Quando eu me lembro dos primeiros meses depois do nascimento de Catarina, sinceramente não sei como sobrevivi. Não tive depressão pós-parto, pois, apesar do cansaço, eu conseguia cuidar da pequena dia e noite (aliás, eu praticamente não deleguei os cuidados com ela, coisa que faria diferente se tivesse um segundo filho). Mas posso dizer que senti o famoso “baby blues” (sobre o qual eu falei aqui, inclusive) – aquela tristeza que dura um bom tempo, mas que vai passando aos poucos.
Só que nessa mesma época, eu sofri de um outro mal, que só vim a descobrir muito mais tarde. E acredito que, assim como eu, muitas mães e pais passam pelo problema sem saber! Hoje, olhando para trás, sei que passei por um episódio de burnout parental, que acontece quando você fica completamente sobrecarregado pelo trabalho com o bebê. Infelizmente ele é muito mais comum nas mulheres (pois a coisa normalmente pesa para o lado da mãe, isso é fato. Felizmente, com uma frequência cada vez menor, pois muitos pais já entenderam que só ganham em dividir as tarefas relacionadas ao filho com a mulher).
Para quem nunca ouviu falar, conto um pouco mais sobre o burnout parental: ele é aquela sensação de extremo cansaço, de exaustão, relacionada à criação dos filhos. Evidentemente que toda mãe e pai de recém-nascido se cansa com os cuidados que o filhote exige, mas o que diferencia o burnout é que a sensação de descanso não chega nunca. Os pais podem ter uma noite inteira de sono, que vão continuar se sentindo extremamente cansados.
Infelizmente, em alguns casos (graças a Deus não aqui, mas sinto que preciso deixar o alerta) o burnout parental leva à negligência no cuidar do filho – justamente porque o pai ou a mãe não aguentam mais a carga que incide sobre eles. E em último grau, pode ocorrer violência (verbal e física) com o pequeno, tanto que já recebi muitas mensagens de mães que se sentem péssimas porque acabaram gritando com o filho além da conta, e até mesmo dando uma palmada no bebê, porque simplesmente perderam o controle, em função do cansaço.
Ou seja, o assunto é sério! Por isso, achei importante compartilhar com vocês aqui no blog, porque nesses quadros o auxílio profissional é muito bem-vindo (e necessário). Vem entender melhor!
Imagem: 123RF
O que é burnout? Será que eu tenho?
Traduzindo do inglês, burnout significa “destruição total”, e não é de hoje que se fala nessa condição. Na década de 70 ela foi denominada por um psiquiatra, que relacionou o burnout a ambientes de trabalho. Empregos que envolvem muita pressão e cuja rotina conta com bastante relacionamento interpessoal (como profissionais de vendas ou assistentes sociais, por exemplo) são os que concentram maior número de pessoas propensas a desenvolver a síndrome.
Como eu disse anteriormente, quem sofre com burnout tem, além do esgotamento físico, atitudes negativas (que são involuntárias, causadas pelo problema). Ações violentas são algumas possíveis consequências do burnout, mas a síndrome também leva a pessoa a sofrer com crises de ansiedade, mudanças repentinas de humor, irritabilidade e, ainda, depressão.
Tudo isso caracteriza também o burnout parental, mas a diferença é que aqui, ao invés de estar relacionado ao trabalho, o problema está relacionado aos filhos (no meu caso, eu sentia muita ansiedade, e chegava a me perguntar se um dia voltaria a ter uma vida normal). Quem revelou a síndrome em pais foram pesquisadoras da Universidade de Louvain, na Bélgica. Elas lançaram até um livro sobre o assunto (veja aqui), ainda inédito no Brasil, em que detectaram que, entre dois mil pais avaliados (entre mulheres e homens), 12% sofriam de burnout parental.
E como tratar?
Assim como o burnout é relacionada à pressão no trabalho, o burnout parental está ligado à pressão que os pais sofrem com os cuidados que o recém-nascido demanda. E não apenas ao cuidar da criança, mas também ao idealizar a maternidade (ou paternidade) de forma romântica, perfeita (sendo pais perfeitos de filhos perfeitos).
Conforme apontam as pesquisadoras belgas, o ritmo de vida que levamos atualmente só acentua o burnout parental, e o torna mais frequente. Muitos pais, além de cuidar dos filhos, precisam encarar longas jornadas de trabalho todos os dias (às vezes duplas, ou maiores), sem contar o desgaste dos movimentados percursos no deslocamento no dia a dia (especialmente nas grandes cidades), entre outras questões que nossa geração de pais enfrenta.
Como mudar essa rotina nem sempre é uma opção, o caminho é procurar ajuda profissional (eu não procurei, pois aos poucos as coisas foram melhorando. Talvez, se tivesse procurado, minha sensação de bem-estar tivesse entrado nos eixos mais rapidamente. Também percebi que eu precisava delegar mais os cuidados com a Cacá, o que para mim era uma escolha).
Uma primeira saída pode ser recorrer a um psicólogo. A psicoterapia pode auxiliar e, se o profissional achar necessário (especialmente em casos mais profundos de burnout), a pessoa pode ser encaminhada a um psiquiatra, para tratamento com antidepressivos. Aliado a tudo isso, atividades que relaxam ajudam bastante (e não estamos falando somente de yoga ou meditação, o que te relaxa é o que você gostar de fazer: pode ser uma caminhada, academia, qualquer coisa!).
Não hesite em procurar ajuda. E, claro, contar com uma rede de apoio (com cuidadores, família e amigos) é muito importante para dividir os cuidados com o bebê.