Há um certo tempo, uma leitora do blog me escreveu, comentando que estava com um problema sério com seu filho. Ela estava percebendo que ele mentia com frequência, e gostaria de saber como lidar com a situação. Foi quando eu pensei: “puxa, que difícil dar uma opinião sobre o assunto!”. Então o tempo passou, Catarina cresceu, e vivenciamos algumas experiências em casa. Até que hoje eu me sinto um pouco mais preparada para compartilhar com vocês alguns aprendizados (e, por favor, entendam que eu não sou educadora, nem psicóloga – apenas uma mãe que observa, conversa com muitas outras, e tenta tirar algumas conclusões sobre os desafios do mundo da maternidade).
Por aqui, vejo que a pequena passou inicialmente por um período de “grande imaginação” – e não de mentiras, propriamente ditas. Parece estranho? Então explico: algumas vezes peguei Catarina inventando histórias super mirabolantes, de que tinha encontrado determinada pessoa, visto algum bicho, e por aí vai. É claro que eu reconhecia os pontos que não eram verdadeiros, e, mesmo que eu perguntasse mil vezes, ela continuava insistindo que aquilo havia acontecido (até leão no quarto ela viu!). Mas eu também percebia que não havia uma intenção de enganar nesses casos – ela apenas fantasiava (o que é muito comum em crianças de cerca de 3 anos de idade).
Atualmente, com 4 anos, as coisas são um pouco diferentes. Porque, esporadicamente, já acontece uma mentirinha ou outra – em geral, uma negação de algo que ela fez, para escapar da bronca. E o que acontece quando insisto para que ela diga a verdade? Ela admite (toda envergonhada e sabendo que haverá alguma consequência indesejada para o seu ato, mas admite). E eu a elogio por ter dito a verdade – mas não deixo de explicar que o fato de ter mentido foi algo errado (e de deixar que ela arque com o resultado disso).
Essa questão, foi, aliás, levantada na última reunião da escola da pequena. E eu achei muito interessante a colocação da coordenadora sobre o assunto: a de que a maioria das crianças começa a mentir por um motivo muito simples – o de auto-proteção. Seu filho quebrou seu vaso preferido e sabe que levará uma bronca? Pode ser que ele diga que não foi ele quem executou esse ato. Abriu o armário e comeu todos os doces que encontrou pela frente, quando você disse que ele não poderia fazer isso antes do jantar? É provável que sua primeira reação seja a de negar que desobedeceu. Então, o que fazer? Ignorar uma mentira pequena? Dar uma bronca e colocar a criança de castigo? Segundo a recomendação que recebi nessa ocasião, o melhor seria deixar claro para o filho que você sabe que ele está mentindo, e que gostaria de ouvir a verdade de sua boca. Tudo conversado, sem estresse – mas em um tom sério, de quem mostra para o filhote que ele já é grande o suficiente para fazer a coisa certa.
Ignorar uma mentira intencional (quando a criança já entende muito bem que não está contando o que de fato aconteceu) é dar espaço para que ela faça isso novamente. Por outro lado, repreender com rigidez pode não dar espaço para que o pequeno demonstre quais são os motivos que o levam a mentir (é possível que seu filho diga que está doente e que não quer ir para a escola, por exemplo, porque encontra alguma dificuldade naquele ambiente com a qual não está conseguindo lidar). Assim, o melhor caminho é sempre o do diálogo – mostrando ao filhote que quem diz a verdade tem o respeito e a confiança daqueles que o cercam.