Agora há pouco eu estava assistindo a um programa de televisão, no qual havia um casal às vésperas do nascimento do filho. Ela, esplendorosa, com aquela barriga linda e um sorriso estampado no rosto. Ele, animado com o nascimento do bebê, fazendo mil considerações sobre a mudança pela qual sua vida passaria em breve. E eu, do lado de cá da tela, pensando: “se você acha que sua vida vai mudar, espere só até seu filho nascer. Porque por mais que você imagine, não tem a mínima ideia até que isso de fato aconteça”.
Tenho pensado muito sobre o dia em que Catarina nasceu. Talvez porque ela tenha me pedido para contar como foi; talvez por ter certeza de que não passarei por outro dia como esse em minha vida. Mas hoje, três anos e meio depois, vejo que foi ali o início da maior transformação pela qual já passei. Não dá para voltar atrás – e não estou falando do corpo (porque essa é a parte que menos mudou), estou falando do coração.
O dia em que um filho nasce é aquele em que você deixa de ser cuidado para cuidar. Você deixa de ser protegido, para proteger. E isso cansa, dói, desgasta, a ponto de te fazer chorar, por vezes. É como se alguém desse uma martelada no seu coração, para quebrar toda a casca dura que existe em volta. Porque é preciso abrir, para que você consiga aprender a amar de verdade! Você acha que não vai conseguir dar conta, que nunca mais terá um momento de paz, que sua vida se resumirá à rotina diária (pesada) dos primeiros meses.
Mas o dia em que um filho nasce é também o dia em que você nasce de novo. Porque na hora em que aquela casca é quebrada, você descobre lá dentro força e coragem para ser a mãe ou o pai que seu filho precisa que você seja. Você percebe que só existe um caminha a seguir: para frente! Aí você se despede de quem você foi, com a sensação de que mudou para melhor.