Na vida materna, existem muitos temas que viram tabus que, de tão espinhosos, são jogados para debaixo do tapete, escondidos para evitar confusão e bafafá.

A intromissão, palpites e críticas feitos pelas pessoas que amamos sobre nossa maneira de educar os filhos é um deles. Mas nós precisamos encarar esse desafio e propor um diálogo transparente e cuidadoso sobre esse assunto tão importante, que nos afeta, inquieta e muitas vezes até machuca.

Precisamos poder purgar essas dores, desfazer mal-entendidos, apresentar nossas vulnerabilidades, estender nossas mãos para o entendimento e conseguir pedir colo quando necessário. Então, vamos juntas, compartilhando sentimentos com uma carta de verdades e peito aberto!

carta às pessoas que amamos

Imagem:123RF

Querido/querida,

Eu sei que você não concorda com muito do que faço, do que penso e do que escolho em relação ao(s) meu(s) filho(s). Acho que isso faz parte e é natural, afinal de contas somos indivíduos, com histórias, personalidades, experiências, visões de mundo e pensamentos próprios, complexos e únicos.

Eu entendo que o laço e convívio que temos fazem com que você sinta a necessidade de transbordar suas sensações, impressões e opiniões sobre a forma com que lido com a criação do(s) meu(s) filho(s). E muitas vezes você faz isso porque quer me ajudar, porque acredita que precisa me alertar, porque sente que pode me poupar, enfim, com intenções positivas.

Mas eu tenho de dizer a você o que sinto com seu compartilhamento de ideias ou intervenções quanto ao meu modo de exercer a minha maternidade. Eu percebo que muitas vezes as suas sugestões e observações chegam a mim como críticas um tanto duras. Suas palavras, em algumas ocasiões, tocam em questões delicadas e, mesmo que sejam para me fazer refletir, muitas vezes me causam chateação, desânimo e, às vezes, até um sentimento de injustiça. E, você sabe, porque com certeza já sentiu o gosto amargo da reprovação, como é ruim sentir isso.

E não é só incômodo: é pouco eficiente, não é mesmo? Porque, quando fico ferida, em vez de conseguir me conectar a você e enxergar novos caminhos, eu me sinto estagnada, ressentida e fico achando que preciso me blindar contra aquilo que recebo como ataque (mesmo que você não queira isso).

Com esse desabafo, tenha certeza que não quero criar um muro entre nós nem inspirar mágoas ou desavenças. Pelo contrário! Quero propor que a gente tente estabelecer um outro tipo de conversa sobre os assuntos relacionados ao meu modo de agir como mãe.

Eu gostaria muito que você demonstrasse que também enxerga os meus acertos, esforços e virtudes. Ser elogiada por você faz muita diferença para mim. Palavras carinhosas, de incentivo e de empatia têm um poder danado! Elas são tão mágicas que chegam até a abrir espaço para que certas críticas possam ser apontadas sem causar estardalhaço, sabe? Ou seja: procure observar e comentar também o positivo, para que o negativo não chegue a mim como um balde de água fria. Além disso, escolha a melhor maneira de se comunicar, sem ofensas ou acusações inflamadas que, de cara, enterram qualquer chance de diálogo. Não tenha dúvidas de que, assim, eu buscarei retribuir com gentileza.

Entenda, por favor, que eu sei que sou uma mãe falível e imperfeita (como todas são), mas eu tento de verdade dar conta dessa missão tão difícil. Eu desejo ser uma mãe cada vez melhor, mas essa caminhada é minha e é pessoal e intransferível. Hoje sinto na pele que não é possível – nem justo – doar experiência. Construir a minha história como mãe é um dever e um direito meu. Então, por favor, esteja comigo nessa jornada, me oferecendo, além de seus conselhos, também sua ajuda, seus ouvidos e abraços.

Com carinho,
De uma mãe que acredita muito na força das palavras.