O nascimento de um filho é um dos acontecimentos que mais modificam a vida de uma mulher. Nós, mães, nos percebemos mais fortes, aprendemos a ser mais independentes (porque você sabe que tem um pequenino ali, frágil e dependente, que precisa que você saiba se virar), e começamos a enxergar o mundo além do próprio umbigo. E esse último aprendizado é dos mais difíceis e preciosos que a maternidade nos dá de presente.
Tudo começa ainda na gravidez. Você, que estava acostumada a comer o que quisesse, precisa aprender a conter os próprios desejos em função de um serzinho que habita seu útero. Se você se entupia de comidas cheias de produtos químicos, tomava quatro cafés por dia, sabe que terá que começar a se alimentar melhor – e se até então isso não tinha importância, decide que é hora de mudar (não por você, pelo outro!). Nessa fase, você divide alimento, oxigênio e até o próprio espaço do corpo – quem não se lembra dos chutes nas costelas?
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Mas esse grau de doação não tem comparação ao que você descobre ser capaz de realizar depois que o bebê nasce. Você direciona o que há de melhor em seu corpo para a produção do leite materno (porque eu tenho certeza de que ali não há só nutrientes – existe amor na forma líquida!). Você dedica seu tempo, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Você dorme mal, come o melhor que pode, e se dispõe a deixar o mundo lá fora para cuidar daquele que ainda parece fazer parte do seu interior. E talvez faça, porque se o cordão umbilical já foi cortado, parece existir um outro, ainda mais forte, que te une ao filhote até o fim da vida.
Com o tempo, você começa a perceber que pensa no filho em primeiro lugar. Você passa a cozinhar sempre seu prato preferido (já o seu, você nem se lembra qual é), modifica sua vida profissional para acompanhá-lo mais de perto (mesmo que isso signifique desistir, ou pelo menos adiar a possibilidade de uma carreira brilhante), deixa de gastar com você para juntar dinheiro para aquela viagem com que ele tanto sonha, ou para pagar uma escola melhor. Então você pensa: e não é que dá para ficar menos egoísta?
E quando você acha que o filho já te ensinou tudo o que podia sobre o altruísmo, sobre pensar primeiro no outro, você descobre que o caminho a ser trilhado ainda é longo. Porque você se pega desejando que o pequeno não cresça, para ficar debaixo das suas asas. Porque só de pensar que um dia ele crescerá e poderá ir para longe, seus olhos se enchem de lágrimas, e seu coração fica tão apertado que parece faltar o ar. Porque quando você imagina que um dia ele terá sua própria casa, sua própria família, você se entristece (como é que sua vida ficará tão vazia? Você não consegue mais imaginá-la sem as risadas, sem a bagunça, sem alegria que pulsa com uma criança).
Quando você descobre que a maternidade é um grande treino para se tornar menos egoísta, também percebe que terá que exercitar a vida inteira. Que haverá momentos em que para seu filho ser feliz, você terá que engolir a danada da saudade. Porque ele não é seu, é apenas uma luz que veio ao mundo através de você, e que sairá para iluminar o mundo.