Que o melhor alimento para o bebê é o leite materno, isso não há dúvidas. Contudo, o ato de amamentar nem sempre é possível. Em primeiro lugar, se a mãe é portadora de algumas doenças (como AIDS), ou faz uso de determinados medicamentos, pode ser recomendado que ela não ofereça o peito à criança, pois a prática oferece riscos ao pequeno. Mas, além dessas restrições mais conhecidas, a mulher pode apresentar outros problemas que dificultam a amamentação, como quando o leite não vem em quantidade suficiente (mesmo com o uso de técnicas, estímulos e até de medicamentos, para fazer isso acontecer). Quem passou por essa experiência foi a leitora Marcela Gaudencio, que gentilmente compartilhou conosco esse momento com o filho Victor (obrigada pelo carinho e confiança em compartilhar sua história de luta conosco!).

Assim como ela, muitas mães passam por situações semelhantes (eu mesma tive que oferecer complemento à Catarina, como já comentei aqui no blog), e é por isso que o relato dela está hoje aqui no blog. A proposta aqui não é polemizar o assunto (até porque amor de mãe, seja “no peito ou na mamadeira”, não se mede nem se compara, não é mesmo?), mas levantar informações úteis sobre amamentação, para que a mulher entenda o que pode acontecer após o nascimento do filho (e que, nem sempre, as coisas são tão automáticas como imaginamos).

Imagem: 123RF

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A primeira experiência de amamentação

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As desconfianças de Marcela de que havia algo errado com a amamentação começaram ainda na primeira noite com o filho no hospital. Apesar do pequeno ter nascido saudável (com 3,1kg e 47cm), ele não pegava no peito e chorava muito – então uma enfermeira decidiu levá-lo do quarto para, segundo ela, tomar um complemento. Na volta, o Victor foi devolvido à mãe tranquilo e dormindo.

Contudo, no dia seguinte, Marcela conta que recebeu uma bronca da pediatra, por ter deixado aquela situação acontecer (mas como contestar, sentindo-se ainda anestesiada e sob os efeitos ainda intensos da cirurgia?). “Fiquei com medo e, desde então, passava o dia com o Victor no peito, achando que ele estava mamando. O colostro ele recebeu”, lembra a mãe.

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Além do alerta da médica, as perguntas das pessoas a deixavam confusa sobre as mamadas. “Elas me perguntavam se meu leite tinha descido e eu não entendia. Minha mãe dizia que quando isso acontecia, era como se houvesse uma pressão no peito e doía muito, mas eu não sentia nada, absolutamente nada”, afirma. “O médico que foi no quarto dizia que era para eu dar um peito todo e depois o outro. Ele dizia que meus peitos ficariam de tamanhos diferentes quando isso acontecia, mas eu não sentia nenhuma diferença entre eles, depois que o Victor mamava o primeiro”.

 

Rejeição do peito e perda excessiva de peso

Além de todas essas dúvidas no hospital, mais um problema: Victor já tinha perdido muito peso desde o nascimento, mais de 10% (limite considerado tolerável pelos pediatras; é comum a perda de peso no recém-nascido, pois o colostro – que é o líquido que a mãe oferece nas primeiras mamadas – possui pouca gordura na composição. Contudo, uma perda de peso maior do que 10% é preocupante e, em muitos casos, já é motivo para indicação de complementação). E, para piorar a situação, a mãe recorda que o pequeno só dormia e, quando ela dava o peito, ele chorava muito e não queria mamar.

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Marcela recebeu então a orientação de uma pediatra para usar um bico intermediário de silicone ao amamentar. “De acordo com ela, o bico do meu peito seria o que chamam de ‘semiplano’, e o Victor tinha perdido peso pois tinha se desgastado muito tentando mamar”, explica a mãe, referindo-se ao formato dos mamilos (mamilos planos são aqueles que não despontam para fora; para facilitar a mamada nesses casos, pode ser realmente indicado o uso de acessórios auxiliares). Marcela então passou a fazer uso do silicone na tentativa de ajudar o filhote a pegar no peito. “Doía muito. Mas eu achava que essa era a dor de amamentar, e fiquei mais tranquila”.

Para auxiliar ainda mais no processo, a mãe ainda recorreu a uma maternidade famosa pela equipe de orientação ao aleitamento materno. Mas a ida até lá só serviu para deixá-la ainda mais confusa. “As enfermeiras me disseram que eu não precisaria usar o bico de silicone e que, assim, o Victor iria aprender a pegar o peito com facilidade (é dessa forma mesmo, cada pessoa te fala uma coisa e você fica ali no meio de tudo, sem saber o que fazer). Mas isso não aconteceu”, recorda.

 

Internação e a luta para amamentar

A orientação de uma pediatra para uma dieta com leite em pó veio somente após mais duas consultas em outros profissionais. A médica ainda solicitou uma bateria de exames do bebê, e o diagnóstico chegou: desnutrição e desidratação. Ele precisou ser internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) neonatal, e ainda teve apneia e hipoglicemia.

Mas após o susto e as medidas de emergência, deu-se início a recuperação do pequeno. “Ele foi internado com 2,460 kg (havia perdido 640 g em uma semana) e, em 4 horas, já havia engordado 200 g”, lembra a mãe.

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E, mesmo durante esse período, a luta para tentar amamentar o filhote persistiu. “Nos dias no CTI, eu tentava ordenhar meu leite, mas o máximo que consegui retirar foram 27 mL. Nesse período, o Victor desaprendeu a sugar e continuava recebendo a alimentação através de sonda, e isso me deixava desesperada, pois eu só conseguia pensar bobagem. Eu achava que meu filho não conseguiria mais mamar e que seria alimentado através de uma sonda para o resto da vida.”

 

Persistência

Depois que o pequeno teve alta, a mãe passou a oferecer a ele complemento em casa – mas só após as mamadas. “Mas ele ficava muito nervoso quando pegava meu peito e eu cheguei a achar que ele me rejeitava. Eu chorava o dia todo e não tinha prazer em olhar para ele. Tinha medo dele. Tinha medo de não conseguir manter meu filho saudável”, desabafa Marcela.

A opção por não amamentar mais no peito, e somente com o leite artificial, veio só um mês depois. E o que contou muito nessa decisão foi o apoio que ela recebeu da família e também do pediatra. “Não foi nada fácil. Eu me sentia culpada, muito culpada. Primeiro por não ter leite e não ter conseguido amamentar meu primeiro filho; depois, por não ter percebido que a vida dele estava indo embora na minha frente e eu não percebi nada; e, ainda, por não ter questionado os médicos aos quais fomos”.

 

A recuperação – de filho e de mãe

Ainda que a mãe se culpasse, o resultado da decisão, sentido hoje, não poderia ser melhor: o Victor está com 5 meses e meio, 8 kg “e com uma alegria contagiante”, de acordo com ela. “Se eu puder dar um conselho às mães que passarem por qualquer experiência parecida com a minha, eu direi para não ter medo de dar o leite artificial, se essa for a recomendação médica. Pois ela não será menos mãe por causa disso”, declara Marcela. “Seu filho vai ser apaixonado por você e essa é uma das melhores sensações que existe. Eles nos amam incondicionalmente e precisam muito da gente, mas precisam que estejamos sadias, do corpo e da mente.”

Imagem: Arquivo pessoal

A família hoje. E o pequeno Victor saudável e com alegria contagiante! (Imagem: Arquivo pessoal)

Como a própria mamãe nos relatou, ela teve problemas, ficou confusa, mas procurou ajuda, recebeu orientação profissional e, ainda assim, a amamentação no peito não foi em frente. Claro que todas as tentativas são extremamente necessárias para fazer o aleitamento materno dar certo, mas, se não for possível, não hesite em buscar outras opções (sempre com a orientação do pediatra). Pode ser que seja necessário oferecer ao filhote complemento junto com as mamadas, leite artificial, ou leite pasteurizado do banco de leite (e às vezes é por apenas um tempo, até que as coisas se normalizem e o aleitamento materno volte a acontecer). A opção que for indicada pelo profissional de saúde não te fará menos mãe, ao contrário, revelará muito do instinto materno: quando é preciso abrir mão de alguma coisa que queremos muito (ou que sempre julgamos ser o mais correto, em todos os casos) para oferecer o que é o melhor para os nossos filhos.