Depois do nascimento de um filho, de passar os primeiros meses ao seu lado, nutrindo-o e sentindo o maior amor do mundo, é inevitável se perguntar se você deveria ou não deixar sua carreira profissional para se dedicar totalmente ao bebê. Conheço mulheres que tomaram essa decisão e são extremamente felizes (e não vejo qualquer problema nisso, muito pelo contrário – fico contente que existam mães que possam e que queiram abdicar de um emprego por uma tarefa de vital importância: o desenvolvimento de um filho). E conheço tantas outras que, após o fim da licença maternidade, voltaram ao trabalho. Algumas com sentimento de culpa (mas que, por uma situação de extrema necessidade, não tiveram outra opção) e outras que tomaram essa decisão simplesmente porque se realizam dessa forma (e é nessa categoria que eu me incluo; embora vez ou outra, tenha me sentido culpada por não dedicar 100% do meu tempo a minha filha).
10229862 – working mother and her child in the office
Fazendo uma análise dessa questão, acabei chegando a uma conclusão, que gostaria de dividir com vocês. Existiriam dois fatores que influenciam de maneira profunda a escolha de uma mãe sobre sua carreira: 1) o exemplo de sua própria mãe e 2) o meio em que ela está inserida (não, eu não sou psicóloga, e essa minha teoria despretensiosa é fundamentada apenas na observação das muitas mães que conheço). Das mulheres que conheço e que deixaram a carreira após o nascimento dos filhos, as mais felizes são aquelas cujas mães não trabalhavam fora também (claro que existem exceções, mas na maioria das vezes é exatamente assim). Provavelmente porque vivenciaram esse modelo quando pequenas e reconhecem que essa é a melhor maneira de criar os filhos. Por outro lado, mães que são filhas de mulheres que nunca deixaram a vida profissional, acabam também por não deixar seus empregos (porque se orgulham de suas mães independentes e acreditam que é possível conciliar maternidade e trabalho).
Mas não é só o exemplo da mãe que interfere, não (positivo ou negativo; porque há também aqueles casos em que se quer fazer tudo diferente, por se considerar que o caminho escolhido por ela não foi o melhor). Quer ver? Deixar a carreira profissional quando se é rodeada por amigas que valorizam o trabalho é mais difícil do que quando seu meio de convivência é repleto de mulheres que não trabalham fora. E o contrário também é verdade: tornar-se mãe e não abandonar o trabalho é quase uma heresia quando as outras mães com quem você convive fizeram isso (no mínimo, você vai ser taxada de egoísta e sem coração). E por que estou falando sobre isso? Para tentar mostrar que cada mãe é uma mãe, vive um contexto diferente e que só ela pode saber qual é a melhor decisão para sua vida. E mais: que precisamos ter coragem de assumir as rédeas de nossas vidas, deixando a pressão social que fala aos nossos ouvidos.
Eu tenho certeza de que algumas mães devem estar se perguntando nesse exato momento: “quer dizer que você acha que uma mãe tem direito de seguir sua vida profissional do jeito que for, sem se perguntar se seu filho precisa de sua presença?”. É claro que não! Na minha (humilde) opinião, escolher ser mãe é decidir abrir mão de muitas coisas por um filho – até mesmo de sua carreira, se necessário. Quer continuar a trabalhar fora? Ótimo (aliás, essa foi exatamente minha decisão)! Agora, continuar em um emprego em que você sai de casa antes de seu filho acordar e retorna depois que ele já dormiu, sem necessidade premente (leia-se: sem outro meio de colocar comida na mesa e ter um teto para morar), é de dar dor no coração. Por essas e outras que eu admiro mulheres que decidiram não ter filhos: faz muito mais sentido do que colocar um no mundo e terceirizar a função materna.
Outra questão complicada: é justo que a mãe tenha que abdicar de sua carreira e que ninguém espere o mesmo do pai, em pleno século XXI? Pois é, não é, não. Tanto não é que em diversos países europeus, muito menos machistas, a licença após o nascimento dos filhos pode ser compartilhada entre pai e mãe (além de ser muito mais longa, por um motivo óbvio – essas sociedades já perceberam que isso não é desperdício de dinheiro, e sim um investimento para que se tenha uma sociedade mais evoluída! Uma criança cuidada por seu pai e sua mãe certamente será um cidadão muito melhor!).
Mas o que fazer quando não se quer deixar de trabalhar fora, ainda se está longe de ter uma participação masculina mais intensa no cuidado com os filhos e não se quer sacrificar a criança (que é a última que deveria pagar o pato em todo esse conflito?). O que acaba acontecendo é que a mulher se vira nos 30 para equilibrar os pratos dessa balança. E é por isso que o número de mulheres empreendedoras, que trabalham em casa, cresce a cada dia.
Se você está vivendo esse dilema, desejo que tome a melhor decisão. E que se lembre de que sempre é hora de mudar. Se voltou ao trabalho e se arrependeu, refaça as contas e analise se não é possível viver uma vida mais simples por alguns anos, enquanto sua presença é fundamental para o crescimento das crianças. Se desistiu da carreira e está infeliz, arranje alguma função que possa conciliar com o papel de mãe. Estar tranquila com as próprias escolhas é o primeiro passo para se tornar a mãe que você deseja ser.
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Nívea, passei por esse dilema. Quando o Rafa fez 5 meses,voltei ao trabalho, confesso que chorei muito nos primeiros dias, mas depois tudo se encaixou,ele fica com a avó , e é super bem cuidado por ela, o que me deixa mais tranquila. Hoje ele tem 1 ano e 2 meses e eu sinto que fiz a escolha certa.
Me identifico muito com suas postagens. Beijos.
Eu como vc sou uma empreendedora, antes de ser mãe sou arquiteta, trabalho desde os 16 anos e sou muito agitada para me dedicar exclusivamente ao meu filho, acho q encontrei um ponto de equilibrio. Fico com meu filho de manhã, faço natação com ele, o acordo e cuido, o levo para almoçar na escola e vou trabalhar meio período. Adoro minha vida e acho q estou conseguindo acompanhar todas as etapas do meu filho sem culpas, não imaginei q ia diminuir tanto, nem q iria mudar meu foco profissional para tentar ganhar mais e trabalhar menos, arriscamos com incentivo do meu marido e estamos no caminho certo. é muito bom esse incentivo para as mães, somos uma geração nova, com internet, dinamica, teremos outra forma de criar nossos filhos, a geração Alpha...
Perfeita a sua colocação Vivi! bjs
Boa Tarde
Nivea não sou mãe mais adoro seu blog, já estou quase no fim, é uma leitura leve e ao mesmo tempo engraçada, cheia de bom humor. Acabei de ler o texto “Ser mãe e a difícil decisão de trabalhar fora (ou não)”, e adorei a frase “Por essas e outras que eu admiro mulheres que decidiram não ter filhos: faz muito mais sentido do que colocar um no mundo e terceirizar a função materna”, ninguém entende a mim e ao meu esposo quando falamos que não queremos filhos, todo mundo se espanta, nos recrimina, dizem que somos egoístas pois estamos muitos tempo juntos (quase 8 anos) e nada de filhos, mais na verdade eu adoro a minha vida, minha liberdade de ir e vim, acordar tarde, enfim toda a liberdade de quem não tem filhos. Parabéns pelo blog.
Oi, Chiara,
Que delícia receber sua mensagem. Nunca imaginei que meus textos seriam de interesse de alguém que decidiu não ser mãe, e fiquei muito feliz em saber que você os curte.
Com todo o meu coração, eu tenho certeza de que você está certa em manter sua decisão, se é o que te faz feliz. A maternidade é linda, uma benção, como também é uma vida sem filhos, não é mesmo? O que muda é apenas o caminho que escolhemos para fazer o bem aqui nesse planeta :)
Desejo tudo de melhor para você!
Grande beijo,
Nívea