Engraçado como nossos filhos sempre nos surpreendem. Quando você acha que já conhece seu pequeno como a palma da sua mão, percebe um pontinho ali que não sabia que existia. Talvez porque com o tempo, até a palma das mãos muda. Novos riscos surgem, alargam-se. Assim também acontece com os filhos, que vão crescendo e mudando. O processo é lindo, mas um pouco espantoso também.
Ontem, arrumando as coisas de Catarina, percebi que ela saiu correndo para separar um caderninho, antes que eu guardasse. “É meu diário, mamãe”, ela disse, com um sorriso nos lábios. “Ah, me mostra, filha?”, perguntei, tendo certeza de que ela responderia afirmativamente. Só que não foi o que aconteceu: “mãe, tem coisas aqui que eu não quero que você leia”. Como assim? Meu bebê tendo segredos? Não seria possível uma coisa como aquela.
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Claro que eu menos de cinco minutos eu já tinha dado um jeito de ler o que ela não queria me mostrar. Aliás, era só uma página, porque o restante ela deixou que eu lesse, com satisfação. Enquanto ela estava na mesa do almoço, corri para o quarto a fim de ler a parte que faltava. Sei que algumas mães podem não concordar, mas eu sou super a favor de ler diário de filho. E já explico o porquê.
Eu não esperava que o segredo de Cacá fosse algo muito importante. Talvez estivesse escrito ali o nome de um coleguinha de que ela gostasse mais, ou talvez o relato de uma briga com uma amiga. Mas o fato é que o mundo em que vivemos é tão duro, difícil, que nós, pais, precisamos estar atentos. As chances de ser algo mais grave são mínimas, mas elas existem. E é por isso que eu acredito que temos o direito a essa espiadinha. Que, aliás, também terá uma boa dose de segredo: ninguém precisa saber que você deu, muito menos seu filho (porque aí, obviamente, você perde sua fonte de informação).
Com o passar do tempo, acredito que Cacá ficará mais atenta a seu diário. Irá escondê-lo e dar mais trabalho para encontrá-lo. Mas quando isso acontecer, imagino que ela também ficará menos ingênua e susceptível aos males do mundo (será?). Talvez seja essa a parte mais difícil de ter um adolescente em casa: saber que você não pode protegê-lo, até porque não terá tanto acesso às informações de sua vida. É a conquista da privacidade, que faz parte da vida futura, mas que é tão doída para quem gerou e sempre protegeu aquele serzinho.
Enquanto isso não acontece, eu aproveito minha fonte privilegiada de informações sobre a minha filha. Eu também tive vários diários, e sei como é gostoso escrevê-los. Compartilhar ali o que há de mais secreto para você. Hoje tenho plena consciência de que minha mãe também os leu, embora sempre tenha negado. Mãe, obrigada por estar cuidando de mim, mesmo quando eu achava que estava fazendo algo sozinha.
* PS – Cacá acabou me mostrando a página secreta para mim. Expliquei que é importante que nós mantenhamos sempre uma conversa franca, aberta, e ela concordou em me mostrar (mesmo eu já sabendo o que estava escrito, achei fundamental ter esse diálogo!). Fiquei feliz.