A maternidade é mesmo um grande tufão que passa por nossas vidas: se antes de ser mãe você tinha uma série de certezas, um filho vem para te mostrar sentimentos, conflitos que você sequer imaginava existirem. Eu, por exemplo, me achava uma pessoa calma, centrada – e não é que eu tenha deixado de ser depois do nascimento de Catarina: só percebi que, em determinados momentos, a força da leoa poderia tomar conta de mim. E, cá entre nós, essa sensação, que faz o coração quase sair pela boca, que te faz sair correndo atrás da cria para protegê-la, pode ser muito positiva – afinal, é o próprio instinto de preservação do filho se manifestando. Mas eu também descobri que ela precisa de controle: do contrário, você pode se descobrir muito mais possessiva do que desejaria ser (e vai por mim: isso não é bom para ninguém – nem para seu filho, nem para você, nem para o resto da família).
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Eu não sei se você experimentou esse sentimento, mas ele era muito nítido para mim: o de que eu precisava estar no controle, atenta, alerta. E sempre que penso sobre isso, me lembro de uma cena que aconteceu na maternidade, quando pessoas muito próximas (mãe, sogra, marido) me diziam: “descansa, dorme, que eu tomo conta do bebê”. E eu dormia? Apesar da exaustão de passar a noite inteira em trabalho de parto, sentindo contrações fortíssimas, eu praticamente não pregava o olho! E quando fechava, colocava a pequena ao lado da minha cama, e dormia com o braço sobre ela (literalmente colocando-a sob minha asas). Loucura? Quem é mãe talvez entenda…
O tempo foi passando, e é claro que aos poucos (bem aos pouquinhos mesmo!) eu fui relaxando. Mas não vou negar, não: eu sentia um ciúmes absurdo da pequena nos primeiros meses (anos?) de vida. Quando meu marido conseguia fazer com que ela parasse de chorar no meio de uma crise de cólica, eu ficava entre a alegria imensa de vê-la se acalmar e adormecer e a tristeza por pensar que ela poderia não gostar do meu colo (hoje, vendo aqueles dias com um bom distanciamento, parece até algo ridículo! Mas para uma mãe de primeira viagem, com as inseguranças e a queda hormonal típica do pós-parto, não era!).
Se Catarina chorasse no quarto ao lado, eu não admitia que qualquer pessoa chegasse para atendê-la antes de mim (“afinal, quem era a mãe ali?”). Se eu saísse de casa e a pequena reclamasse (e ela sempre chorava com esse distanciamento), eu ficava com o coração partido, e ao mesmo tempo me sentia importante, porque ela sentia minha falta! Demorou um bom tempo para que eu entendesse que eu podia ser uma boa mãe se deixasse minha filha sob os cuidados de outras pessoas. E que isso faria muito bem a todos – a ela, que teria a chance de estabelecer vínculos com o resto da família (porque é claro que a convivência com a mãe não basta, por melhor que ela seja!), aos avós, tios, amigos que desejavam estar mais próximos, e a mim, que teria um tempinho para respirar (porque vamos dizer a verdade: quando você tenta fazer tudo sozinha, sem ajuda, há momentos em que você acha que não vai aguentar).
Se você sente o mesmo pelo seu filho, queria que você soubesse que eu te entendo, e que você não é a primeira nem a última mãe a passar por isso. E que com o tempo ganhamos segurança como mães, para deixar que os filhotes voem, sabendo que o vínculo que estabelecemos com eles fará com que eles tenham vontade de voltar.