Quando Catarina era mais nova, eu me pegava pensando em uma mesma coisa todos os dias: será que eu voltaria a passar um dia inteiro sem escutar choro do bebê? Sim, estávamos naquela fase em que a pequena chorava por tudo: porque tinha fome, porque tinha sede, porque não queria comer um determinado alimento, porque precisa dormir e resistia. E eu confesso: às vezes essa rotina era de enlouquecer.
Mas o tempo passou, e a pequenina cresceu. Claro que ainda chora, mas não todos os dias. Há vezes em que só resmunga, outras em que choraminga e depois cai na risada. E eu, que só conseguia olhar para os momentos em que ela chorava, passei a ter tempo para me enxergar. Para ver que mãe também derruba suas lágrimas, e por muito mais tempo que os filhos. O tempo passa e eles ficam mais fortes; e nós ficamos mais emotivas e saudosas. A maternidade nos fortalece por um lado: porque passamos a acreditar que somos capazes de lidar com os maiores problemas, pela saúde e felicidade de um filho. Mas, por outro, nos torna mais sensíveis, porque quebra aquela casca que gastamos tanto tempo para construir ao nosso redor, como defesa do mundo. Então eu só queria dizer que:
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– Tudo bem se você chorar porque está cansada. E esse sentimento provavelmente só será entendido na íntegra por outra mãe. Não é o cansaço do trabalho ou do trânsito, mas sim das noites passadas em claro, de fazer todos os dias a mesma coisa, de não ter folga de segunda a segunda. É também o cansaço emocional, de lidar com as birras, de educar, de ser exemplo, de querer acertar sempre.
– Tudo bem se você chorar porque tem saudade de uma outra vida. De acordar a hora que quiser no fim de semana, na casa arrumada, de fazer os programas que os casais sem filhos fazem (e você provavelmente levará anos para fazer novamente). De sair de casa sem hora para voltar (aliás, de sair de casa!). De comer uma comida quentinha, que acabou de sair do forno, ao invés de gastar meia hora brigando para que o pequeno coma duas ou três colheres.
– Tudo bem se você chorar porque precisa de ajuda. Pode ser que você não tenha com quem contar, e nesse caso a única coisa a ser feita é desabafar, deixando as lágrimas rolarem. Pode ser que você até tenha, mas que o preço a ser pago seja alto o suficiente para que você continue em frente sozinha. Mas pode ser que você encontre um ombro amigo – uma mãe estendida que te fortalece, um ouvido que te escuta sem julgamentos. Então vale chorar sem sentir culpa.
– Tudo bem se você chorar porque te magoaram. Porque disseram que você não é uma boa mãe, porque brigou com o filho (mesmo acreditando que era o melhor a fazer). Mas tenha dentro de si a certeza de que você exerce a maternidade da melhor forma que consegue, e que a cada dia que passa essa experiência de aprimora. E que o amor entre mãe e filho é maior do que qualquer discussão – ele supera mágoas, tristezas, e sempre une novamente os corações, quando há respeito mútuo.
– Tudo bem se você chorar pela dor de um filho. Porque nenhuma mãe é de ferro, nem tem o coração de aço. Porque a dor que mais dói é a que lhe chega pelos olhos do seu pequeno – quando ele caiu e se feriu, quando foi ao hospital, quando teve medo de ficar sozinho, quando quis muito algo que não deu certo.
– Por fim, tudo bem se você chorar porque sentirá saudade. Porque percebe que cada dia que passa é um a menos na contagem da saída do ninho. Porque já sente falta dos seus cachinhos, do cheiro do seu cabelo, das suas pernas gordinhas, do seu sorriso com apenas dois dentes, do seu abraço apertado, de dormir agarradinho – sabendo que ali ele está protegido de tudo. Porque você sabe que seu colo não será para sempre, nem aquele olhar de que te acha uma super heroína. Porque você sabe que o dia em que for embora vai doer bem no fundo. Todo mundo acha que um bebê ocupa o espaço de uma barriga. O que não sabem é que ele preenche todo o coração (que passa a pulsar fora do corpo da mãe, depois do parto).