Desde que Catarina nasceu, eu não consigo olhar para outras mães com os mesmos olhos. Nem para as outras crianças. Nesses dias, por exemplo, está um frio de trincar em São Paulo, e me dá um apertinho no coração quando vejo aqueles bebês tão pequeninos enrolados, sendo carregados nas ruas por suas mães.
Eu sei que a maior parte dessas mulheres que sai com o filho no frio, às 7 horas da manhã, não tem a opção de ficar em casa, cuidando dele. Elas agasalham seus filhotes da melhor forma que podem e os levam para as escolinhas ou creches, muitas usando o transporte público. Você nota que várias dessas crianças estão com o narizinho escorrendo, com o olhinho caído, mas vão do mesmo jeito – afinal, suas mães não podem faltar novamente no trabalho, sob o risco de perderem seus empregos. E aí eu penso: “como é difícil ser mãe e não ter ajuda nesse mundo”.
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Eu sei também que, depois de levantarem mais cedo para deixar seus filhos na escolinha, essas mães trabalham duro. Ralam o dia todo e fazem o caminho de volta correndo, porque não têm com quem contar para pegar essa criança na hora da saída. Ou ela está lá, ou ela está lá, não tem jeito! Faça chuva, sol, geada, neve, ela sabe que precisa dar um jeito na sua rotina para cuidar do filho.
Em uma escala muito menor, eu tenho passado por essa experiência, e posso dizer que é difícil pra caramba! Moro em um bairro muito distante de onde meus pais estão, por isso, no dia a dia, não posso contar com eles para ficar com a pequena. Levo pelo menos uma hora, de carro, para fazer o trajeto entre nossas casas, o que me impede de ligar e pedir: “pai, pega a Catarina na escola, por que vou me atrasar? Mãe, você dá almoço para a pequena, porque tenho uma reunião mais cedo?”. Não, tudo tem que ser milimetricamente calculado, porque sei que posso ficar presa no trânsito e não conseguir chegar na hora certa para pegá-la depois da aula (e se eu não estiver lá, quem estará? E antes que me perguntem, o marido está trabalhando mais do que eu).
Se você não tem ajuda, o pior acontece quando o filho fica doente, e você se percebe entre a cruz e a espada: “trabalho e o deixo doentinho na escola? Ou mando tudo para o alto e encaro a possibilidade de perder um emprego realmente bom, que demorei tanto para conquistar? Desmarco aquela reunião que poderia mudar minha carreira?”. Ou talvez quando é você quem fica doente! Porque você precisa levantar para cuidar do pequeno, mesmo que seu corpo inteiro está latejando. Você pensa: “mas como é que eu vou conseguir?”. Mas você consegue, simplesmente porque não tem opção. Porque nos dias de hoje, muitas vezes você não pode contar com sua mãe para cuidar da neta, porque ela ainda trabalha (e vai ter que trabalhar até o final da vida, porque não consegue viver bem com a aposentadoria). Porque o resto da sua família mora longe, ou porque eles também estão trabalhando tanto quanto você.
Não se trata de querer terceirizar o filho, não é isso. Mas é a simples constatação de que, se você não tem uma babá, um motorista, etc, vai ter que repensar toda a sua vida para conseguir dar conta da sua rotina, e da do seu filho. Infelizmente não vivemos mais como há algumas décadas, em que nós, mulheres, tínhamos muito mais ajuda de quem estava próximo. Vivemos cada vez mais isoladas, em cidades cada vez maiores, e onde o deslocamento urbano caótico nos impede de podermos contar com os outros. E não temos a infraestrutura de países que apostaram na paternidade/maternidade, ampliando tempo de licença pós-parto, estimulando turnos flexíveis de trabalho, tanto para a mãe quanto para o pai, para que esse possa, de fato, estar presente.
Não vivemos mais em aldeias, em que todos olham e cuidam de todas as crianças. Precisamos dar conta sozinhas. E mesmo que você tenha alguém para te auxiliar, saiba: o problema pode não estar na sua casa, mas ele existe (já parou para pensar onde estão os filhos da sua babá?). Precisamos pensar sobre isso e buscar alternativas. Porque é muito, muito difícil ser mãe e não ter ajuda.