Existem certas lendas na maternidade que eu não sei como, quando ou por que surgiram. Sim, elas podem fazer algum sentido ao se analisar o assunto de maneira mais superficial; mas, ao se tornar mãe, ao conviver profundamente com um filho, você percebe que precisa discuti-las mais profundamente. E, para mim, uma dessas questões é a antiga frase que você já deve ter escutado: “não dê colo demais para esse menino, porque ele vai se acostumar mal!”.

Eu também ouvi esse conselho das mulheres mais experientes da família. E foram tantas as pessoas que me falaram (pessoas queridas, próximas, e cuja opinião eu respeito demais), que eu acreditei piamente! Acreditei tanto, que nos primeiros meses de Catarina eu cheguei a evitar esse contato corpo a corpo todas as vezes em que ela chorava. Foram inúmeros os dias em que a coloquei no carrinho para distraí-la, ao invés de colocá-la junto ao meu peito e acalentá-la. E, confesso a vocês, eu me arrependo.

Imagem: 123RF

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Eu demorei um certo tempo para começar a acreditar em mim mesma como mãe. Eu tinha tantas dúvidas, tantos receios, que preferia fazer como os outros diziam e errar, do que me responsabilizar por minhas próprias decisões. Até o dia em que olhei para a pequena chorando, dividida entre passar mais uma hora com ela em meus braços ou tentar acalmá-la de outra forma, e pensei: nem que eu fique o dia inteiro com essa menina no colo, eu não vou deixá-la. Nem que meus braços caiam, nem que ela continue chorando sem que eu entenda o porquê (uma vez que eu já tinha dado peito, trocado a fralda, a roupinha, e tentado fazê-la dormir), ela saberá que sua mãe está aqui. E que sempre estará.

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Não, eu não vou dizer que depois disso, por milagre, ela parou de chorar e se acalmou. Aliás, ainda demorou quase uma hora para que isso acontecesse. Mas a mágica ali foi outra: foi a de uma mãe que se encontrou, que se conectou com sua filha, que finalmente entendeu que precisava levar mais em consideração seu coração, e não as regras que os outros estabeleceram para a maternidade.

Aquela experiência me mudou radicalmente. Eu passei a entender o significado de criação com apego, de confiar nos instintos de mãe. Eu me perdoei por ter agido de uma forma contrária àquela que eu passei a considerar como certa: a do carinho, do colo irrestrito, do toque, do amor que não se preocupa com dependências.

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Foi a melhor coisa que fiz, porque, aos poucos, a conexão que estabeleci com Catarina alcançou outro patamar. Hoje eu tenho certeza de que ela sabe que, aconteça o que acontecer, eu estarei ao seu lado. E eu sinto que todas as horas de colo a mais que ela recebeu não a deixaram mais “mal acostumada”, fraca, dependente, muito pelo contrário! É justamente por confiar na minha presença que ela desbrava seus caminhos, treina suas asas para alçar voo!

Portanto, da próxima vez que alguém lhe dizer que seu filho não pode ficar tanto tempo em seu colo, pare. Não ouça com os ouvidos, ouça com seu coração. E se ele lhe disser que tudo de que seu pequeno precisa é ficar junto a você, ouvindo as batidas do seu peito, faça isso. Sem medo, sem culpa, só com amor!