Uma pesquisa suíça publicada em 2019 conseguiu demonstrar que expor o bebê prematuro à música ajuda no desenvolvimento do cérebro. Isso parece acontecer porque a música auxilia no fortalecimento das redes neurais cerebrais, que costumam ser afetadas no nascimento prematuro.
Entenda melhor o estudo e qual a influência da música no desenvolvimento cerebral prematuro. Boa leitura!
Cérebro prematuro
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O cérebro prematuro é muito imaturo para que o bebê consiga sobreviver. Por isso a maior parte dos bebês considerados prematuros – que nasceram com 37 semanas ou menos de gestação – precisam ficar internados na unidade de terapia intensiva do hospital. A permanência em uma incubadora ajuda no desenvolvimento do recém-nascido, mas não é ideal. Afinal, mesmo nessa condição ele ainda está muito distante da realidade do útero, local onde ele deveria permanecer por algumas semanais mais.
As redes neurais imaturas são desenvolvidas durante a internação. Entretanto, os bebês ainda sofrem prejuízos sérios na vida devido ao nascimento precoce. O estudo apresentado neste artigo mostrará o resultado obtido através da exposição de bebês internados no Hospital Universitário de Genebra (Suíça) à uma música específica, produzida especificamente para eles.
Qual música?
Os pesquisadores de Genebra tomaram como problema o fato de que os déficits comuns dos prematuros costumam ter relação aos estímulos inesperados e estressantes do nascimento. Por isso, foi definido que os estímulos do ambiente ideal para um bebê prematuro precisam levar em conta a sua condição. Com isso, foi iniciado o processo de definição de possíveis estímulos agradáveis.
Uma vez que o sistema auditivo é desenvolvido bastante cedo, a música pareceu aos pesquisadores uma ideia genial. O problema seguinte seria definir qual tipo de música. O grupo de estudiosos contatou um compositor experiente em projetos musicais para populações frágeis. A escolha não poderia ser mais acertada, de acordo com os especialistas.
O compositor Andreas Vollenweider tocou diversos instrumentos aos bebês na presença de uma enfermeira. Esse contato inicial tinha o objetivo de entender a quais estímulos os pequeninos respondiam melhor. Com ajuda da enfermeira foi definido que o instrumento que gerou melhores respostas foi a flauta. De acordo com os diários de campo da pesquisa, até os bebês mais agitados pareciam se acalmar quase instantaneamente com a flauta.
Como o estudo funcionou e quais os seus resultados?
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Método do estudo
Foi comparado um total de três grupos: bebês prematuros expostos à música, bebês prematuros não-expostos à música e bebês não-prematuros e não-expostos à música.
Essa metodologia foi adotada para verificar se o cérebro do bebê prematuro exposto à música teria ganhos em relação ao desenvolvimento do bebê prematuro não-exposto. Outro objetivo era comparar o desenvolvimento cerebral normal e o desenvolvimento do cérebro prematuro exposto à música.
O estudo usou ressonância magnética para fazer as comparações.
Resultados obtidos ao comparar o cérebro prematuro e não-prematuro
Os bebês prematuros que não foram expostos à música apresentaram conexão neural mais pobre do que os bebês nascidos a termo. Com isso, foi (re)confirmado um dos efeitos negativos mais conhecidos do nascimento prematuro: a precaridade nas conexões cerebrais.
O prejuízo no desenvolvimento do cérebro prematuro é enorme porque o bebê ainda não está pronto para vir ao mundo. Ou seja, mesmo em um ambiente controlado como o hospital há uma série de estímulos que lhe são hostis. Por exemplo:
- Luzes acendendo e desligando
- Portas abrindo e fechando
- Vozes com tons e volumes sendo alterados
- Alarmes e outros barulhos ambientes estranhos
Claro que o bebê nascido a termo também é exposto à uma série de estímulos estranhos. Entretanto, a conclusão da gestação faz com que o cérebro desse bebê vá se aproximando da realidade da mãe. Por isso, apesar de sofrer com as mudanças, o bebê não-prematuro consegue lidar melhor com as modificações de ambiente pós-nascimento.
O estudo mostrou que as redes neurais dos bebês prematuros que ouviram a música tiveram melhoras significativas, em relação aos outros prematuros. Após analisar os achados, foi concluído que a organização neural do cérebro dos bebês prematuros expostos à música se aproximou mais do desenvolvimento cerebral dos bebês nascidos a termo, quando comparados com o grupo de prematuros não-expostos à música.
O que fazer com esses resultados?
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Este estudo foi iniciado há mais de cinco anos e vem sendo repetido com novos bebês na Universidade de Genebra (Suíça) desde então. A repetição do estudo é importante para confirmar os dados. Atualmente os pesquisadores estão organizando uma nova etapa do estudo: comparar as competências cognitivas das crianças que nasceram prematuramente e foram expostas à música com as prematuras que não foram, e também com as crianças não-prematuras.
Essa nova etapa está para ocorrer somente agora, porque é o momento de vida no qual as dificuldades de aprendizagem começam a aparecer. O objetivo é entender se os benefícios percebidos na primeira etapa do estudo se mantêm ao longo da infância.
Seria interessante que outras universidades, preferencialmente de outros países, também produzissem estudos com as mesmas características. Com isso seria possível verificar, por exemplo, quais as semelhanças e quais as diferenças nos resultados de um estudo com bebês suíços, com bebês espanhóis, argentinos, canadenses e com bebês brasileiros, por exemplo.
Esse tipo de achado é fundamental para o avanço do conhecimento e da tecnologia. Além disso, é com base nessas pesquisas que seria possível melhorar as políticas de saúde, adicionando nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal dos hospitais elementos que ajudassem o desenvolvimento dos bebês. Entretanto, antes de sair expondo os nossos bebês brasileiros à música, é fundamental que estudos nacionais sejam feitos, para confirmar os efeitos aqui, na nossa realidade.
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