Eu deveria começar esse post dizendo: leiam o que eu escrevo, não façam o que eu fiz. Porque quando minha filha Catarina nasceu, eu achei que deveria dar conta de tudo sozinha. Eu achei que se não a amamentasse pelo menos oito vezes por dia, se não a colocasse para arrotar (fosse manhã, tarde, noite ou madrugada), se não trocasse suas fraldas, se não a embalasse até que meus braços ficassem doloridos, se não a colocasse para dormir – detalhe: sem precisar da ajuda de ninguém – eu não seria uma boa mãe. O que eu não sabia, é que se eu tivesse aberto espaço para que outras pessoas participassem de sua rotina, provavelmente eu teria sido uma mãe mais calma e segura para a pequena.
Agora, olhando para trás, eu consigo enxergar isso, mas na época eu pensava estar fazendo o meu melhor (e por vezes chorei repetindo isso: “mas eu faço tudo o que eu posso!!”). E, considerando que eu não conseguia ver outra possibilidade, de fato estava fazendo o meu máximo, por isso não me sinto culpada. Mas se eu pudesse voltar no tempo, faria muita coisa diferente. Porque eu consegui me libertar da ideia de que boa mãe é aquela que bate no peito e diz: “eu dou conta!”.
A verdade é que essa necessidade de ser onipotente, de ser tudo e mais um pouco que o bebê precisa, é uma ideia recente. Porque na época de nossas mães, ou de nossas avós, as casas recebiam as mulheres da família, que se revezavam nos cuidados com o recém-nascido. A avó ficava o mês de “resguardo” inteiro ali – mostrando como fazer a pega correta, como acalmar o bebê, guiando a mãe na descoberta dos tipos de choro. E ainda apareciam as tias, as irmãs, as primas, até mesmo as vizinhas. Com a casa cheia, aquela mulher ia se descobrindo mãe. Sem sentimento de solidão, de abandono, de não ter a quem recorrer nos momentos de dúvida.
E hoje? Muitas vezes as avós trabalham, e não podem ajudar nos primeiros dias do bebê (ou se podem, o tempo disponível é bastante limitado). Os pais têm os cinco dias de licença que não dão para nada (quanto muito, para acompanhar a esposa na maternidade e levar o filho para casa). E, cá entre nós, coitados – estão mais perdidos do que qualquer outra pessoa, porque não foram preparados para a ideia de cuidar de um bebê. Babás só estão disponíveis para quem pode pagar (caro) pelo serviço – e, mesmo assim, podem ser vistas como maus olhos (“mas se a mãe precisa de alguém para ajudar, o que ela faz o dia inteiro em casa?”. Não, não é brincadeira, já ouvi muita gente falando assim…).
Então resta a mãe. Sozinha, esgotada, com aquele sentimento de que não sabe como conseguiu sobreviver mais um dia. Ela deita a cabeça no travesseiro e adivinhem – pela trigésima vez no dia, o bebê começa a chorar! Com tanto cansaço, ela não consegue raciocinar para descobrir o motivo do choro (e talvez comece a chorar junto). Resta apenas a esperança de que um dia aquilo tudo passa, e é a isso que ela se apega semana após semana.
E melhora. E passa. Com o tempo essa mãe vai descobrindo as alegrias da maternidade. Um amor que a preenche de tal forma, que faz todos os momentos de dificuldade ficarem pequenos. Mas a questão é que não precisava ter sido assim. Ela poderia ter pedido ajuda, sem se sentir uma mãe pior por isso. Sem que os outros achassem que sua necessidade de dividir o trabalho fosse “frescura”.
Eu desejo que no futuro existam menos super-mães, capazes de dar conta de tudo. E mais pessoas ao seu redor para dizer: “agora descanse. Deixa comigo”.