Você costuma comprar alimentos orgânicos na sua casa? Confesso que, por aqui, só comecei a pensar sobre o assunto depois que Catarina nasceu, e eu percebi que precisava melhor a qualidade da alimentação de toda a família. E ainda hoje, consumo um número menor de orgânicos do que deveria, por não conseguir uma variedade muito grande na minha região, bem como pelo custo (que todas nós sabemos não ser pequeno, infelizmente).
Mas sabem que uma conversa com uma amiga nutricionista mudou muito minha forma de pensar? Certa vez ela me perguntou: “onde você quer pagar a conta – na farmácia ou no mercado?”. Porque é exatamente isso o que acontece: uma alimentação mais saudável (com mais orgânicos, por exemplo) está intimamente ligada à saúde, e quando pensamos nos pequeninos, essa relação é ainda mais importante. De acordo com pesquisas, os filhotes sofrem até dez vezes mais os efeitos negativos dos agrotóxicos presentes nos alimentos do que os adultos. Um desses estudos, publicado na revista científica Pediatrics por pesquisadores canadenses, mostra que pesticidas causam déficit de atenção, dificuldade no aprendizado e hiperatividade nos pequenos.
Por isso, vale ficar de olho nos relatórios do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), feitos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O último deles, publicado em 2014, é referente ao ano de 2012 e listou os alimentos mais contaminados por agrotóxicos no Brasil (e apontou que, inclusive, alguns recebem venenos não autorizados pelos órgãos de fiscalização). O grande problema é que, às vezes, sem saber, disponibilizamos esses itens nas nossas mesas, colocando em risco a saúde de toda a família.
Abaixo, conheça quais são esses alimentos, e o que fazer para proteger seus filhos:
Imagem: 123RF
Os alimentos com maior nível de contaminação por agrotóxicos:
A abobrinha encabeça a última lista do PARA (2012). Entre as amostras analisadas pela Anvisa, 48% foram classificadas como insatisfatórias, contendo quantidade de agrotóxicos acima do permitido, além de venenos proibidos para aquela cultura. Em seguida vem a alface, com 45% das amostras comprometidas; seguida da uva, com 29%; e do tomate, com 16%. Em porcentagens menores, mas também preocupantes estavam o feijão (7,3%) e o fubá de milho (2,9%). Quanto a esses dois últimos alimentos, inclusive, vale destacar que eles ainda são provenientes, muitas vezes, de sementes transgênicas (e ainda não há estudos sobre o impacto delas em nossa saúde, por isso alguns especialistas recomendam que sejam evitadas).
Entretanto, o relatório de 2011 do PARA é ainda mais preocupante. Divulgado no ano anterior, ele mostrou que mais da metade das amostras analisadas de pimentão (91,8%), morango (63,4%), pepino (57,4%) e alface (54,2%) estavam contaminados. Abacaxi (32,8%), beterraba (32,6%), couve (31,9%) e mamão (30,4%) dão continuidade à lista, seguidos do tomate (16,3%), laranja (12,2%), maçã (8,9%), arroz (7,4%), feijão (6,5%), repolho (6,3%), manga (4%) e cebola (3,1%).
Apesar de não ter sido divulgado um relatório mais atualizado do programa, a tendência é que, infelizmente, essas porcentagens de contaminação tenham aumentado. Um fato que sustenta essa hipótese é o aumento da venda de agrotóxicos (conforme aponta dados de órgãos como a Associação Nacional de Defesa Vegetal).
E o que eu faço?
Claro que toda fruta e verdura deve ser muito bem lavada antes de ser consumida. Mas, se estiverem contaminadas por agrotóxicos, até mesmo uma lavagem com água sanitária pode não resolver o problema (ainda não há estudos que comprovem que o alimento fique livre dos venenos a partir dessa higienização). Um agravante é que certos agrotóxicos são absorvidos por algumas frutas (especialmente as de cascas finas), então a lavagem não irá mesmo resolver.
Por isso, o melhor a ser feito é optar por alimentos orgânicos. A grande diferença é que eles são livres de insumos artificiais (como adubos químicos, agrotóxicos, hormônios, e assim por diante).
Dicas para consumir orgânicos
Antes de comprar, verifique se o alimento contém um selo escrito “Produto Orgânico Brasil”. Essa é a certificação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SisOrg) e, ainda hoje, é a única válida para esses produtos comercializados no país.
Vale destacar também que não existe apenas a versão orgânica de frutas, legumes e verduras: os alimentos de origem animal, quando criados livres de produtos químicos (como antibióticos e hormônios), também podem receber o selo de orgânico. E, claro, devem ser priorizados na lista de compras (ou pelo menos os que mais forem consumidos pela família, já que o preço deles ainda é relativamente acima dos convencionais).
E uma dica válida para todos os alimentos – mesmo os orgânicos – é a boa higienização: lave frutas e hortaliças por um minuto em água corrente, com esponja e detergente neutro. Para quem preferir lavar com água sanitária, a proporção indicada é de uma colher de sopa do produto para um litro de água. Como citado, isso não é suficiente para remover os agrotóxicos, caso o alimento esteja contaminado, mas mata os microorganismos que possam estar ali. E todo cuidado na alimentação da família é válido, não é mesmo?
Mais benefícios dos orgânicos
Além dos riscos que os agrotóxicos oferecem às crianças (como falei no início do post), há estudos que mostram que os alimentos cultivados sem eles, os orgânicos, são mais ricos em substâncias protetoras ao organismo. De acordo com um relato produzido por pesquisadores da Universidade de Newcastle, só em relação aos antioxidantes (substâncias que protegem nosso corpo do excesso de radicais livres), pode-se dizer que eles estão presentes entre 19 a 69% a mais nos alimentos orgânicos. Com isso, ao consumi-los, estamos reduzindo os riscos de doenças cardiovasculares e degenerativas, e até algumas formas de câncer. Ou seja: a troca vale a pena!