Ser mãe é uma imensidão. Uma experiência tão profunda e revolucionária que haja palavra para dar conta de explicá-la. Por isso, vamos de pouco em pouco, cada hora descrevendo uma das facetas dessa enorme aventura. Dessa vez, vamos falar sobre um aspecto tão presente e tão pouco lamentado, exposto e purgado por nós, mães: o choro dos nossos filhos.

Ser mãe é viver o choro diariamente por anos seguidos. E só tem ideia do impacto que essa sinfonia tem na vida quem convive com ela ou já a vivenciou. Ter um bebê é atravessar um portal tão poderoso e mágico que nada se assemelha a isso. Mas ter um bebê é também passar a ter o choro como trilha sonora certeira de todos os dias. Bebês choram. Alguns mais, outros menos, mas todos choram. E, apesar de sabermos que isso faz parte e entendermos que o choro dos bebês é comunicação, nós cansamos de ouvi-lo. Ah, como cansamos…

ser mãe é viver o choro

Imagem:123RF

O choro do bebê, o choro da criança, o choro da mãe

O choro sem fim que embala o começo da vida da mãe dói um bocado. Porque é o som do desconforto do bebê, do pedido que não conseguimos interpretar, do nervosismo que não damos conta de acalmar… É um som que liga algo urgente dentro de nós e tudo o que a gente quer é conseguir cessar aquele dolorido lamento. O choro do nosso bebê invade as nossas entranhas, rouba nossa paz, ecoa bem forte em nossos ouvidos. Às vezes, o choro nem é tão agudo e dura bem pouquinho, mas para nós, mães, ele parece muito alto e infinito. É algo tão visceral e potente que causa até uma certa pane em nosso sistema. Ou você nunca ouviu choros inexistentes no silêncio do seu banho, enquanto o filhote dormia placidamente no quarto ao lado?

Ser mãe também é viver um tipo de choro que nos desperta impaciência e irritação. O choro da criança que já sabe falar e se expressar, mas que chora por motivos banais aos olhos de um adulto. É cada bobeira provocando um trio elétrico de choro que a gente fica até zonza, não é mesmo? E aí, atrapalhadas das ideias, encarnamos as juízas dos sentimentos alheios e soltamos: “não precisa chorar!”, “vai chorar de novo?”, “para de chorar!”, “isso é motivo pra choro?” e outras tantas variáveis que não nos orgulham, mas que acontecem porque, afinal de contas, somos demasiadamente humanas, como já dizia Nietzsche.

Chacoalhadas que somos pela chegada dos filhos, nós também contribuímos nesse festival do chororô com muitas lágrimas e até com alguns soluços. Porque ser mãe é também viver o próprio pranto. É abrir a nossa torneirinha das emoções com muito mais frequência, sentindo tudo em grandes proporções. Choramos as inseguranças, os medos, a exaustão, a impotência, o não saber, as dores físicas e emocionais das nossas crianças. Choramos porque precisamos limpar a bagunça da nossa alma, que flutua, mas que também estremece, com esse amor louco que sentimos por nossos filhos.