Ter filhos é tomar decisões, fazer escolhas, definir caminhos. E só quem é responsável por uma vidinha que importa mais do que tudo no mundo tem ideia de como é difícil se sentir seguro para fazer isso tudo. Nesse contexto (e por diversas outras razões), dividir essa responsabilidade entre pai e mãe, sem dúvida, é o melhor a se fazer: um modelo familiar mais justo e equilibrado, que garante um desenvolvimento emocional mais saudável para a criança e permite que os pais exerçam seus papéis com mais alegria e leveza.

Daí muita gente pensa: “ok, eu vivo essa realidade, está tudo bem”. E aqui cabe encaixar aquela pulguinha da reflexão atrás da orelha e perguntar: “será?”. A verdade é que ter companhia e compartilhar a missão tortuosa da criação dos filhos é ótimo, claro, mas não é suficiente. É preciso mais! É preciso seguir em uma só direção, tocar o barco para o mesmo destino.

pai e mãe devem dançar no mesmo ritmo

Imagem: 123RF

Sintonia e cumplicidade são ingredientes potentes na receita de um relacionamento positivo para qualquer casal, mas na receita da relação parental eles são determinantes. Isso não significa que pai e mãe devem concordar em absolutamente tudo e pensar igualzinho, é claro. Sendo pessoas distintas, com crenças, opiniões, vivências e perspectivas de vida individuais, naturalmente, terão diferenças e viverão conflitos. Esses descompassos, porém, devem ser vividos, debatidos e acomodados (nem sempre serão solucionados, afinal de contas) em uma esfera particular, que não deverá atingir nem confundir a criança.

Aquela história de “o papai deixa, é você quem não quer!” ou então “a mamãe disse que tudo bem e você não concordou” é desgastante para todos e emocionalmente ruim para a criança, que fica sem entender nada. Os sentimentos complexos que divergências como essas afloram vão além das situações específicas que as motivaram. Quando isso acontece, a criança se sente fragmentada e perdida. Ela se frustra, sente raiva, tira conclusões equivocadas, sente culpa por motivar brigas entre os pais e deixa de ver o casal como um porto seguro único e inabalável.

Ou seja: quando cada um faz o passo para um lado diferente, a dança, que era para ser coordenada e cheia de ritmo, vira um desastre. E o pior de tudo é que esses dançarinos atrapalhados estão por toda parte… Podemos até arriscar dizer que, em muitos momentos, esses dançarinos somos nós, pois o baile da maternidade/paternidade troca de música o tempo todo e muitas vezes a gente perde mesmo o compasso.

Então, para evitar tropeços e pisões, não há outra saída a não ser: ensaiar! Para que pai e mãe arrasem na coreografia, é preciso que se atirem na pista juntinhos – mesmo aqueles que não vivem essa parceria em uma relação conjugal. E os ensaios são feitos à base de muita conversa, troca de ideias, participação efetiva na vida social e escolar dos filhos, referências, leituras e experiências compartilhadas etc. Tudo aquilo que contribuir na produção de uma bagagem de respeito, que dê conta dessa viagem alucinante que é a criação dos filhos, vale entrar!

Portanto, nada de discussões acaloradas e improdutivas na frente dos pequenos. Para enfrentar os dilemas inevitáveis que surgem quando o assunto é a educação e os cuidados das crianças, o que faz diferença de verdade é todo o jogo de cintura ensaiado na privacidade dos bastidores. Pai e mãe dançando no mesmo ritmo é garantia de uma maratona de dança mais promissora e feliz.