Quando Catarina tinha apenas quatro meses de idade, enfrentamos o auge dos problemas aqui em casa. Foi a época em que ela mais chorou (e todos me diziam que o período crítico de choro ia até o fim do terceiro mês, o que só aumentava minha preocupação com a pequena), em que os dias pareciam intermináveis, em que eu decidi que faria de tudo para que ela se acalmasse – nem que eu precisasse colocá-la no carrinho e passear o dia todo (o que de fato eu fiz! E não foi apenas uma ou duas vezes, perdi a conta de quantas tardes eu passei andando pelo condomínio!).
Foi também nessa fase que eu decidi procurar uma segunda opinião médica, uma vez que a abordagem com homeopatia proposta pela primeira pediatra não parecia fazer efeito (e antes que você me pergunte, também a alopatia não resolveu a questão). Mas eu precisava buscar respostas, alternativas, outras experiências que pudessem me ajudar com minha filha (literalmente, eu estava quase louca, à beira da exaustão).
Então caímos nas mãos de uma pediatra muito conhecida em São Paulo. Ela me disse que Catarina já deveria estar dormindo a noite toda sem acordar (pelo menos oito horas seguidas), pediu vários exames e a opinião de uma gastro-pediatra sobre o refluxo que ela apresentava (para saber se era fisiológico ou patológico), bem como sobre uma possível alergia ao leite de vaca. E soltou a seguinte consideração ao fim da consulta: “mãezinha, mas uma coisa você tem que entender – sua filha só chora assim porque você está mimando ela demais”.
Acho que vocês podem imaginar meus sentimentos quando saí porta afora. Uma das pediatras mais importantes da cidade me dizia que a culpa era minha, que eu não estava sabendo educar minha filha (de apenas quatro meses!). Em minha cabeça eu jamais poderia supor que um bebê tão pequeno pudesse estar mimado! Mas, considerando a imensa experiência da médica, achei que ela pudesse ter razão – o que me colocava como vilã da história.
Com as recomendações da pediatra, a primeira noite foi um sucesso: oito horas cravadas sem a pequena acordar. Mas adivinhem: o choro diurno continuava – Catarina chorava, praticamente gritava, sem parar. Segunda noite: a pequena acordou a noite inteira, completamente exausta (pois quanto mais cansado o bebê está, mais ele acorda, como vim a descobrir depois, lendo muito sobre o assunto). E nas noites seguintes, embora eu fizesse tudo igual, as oito horas de sono não se repetiam, nem o choro cessava. Voltamos à estaca zero, e mais uma vez eu estava perdida.
Um mês depois, já com a avaliação da gastro-pediatra de que o refluxo de Catarina era normal e de que ela não apresentava alergia a leite, voltamos à médica. Fisiologicamente não havia explicação para tanto choro (na verdade, meu sentir de mãe sempre me disse que o grande problema eram as sonecas curtas, que não a deixavam descansar e a tornavam um bebê muito irritado – mas era ignorada por todos os profissionais com que conversei). E, após ver o resultado de todos os exames, a médica me disse que minha filha era perfeita, apenas muito mimada.
Conto isso para vocês, não para desabafar (porque, é claro, na hora eu fiquei engasgada e só não voei no pescoço da médica porque estava com minha filha nos braços), mas para fazer três alertas:
1) Não, um bebê de poucos meses não é mimado! Não é birrento, nem intencionalmente faz algo para “manipular” a família. Ele pode estar, sim, habituado a uma certa rotina (dormir embalado, ou no carrinho, ficar no colo), o que é bem diferente. Ele pode chorar todas as vezes em que você tenta mudar esse hábito, porque se sente seguro com ele. O que não faz de você, mãe, a responsável por criar um pequeno monstro mimado.
2) Com um bebê cansado não existe conversa. A falta de sono é capaz de deixar qualquer um se sentindo mal. Não é assim com os adultos? Experimente dormir mal por um mês e me conte se você não fica irritado, bravo ou choroso. Com os bebês é o mesmo – e exatamente por se sentirem assim, eles querem aquilo que traz a sensação de segurança. Esse é o bebê que não quer ficar no colo de ninguém, só da mãe; que não quer comer, que brinca um pouquinho e já fica estressado. Aí todo mundo fala pra você: “mas é culpa sua! Deixa chorar que ele aprende!”. E aí você deixa (com dor no coração) e sabe o que acontece? Nada! Continua tudo do mesmo jeito (ou talvez um pouco pior).
3) Procure ajuda, mas sempre ouvindo seu coração. Se há profissionais que estudaram anos para cuidar de uma criança, certamente eles devem ser consultados e poderão ajudar com a saúde do seu filho. Siga as recomendações (porque não adianta fazer pela metade e dizer que elas não funcionam) e se coloque no papel de mãe, não de médica do seu bebê. Mas não deixe de ouvir aquela voz que fala na sua cabeça, sua intuição, que te mostra o caminho quando nada dá certo. A minha, nesse dia, me fez levantar da cadeira e dizer: “agradeço muito sua atenção. Mas não, minha filha não é mimada. Ela é apenas um bebê que precisa de ajuda (e estou indo nesse exato momento procurar alguém que realmente possa fazer isso)”.