Pai não ajuda. Pai não é rede de apoio. Pai não faz favor para a mãe, cuidando da criança, quando ela está ocupada. Pai não “faz a parte dele”, quando se limita a trabalhar fora e arcar com as despesas financeiras. Ao voltar para casa, pai não “merece sossego”, não tem de ser liberado das tarefas domésticas e com as crianças por “já ter trabalhado, coitado”. Pai não deve assumir menos funções com os filhos porque é “homem e não sabe fazer as coisas que as mulheres sabem”.
Por mais incômodo que todo esse papo seja para tanta gente (inclusive para muitas mulheres), nós precisamos falar sobre isso. Nós precisamos processar essas ideias e incorporá-las às nossas ações. Precisamos sensibilizar (e confrontar) os homens, chacoalhar antigos modelos, romper com crenças que massacram a possibilidade de estarmos mais realizadas – inclusive para estarmos bem com as nossas famílias.
Estamos exaustas, estamos sobrecarregadas, estamos no limite (em alguns casos, a ponto de um burnout). Precisamos expressar as nossas insatisfações, nossos desejos, nossos sonhos e individualidades. Precisamos ocupar os espaços e exercer plenamente os nossos papéis no mercado de trabalho e como cidadãs que somos. Precisamos desfrutar do direito de termos tempo para sermos indivíduos e não exclusivamente mães. Temos de poder ficar sozinhas, à toa, dedicadas somente (mentalmente, inclusive!) a nós mesmas, do jeitinho que qualquer pai faz. E temos pressa, viu?!
Amamos ser mães e não estamos pedindo folga dos filhos: estamos tentando apenas compartilhar de verdade a responsabilidade sobre nossas crianças com os pais delas. Porque é justo, porque é legítimo, porque é fundamental para que haja uma sociedade mais saudável e apta a criar gerações emocionalmente equilibradas.
A época das mulheres em casa com os filhos, vivendo em comunidades, em uma grande teia que tornava a vida materna uma vivência coletiva, já não existe mais. Trabalhamos fora de casa, trabalhamos dentro de casa, trabalhamos sem trégua.
Gerenciamos o lar e a vida das crianças em um expediente interminável, que continua até mesmo quando não estamos com os filhos – alô, carga mental! Afinal de contas, para podermos nos ausentar, quase sempre temos de organizar uma logística tão imensa (comida, roupa, cuidados, remédios, lembretes e rotina programada tintim por tintim) que, quando chega a hora do até logo, já estamos cansadas. E os pais, na esmagadora maioria das vezes, não têm sequer a mais vaga ideia do que isso tudo significa: eles podem simplesmente se arrumar e ir embora para os seus trabalhos. Nesse contexto, não é de admirar que nós, mães, estejamos um caco, distantes de nós mesmas e, o pior, carregando uma culpa perversa por não estarmos “dando conta”. Parece até um grande delírio, porque a verdade é que nós aguentamos até mais do que é humanamente possível!
Portanto, de uma vez por todas, vamos ajustar as lentes e enxergar direito: pai não ajuda! Pai que cuida, pai que alimenta, pai que brinca, pai que transporta pra cá e pra lá, pai que trabalha fora e, quando chega, dá a janta, lava louça e lê história antes de botar o filhote na cama, não é herói. Ele está apenas sendo pai – ou, se preferir, agindo como uma mãe faz todo santo dia, mas tanta gente insiste em não ver.
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Amei cada palavra! Precisamos de tempo pra nós...mas o mais triste de tudo é que quando pedimos ou tentamos tirar esse tempo pra nós, somos julgadas, apedrejadas...como se fosse errado mãe querer uma folga!
Oi, Patricia,
Não, não é errado mesmo querermos um descanso. É uma necessidade humana, inclusive!
Que você consiga tirar um tempinho para você em breve.
Grande beijo!
Texto maravilhoso! É exatamente isso!!
Espera um pouco aí... mãe "não faz mais do que sua obrigação" ao cuidar dos filhos? Claro que não, deve ser valorizada por fazer o que faz (bem mais do que o pai que, mesmo dividindo tarefas, "apenas ajuda").