como no caso de ter alguma parente que sofreu no parto.
- Falta de conhecimento sobre a saúde do bebê.
- Problemas de saúde que podem prejudicar o momento do parto.
- Outras questões psicológicas associadas única e exclusivamente à vida da mulher grávida.
São muitos os motivos que podem desencadear o medo irracional do parto e da gestação. Porém, não importa qual seja o motivo que cause essa insegurança na mulher, o fundamental é que ela busque a ajuda necessário para lidar com isso.
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Tocofobia de causa primária e secundária
Vale ressaltar, ainda, que podemos dizer que existe dois grupos gerais que podem causar a tocofobia: o grupo primário e o secundário. Entenda um pouco mais sobre cada um deles:
- Primário: Que ocorre antes da primeira gestação. É o medo que decorre da visualização de situações que assustam, como assistir um parto difícil, conhecer alguém que faleceu no parto, etc. Isto é, quando se trata do aparecimento do medo por meio de uma ou mais experiências alheias (mesmo que por meio de uma atuação na TV), a tocofobia é classificada como “primária”.
- Secundário: Quando a mulher passa por uma gestação e sofre algum tipo de violência obstétrica, parto difícil ou simplesmente sente muita dor e isso causa algum trauma, chamamos de tocofobia secundária. Isto é, ela teme uma gestação e um parto pois, de fato, teme passar por tudo outra vez.
Ambos os casos exigem um olhar apurado e clínico, especialmente de profissionais da psicologia, para assim a mulher enxergar o parto de uma forma diferente. Afinal, muitas vezes é necessário ressignificar o que a mulher pensa e sente com relação à gestação e ao parto, buscando um equilíbrio emocional maior.
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Como tratar a tocofobia?
Mulher ouvindo o coração do bebê dentro da barriga. Foto: Freepik
A tocofobia precisa ser tratada para que a mulher venha a ter mais qualidade de vida e segurança durante todo o período perinatal. Além disso, o tratamento visa diminuir os índices de estresse, ansiedade e até mesmo depressão – que podem evoluir para problemas no pós-parto.
Para isso, o acompanhamento psicológico se faz necessário. Aqui, a gestante pode procurar um psicólogo puerperal/perinatal/obstétrico, seja presencial ou virtualmente. Assim, poderá conversar com o psicólogo sobre as suas angústias, medos, temores e tudo o que pensa e sabe sobre a gestação e o parto.
Dessa maneira, poderá reequilibrar o seu emocional, compreender um pouco mais sobre a própria realidade e, quem sabe, atravessar a gestação com mais saúde e bem-estar.
Se você tem temor ao parto e/ou à gestação, não tenha vergonha de pedir ajuda. Você merece um suporte profissional qualificado!
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Referências
A educação para o parto e nascimento com crianças escolares: relato de experiência. Disponível em: <https://www.acervosaude.com.br/doc/REAS290.pdf> Acesso em 3 maio 2022.
Medo do parto em gestantes. Disponível em: <https://docs.bvsalud.org/biblioref/2021/05/1224070/femina-2021-492-p121-128-medo-do-parto-em-gestantes.pdf> Acesso em 3 maio 2022.