Há dias em que nem mesmo eu me aguento – pareço uma vitrola quebrada, pedindo dez, vinte, cinquenta vezes que Catarina deixe os brinquedos e vá almoçar, que coloque o uniforme para ir à escola, que pare de correr pela casa para tomar banho, que deixe tudo organizado e que finalmente deite na cama para dormir. Há dias em que eu me sinto uma verdadeira chata, que interrompe um passeio super legal da família porque a pequena deveria ter jantado ou dormido horas antes. Há dias em que eu me sinto a policial da rotina, a única estressada para que as coisas continuem em ordem e a casa funcione sem grandes intercorrências.
E, para ser muito sincera, nesses dias eu não consigo deixar de pensar na minha mãe. Sim, aquela que eu chamava secretamente de general da casa: “afinal, para que tanta ordem? Por que tanto estresse para que as coisas não saiam do rumo?”. E sabe o que é o pior: ela me avisou que um dia eu a entenderia. E depois do nascimento da pequena, eu passei a fazer exatamente o mesmo.
Eu era aquela mãe que voltava para a casa na hora da soneca – porque sabia que se não fizesse isso, Catarina ficaria chorosa, e me daria o dobro do trabalho. Eu era aquela mãe que não mantinha o bebê acordado para que ele visse a virada do ano (que ano? Catarina não sabia nem o que era amanhã, quanto mais ano novo!). E, com o passar do tempo, percebi que poderia haver uma certa flexibilidade na rotina – mas que era ditada pelo bem-estar da pequena.
Um bebê de poucos meses não consegue esperar uma hora com fome, mas uma menina de três anos pode passar uma hora do horário habitual do almoço (mas daí a dar a comida às quatro da tarde, é uma coisa bem diferente!). Provavelmente você não conseguirá manter um bebê de um ano acordado durante o réveillon; mas uma criança de quatro anos pode achar isso divertidíssimo. Ou seja, acho importante que em algumas ocasiões as regras sejam flexibilizadas, mas respeitando o limite do que é bom para o pequeno, e para toda a família.
Talvez ser mãe seja se tornar a chata da rotina, porque nós sabemos exatamente que o preço a ser pago, quando se extrapola esse limite, pode ser alto. Você começa pagando um pouquinho, quando o filhote se transforma no maior encrenqueiro do lugar porque está com fome. Depois começa a pagar mais, quando ele está com sono e resolve fazer o maior escândalo fora de casa. E pode terminar “deixando as calças”, quando o pequeno fica doente (porque é certo como matemática – criança que sai demais da rotina fica com seu sistema imunológico comprometido, e começa a pegar todas as infecções que encontra pela frente).
Aí, quando você pensa em tudo isso, acha que sai barato ganhar o título de chatinha da casa. De estressada, irritada, impaciente. Porque no fundo não importa que concordem com você; o mais importante é que a melodia da orquestra não desafine, porque tem o olhar atento do maestro.