Há três anos, eu estava à procura da primeira escola de Catarina. E na ocasião escrevi dois posts sobre o assunto, com algumas dicas de uma mãe de primeira viagem para facilitar essa busca – observações e sentimentos que me guiaram, até o encontro do local que atenderia Catarina em seus anos escolares iniciais.

Agora, estou começando uma nova procura – afinal, coloquei a pequena em uma escola infantil, que a atenderá por mais um ou dois anos, e obrigatoriamente precisarei transferi-la para uma outra, com Ensino Fundamental (e, pela minha vontade, que também ofereça o Ensino Médio). E, nesse processo, tive a oportunidade de conhecer Giselle Magnossão, diretora pedagógica de um dos maiores e mais importantes colégios de São Paulo. O bate-papo foi tão incrível, mexeu tanto comigo, que eu achei que seria muito bacana compartilhá-lo aqui com vocês. Porque, conversando com outras mães, acabamos formando algumas ideias do que deve ser considerado no momento da escolha da escola – mas, raramente, conhecemos o ponto de vista de uma educadora (e que pode nos ensinar muito!).

Espero que vocês gostem da entrevista e que ela ajude na escolha da primeira, segunda, ou enésima escola do seu filho!

Imagem: 123RF

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Em linhas práticas, o que é importante que os pais considerem na escolha da escola? Os fatores que determinam a escolha da primeira escola também devem guiar a procura em outros momentos da vida da criança?

Em primeiro lugar, é importante ter em mente que essa não é uma escolha fácil, porque envolve muita emoção. Isso é natural, afinal, é como se entregássemos aos cuidados da escola nosso bem mais precioso – nossos filhos. E como não há um método formal de avaliação da qualidade de uma escola, os pais se sentem perdidos, diante de tantas opções.

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Eu, particularmente, gosto muito de um estudo feito pela McKinsey (uma das maiores empresas de consultorias internacionais), que avaliou as condições de ensino em vários países. Nesse trabalho, eles chegaram a quatro pontos-chave, que podem ser considerados os pilares de uma aprendizagem efetiva: a qualidade da equipe (professores e demais profissionais envolvidos nos cuidados com as crianças), do projeto pedagógico, da equipe gestora, e a valorização da individualidade do aluno.

É claro que em um primeiro momento é natural que a família avalie alguns aspectos práticos: quais as escolas próximas a sua residência, se cabem no orçamento familiar. E a partir daí, ela pode aprofundar seu olhar naquelas que condizem com sua realidade: entender como é a formação dos professores, da equipe, da direção, qual é a linha pedagógica que a escola segue, quais seus valores, o que ela oferece para atender as diferenças entre os alunos (tanto em suas dificuldades, como em suas potencialidades – porque também é importantíssimo não limitar aquele aluno que tenha uma aptidão natural, ou um grande interesse por alguma área).

Não importa se os pais estão escolhendo a primeira, segunda, terceira escola do filho. É importante que ela veja seus valores refletidos naquela que escolher. Observe como as crianças estão no pátio, na sala de aula, como as pessoas conversam, se comunicam lá dentro – isso diz muito sobre as relações humanas, e se elas condizem com o que você pratica em sua casa.

 

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O que é melhor: escolher uma escola que atenderá a criança até o Ensino Médio, ou apenas para a fase que está vivendo?

Não há uma resposta única para todas as famílias, nem para todas as crianças. Existem pais que optam por uma escola que vai do Infantil ao Ensino Médio, e ela funciona bem para aquela criança. Outros preferem uma escola menor no início, e então a mudança para um segundo espaço – e para aquele filho foi uma ótima opção.

A criança passa por fases diferentes, e não necessariamente a mesma escola a atenderá até o fim do Ensino Médio. E para fazer essa escolha, o melhor é que os pais se atentem em reconhecer as características do seu filho, e os próprios valores familiares – aí costuma dar certo!

Uma outra questão que vejo nos pais é se os filhos devem estudar na mesma escola. Por uma questão prática, essa é, em geral, a decisão da maioria das famílias, mas nem sempre a melhor alternativa. É importante, novamente, um olhar individualizado para cada filho, e uma conversa aberta com a escola, para que possíveis problemas possam ser contornados, ou a decisão por colégios diferentes seja tomada de forma mais tranquila.

Giselle Magnossão. Imagem: divulgação

Giselle Magnossão. Imagem: Assessoria

Existe algum consenso sobre qual é a melhor linha pedagógica? Aquela que apresenta melhores resultados?

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Não, não existe – tanto é que os pais podem encontrar escolas que seguem linhas completamente diferentes. E nesse mesmo estudo da McKinsey que citei é interessante perceber como escolas de regiões diferentes do planeta, que seguem metodologias completamente distintas, apresentaram resultados de aprendizagem semelhantes.

Uma linha pedagógica é, na verdade, um modelo que expressaria a forma como o conhecimento se consolida, como a aprendizagem se processa. Mas, na prática, escolas que seguem a mesma linha colocam-na em prática de formas diferentes (duas escolas construtivistas, por exemplo, nunca serão iguais – elas interpretam a linha pedagógica e a operacionalizam de maneiras muito próprias). É importante que a família perceba isso e escolha aquela com a qual se identifica mais – a que melhor traduza suas crenças e valores.

Por outro lado, acho importante lembrar que a escola tem o papel de trazer o aluno para a convivência no coletivo (mesmo tendo um olhar individual sobre cada aluno). Ela funciona como um degrau entre o espaço da família e o social – ao mesmo tempo que busca o atendimento às individualidades, é uma instituição, com um perfil que é o mesmo para todos os alunos. Por isso, dificilmente uma família encontrará uma escola que a atenda em 100% de suas expectativas – e é fundamental que os dois lados, escola e família, aprendam a trabalhar com as divergências que surgirão, inevitavelmente.

 

Principalmente na busca da primeira escola, muitas mães se preocupam com a questão da adaptação escolar. Esse deve ser um fator importante na escolha da escola?

Se a adaptação é motivo de preocupação dos pais, deve ser ponto de diálogo com a escola. Cada instituição escolhe práticas diferentes, de acordo com o que acredita – se os pais podem permanecer no local ou não, por quanto tempo, etc. E assim deve ser feito com tudo o que é valor para essa família – o vestibular, o desejo de que a criança estude fora do Brasil em algum momento de sua vida acadêmica, a prática esportiva… Antes de visitar as escolas em busca daquela que receberá seu filho, uma boa dica é fazer um check list do que é importante para esse núcleo familiar (e cada um terá o seu!): a forma de acolhimento da criança, aspectos da estrutura física, formação religiosa, formação em valores, e muito mais. Quanto mais consciente daquilo que deseja e em que acredita, mais preparada essa família estará para fazer perguntas para a escola, e realizar uma boa escolha.

 

Escola pequena ou grande? O que é melhor para a criança?

Mais uma vez, depende da família e da criança. Há vantagens e desvantagens em uma escola grande, assim como em uma pequena. Na grande existem mais processos para garantir a organização do espaço – os alunos precisam aprender a esperar sua vez, a fazer fila, mas, por outro lado, exercitam a autonomia. A pequena pode dar uma sensação maior de controle para alguns pais, principalmente dos pequenos. Mas não necessariamente é mais acolhedora, mais segura – depende muito da qualidade das relações pessoais construídas com os alunos. Aqui (no Sabin), por exemplo, temos um número grande de alunos, mas conhecemos cada um pelo nome, quem é sua família. Tudo depende da cultura, do DNA próprio de cada escola.

 

Depois da escolha feita, algumas dificuldades podem ocorrer. Até que ponto persistir e manter o filho naquela escola, ou não?

Eu acredito que nenhum extremo seja saudável – nem abrir mão da escola na primeira discordância, nem persistir além da conta. O diálogo de confiança é condição fundamental para se manter o filho em um ambiente escolar, pois trata-se de uma convivência intensa, e de longo prazo. E ele acontece quando a família sabe que pode se posicionar, assim como a escola.

Existem alguns pontos de alerta: e o primeiro deles é quando a família não consegue mais dialogar com a escola. E o outro quando a discordância acontece nos valores nucleares. Se você diverge da escola no que é periférico, que pode ser contornado, tudo bem. Mas quando é naquilo de que você não abre mão (e a escola escolhe uma posição contrária, seguindo suas crenças), todo mundo sente que a relação não está sendo boa. E então a mudança se faz necessária.

* Giselle Magnossão é diretora pedagógica do Colégio Albert Sabin. Formada em Português/Francês pela Universidade de São Paulo e Pedagogia pela Universidade Bandeirante de São Paulo, é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É membro do Grupo de Pesquisa Linguagem em Atividade no Contexto Escolar (LACE) e desenvolve pesquisa sobre gestão escolar e construção de culturas de colaboração, com foco na teoria da atividade, na formação crítica, na análise do discurso e na argumentação. Atuou como professora, coordenadora pedagógica e diretora em escolas particulares na cidade de São Paulo.