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O escritor inglês Gilbert Keith Chesterton já dizia no final do século XIX que, “contos de fadas são a pura verdade. Não porque nos contam que dragões e bruxas existem, mas porque nos mostram que eles podem ser vencidos. ”
E é esse o sentido deles na formação da criança. Não é o fato do malfeitor ser punido no final da estória que torna a imersão nos contos de fadas uma experiência moral importante para a criança, mas sim, no fato de o herói sofrer e vencer sua luta, gerando uma identificação. Quando ele triunfa, a criança também sai vitoriosa. Ela entende que pode superar seus medos e anseios.
A seguir, listamos alguns benefícios da leitura de contos de fadas para as crianças, de acordo com dicas do livro “A psicanálise dos contos de fadas” de Bruno Bettelheim.
– Ajudam a lidar com assuntos delicados, como o medo da morte.
Os conflitos internos profundos originados em nossos impulsos primitivos e emoções violentas são todos negados em grande parte da literatura infantil moderna e, assim, a criança não é ajudada a lidar com eles. O conto de fadas trabalha o amor pela vida e o medo da morte e oferece soluções sob formas que a criança pode aprender no seu nível de compreensão. As batalhas das estórias mostram à criança que seus medos são normais. Impedi-la de se envolver com sentimentos ruins, levá-la a acreditar que é a única a sentir essas coisas, torna seus medos ainda mais assustadores. Saber que os outros (e até mesmo os heróis, príncipes e princesas) sentem o mesmo, ajuda a aliviar as angústias. O conto de fadas, assim, dá meios para vencer os medos de forma tangível, combatendo a bruxa e matando o dragão.
– Estimulam a imaginação e a criatividade
Algumas pessoas acreditam que os contos de fadas não apresentam quadros de vida “verdadeiros” e que, por isso, são pouco saudáveis. Não lhes ocorre que a “verdade” na vida de uma criança possa ser diferente da do adulto. O conto de fadas não tenta descrever o mundo real, nem a criança acredita que seja. Alguns pais temem estar mentindo para a criança, principalmente quando ela pergunta: “Isto é verdade”? Uma resposta adequada a essa pergunta, se “Isto é real”? seria: “aconteceu em um mundo muito distante, em outra época”. E para a criança, isso já basta. Muitos contos de fadas oferecem, inclusive, essa resposta já no início: “em épocas longínquas”, “era uma vez”, “num reino muito distante”, deixando claro que as histórias ocorrem em um nível diferente do da realidade. Eles existem na terra da fantasia, sendo verdade apenas na nossa imaginação. Toda a criança acredita em mágica e deixa de fazê-lo ao crescer. Alguns pais temem que a mente da criança possa ficar tão entupida de fantasia de fadas, que não aprenda a lidar com a realidade, mas uma criança criativa, que sabe ressignificar as coisas, torna-se um adulto com maior autocontrole a capaz de lidar melhor com adversidades.
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– Estimulam a empatia para com o próximo
Os contos de fadas transmitem a ideia de que para conseguir vitórias e firmar nossa identidade, devemos passar por processos difíceis, encontrar perigos e provações. Mas, embora o auto-desenvolvimento seja meritório, isso ainda não basta para que sejamos felizes. Para sermos felizes precisamos do outro. De estar com o outro, de contar com seu apoio e poder ser ao seu lado, o que realmente somos. Por isso, essas estórias sempre terminam com finais felizes em que os amigos e companheiros dividem momentos de alegria e cumplicidade.
– Criam memórias positivas ao lado dos pais
Quando os pais contam uma história para uma criança, compartilham com elas esses momentos, gerando laços de afeto e cumplicidade. Ao tornar a leitura um hábito prazeroso, a criança crescerá com essa boa lembrança, o que a ajudará, inclusive, na aquisição de novas palavras, no incentivo à leitura e na criatividade.
Artigo carinhosamente enviado por Flávia Girardi.
Flávia Girardi é jornalista, mãe e pedagoga. Também é autora do livro “A formiga que queria voar”, da Ases da Literatura. Contato: @flavia.girardi_