Hoje fui à casa de uma amiga que acaba de ter seu primeiro filho. Como já faz algumas semanas que ela voltou da maternidade, e por termos bastante intimidade para dividir os momentos do pós-parto sem a necessidade das convenções sociais do cafezinho, do pedaço de bolo a quem visita, me senti à vontade para passar meia horinha ao seu lado. E saio com o coração leve, por ter dado a ela o mesmo presente que recebi quando Catarina nasceu: o desabafo de uma outra grande amiga, que me contou a verdade sobre o baby blues.
Pode ser que para você tenha sido fácil viver os primeiros meses do seu filho, mas para uma grande parte das mães, essa é uma das fases mais difíceis da vida. E não estou falando de depressão pós-parto: essa, um quadro grave, precisa de acompanhamento médico, porque impossibilita a nova mãe de executar suas tarefas diárias e os cuidados com o bebê. Mas mesmo para aquelas que não a desenvolvem, pode surgir uma tristeza até então desconhecida – eu a senti e digo por experiência própria: por vezes me perguntei se realmente tinha condições de cuidar da minha pequena, se aquele sentimento passaria, se havia feito a escolha certa quando decidi ser mãe. Não, não é exagero (você pensa tudo isso e mais um pouco).
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Muitos médicos atribuem esse período à queda hormonal que ocorre logo depois do parto – e com certeza essa montanha-russa de hormônios, que sobem a níveis estratosféricos durante a gravidez para depois despencarem de uma só vez, tem forte relação com o baby blues. Mas já tendo passado por ele, sinto que aquele aperto no peito pode ser explicado por vários outros fatores. É a impossibilidade de sair de casa por dias (há mães que ficam mais de um mês assim!), que parece sufocar quem sempre teve liberdade para ir e vir. É a falta de sono contínuo, que tritura seu cérebro e ativa um botãozinho lá dentro – o das lágrimas, que aparecem sem avisar, sem se explicar, quase uma válvula de escape para a tensão de assumir a responsabilidade por um serzinho tão frágil e que foi confiado a você. É a frustração pela incapacidade de identificar o motivo do choro, e que parece repetir nos seus ouvidos: “meu filho está sofrendo, e eu não sei como parar isso”.
Foi assim comigo, e eu agradeço a coragem de uma amiga que me fez uma confissão naquela época: a de que ela também se sentiu totalmente incapaz. Entre risadas e olhos marejados, lembro que ela me disse: “é como se você pensasse em devolver seu filho, se isso fosse possível. Não porque você não o queira, porque é tudo o que você mais quer, mas porque não acredita que você é a mãe que ele precisa que você seja”.
Mas tudo o que eu posso garantir é que isso passa. Aos poucos seus hormônios voltam ao normal, já é possível ver o sol batendo na pele – na sua e na do pequeno (bendito sol, obrigada por você existir!). Você vai percebendo que embora não saiba todas as vezes a razão pela qual seu filho chora, seus olhos dizem que ele te ama, o que te torna uma boa mãe. A tristeza, que aparecia quase todos os dias, vai cedendo lugar a uma força e uma alegria que não cabem no peito. Então você se olha no espelho e se descobre feliz.