Acho que toda mãe tem a percepção de que o tempo voa. De que, por mais que nós desejemos, ele escorre por nossos dedos, mesmo com toda nossa vontade de agarra-lo, para não soltar mais. Vemos nossos filhos crescendo e se tornando independentes. Assistimos ao processo com muita alegria e uma certa dose de tristeza, porque sabemos que um dia não os teremos mais tão perto. Tão debaixo das nossas asas.
É esse sentimento que extravasa no texto de hoje, da querida Flávia Girardi: uma leitora, amiga e autora do blog Cartas para Alice (veja aqui). Veja o texto lindo que ela compartilha conosco aqui, e aproveite para seguir toda a sua sensibilidade no blog dela também!
—
Por Flávia Girardi
Imagem: 123RF
Ouvindo o pai assobiar, a Alice ficou tentando, tentando, até que, meio decepcionada, desistiu e me olhou, com a sabedoria de uma criança de 2 anos: “Amanhã, quando eu crescer, eu vou conseguir”. E eu fiquei pensando que ainda ontem eu ia ao médico fazer as ultrassonografias para ver se estava tudo bem com meu bebê, se havia ganhado peso.
Ainda ontem eu ficava imaginando como seria a carinha dela, fazia o enxoval, arrumava o quartinho. Me lembro com se fosse “ontem” quando terminamos a decoração e eu e meu marido ficamos parados na porta, admirando e imaginando como seria quando ela já estivesse lá…
Ainda ontem, ela era tão pequenininha que dava medo de pegar, de dar banho. Ela chorava por horas e horas por causa das cólicas e eu ficava pensando quando tudo aquilo iria acabar. Ainda ontem eu evitava sair de casa com ela, até que tomasse todas as vacinas e eu tinha um horror enorme quando beijavam as mãozinhas, que é claro, em poucos segundos ela levaria a boca.
Ainda ontem ela experimentou pela primeira vez uma fruta. Ela virou, engatinhou, ficou em pé no berço. Ontem mesmo ela começou a andar. De andar passou a correr. Caiu e foi se amparar em meus braços. Ainda ontem ela falou mamãe pela primeira vez. Ainda ontem ela foi para a escolinha pela primeira vez e nós choramos tanto! Porque sim, foi nossa primeira – ainda que curta – separação.
Ontem mesmo ela dormiu sozinha na cama, perdeu o sono e foi até a sala deitar no meu colo. Hoje acordou com tanta preguiça que foi difícil trocá-la pela manhã. Hoje mesmo ela me beijou, cantou um monte de músicas e entrou sorrindo pela porta da escola.
Amanhã tantas coisas virão. Seu vocabulário ficará mais vasto, suas responsabilidades também. Amanhã suas férias não serão mais duas vezes ao ano, suas provas ficarão mais difíceis. Você vai conhecer novas pessoas, novos pontos de vistas. Vai ouvir alguns nãos (nem sempre tão zelosos como os nossos). Vai descobrir que o mundo lá fora pode ser duro, que algumas pessoas podem te fazer chorar, mas que sempre haverá quem te conforte. Para onde possa correr. Verá que esses obstáculos, por mais difíceis que sejam, te farão mais forte e que a escolha (de sempre ver o lado bom das coisas) será sempre sua. Verá que muitas coisas que fazemos não são tão perfeitas assim.
Amanhã você nos ensinará muitas coisas. Amanhã papai e mamãe não terão tanta vitalidade para correr, pular, te jogar para o alto e, certamente, será a sua vez de cuidar de nós. Amanhã você se lembrará de coisas que fizemos juntas e isso te encherá de saudades e de alegria. Amanhã você terá sua casa, sua família. Será a sua vez de segurar seu filho no colo. Amanhã um universo de novidades, de surpresas, de mudanças se abrirá. Mas que amanhã demore a chegar…