Se existe uma saudade enorme que eu sinto do primeiro ano de Catarina é da amamentação. De todas as experiências que vivi com aquele pedacinho tão pequeno de gente, essa foi a mais incrível, bonita e marcante. Se você não é mãe, descobrirá em breve o prazer de amamentar; e se já é sabe: a sensação de nutrir um filho, de criar o vínculo é simplesmente linda.
Mas quem me ouve falando dessa forma pode achar que o processo foi super tranquilo, fácil, natural. E a verdade é que foi, e não foi ao mesmo tempo. Como boa parte das questões relacionadas à maternidade, essa também gera sentimentos conflitantes, sobre os quais as pessoas pouco falam. E justamente por isso resolvi contar um pouquinho da minha experiência no post de hoje, para mostrar que a amamentação nem sempre é o que esperamos que ela seja!
Imagem: 123RF
As coisas que ninguém fala sobre a amamentação:
1 – Amamentar dói (e bastante), ou simplesmente não dói! Se você conversar com dez mães que amamentaram, posso garantir que a maioria delas dirá que as primeiras semanas de amamentação foram doloridas. Que o peito rachou, que elas precisaram usar pomadas cicatrizantes, que pode ter havido até sangramento! Só que foi passando, até que simplesmente a amamentação se transformou em uma atividade prazerosa (foi exatamente o que senti na pele e digo: faça o máximo para superar essa fase, não desista, porque o que vem pela frente vale muito a pena!). Por outro lado, existem mulheres que não sentiram absolutamente nada desde o início, e que desconhecem a sensação de dor no bico. Muita gente diz que a dor é decorrente de uma pega errada, e que se o bebê mama da forma certa, a mãe não sentirá desconforto (mas eu tenho que discordar dessa generalização – que uma boa pega facilita o processo, eu não tenho dúvidas. Só que acredito também que muitas mães passam pela dor com a pega correta, simplesmente pelo resultado do atrito entre a boquinha/língua do bebê e a mama).
2 – Nem sempre o leite desce rapidamente. Logo após o parto, eu sabia que Catarina deveria mamar o colostro, rico em anticorpos e fundamental para a saúde do filhote. Mas e o leite, quando viria, afinal? Eu achava que essa “descida” seria rápida, e que, no máximo do dia seguinte, já estaria com o peito cheio. No meu caso, o leite só chegou, efetivamente, no terceiro dia (depois de muita angústia, achando que minha filha estava com fome) – e muitas mães levam até cinco dias para perceber que ele chegou. Lembrando que, em geral, partos normais levam a uma descida mais rápida, enquanto cesáreas (sem que a mãe entre em trabalho de parto) resultam em um maior tempo para a chegada do leite.
3 – Nem sempre a amamentação acontecerá do jeito que você gostaria. Qual é a expectativa de uma mãe, com a chegada do seu bebê? Que ela tenha leite à vontade para nutri-lo, não é verdade? Só que nem todas as mães terão essa produção enorme, que é tão alardeada por aí. Claro que você deve se comprometer a fazer o possível para que a produção aumente: amamentar em livre demanda, buscar a pega correta, alimentar-se bem e tomar muito líquido. Mas mesmo fazendo tudo isso, pode ser que você não consiga a amamentação exclusiva (particularmente eu acho muito cruel dizer a uma mãe que a responsabilidade é exclusivamente dela, e que se não tem leite suficiente, é porque não tentou direito). O primeiro passo para conseguir o sucesso da amamentação é, sem dúvidas, procurar ajuda: no Banco de Leite da sua cidade, com grupos de apoio à amamentação. E se mesmo assim não der certo, não se culpe – saber o momento de mudar de estratégia é também um aprendizado que pode ser necessário para algumas mães (veja o relato emocionante de uma mãe que passou por isso aqui).
4 – Amamentar é ficar à disposição. E em todos os sentidos: é ter que voltar rapidamente para casa, para não perder o horário da mamada. É ter que restringir sua dieta para evitar cólicas ou mesmo para evitar alguma possível alergia alimentar. É acordar várias vezes à noite, mesmo no auge do cansaço. Talvez, mais do que a dor que algumas mães sentem no início do processo, esse seja o grande desafio de amamentar – colocar seu corpo à disposição do filho, mesmo depois dos nove meses de gestação. Por minha experiência, posso garantir que a recompensa é enorme: dá trabalho, sim, mas vale cada noite mal dormida, cada dia passado dentro de casa, cada chocolate que você não comeu para não ver o filhote se contorcer de cólica.
5 – No início, amamentar pode levar mais de uma hora. Nas primeiras semanas ou até meses de vida, o pequeno gasta uma energia enorme para mamar. É por isso que um recém-nascido mama, cai no sono, mama mais um pouquinho… E quando você olhou para o relógio, mais de uma hora se passou, na cadeira de amamentação. Considerando que no meio da mamada por haver a necessidade de troca de fraldas (às vezes de duas – Catarina mamava um peito e fazia um cocô, e eu trocava. E depois mamava o outro, com nova surpresinha no final – outra troca!), e que depois ainda há o tempo para arrotar, é possível que você só tenha, efetivamente, uma hora de descanso entre as mamadas. A notícia boa é que, com o tempo, o bebê consegue mamar com maior eficiência – leva menos tempo no processo e consegue tomar maior quantidade de leite (porque seu estômago cresceu) – , e as mamadas vão espaçando, naturalmente.
6 – Amamentar pode emagrecer (ou não!). O gasto calórico da mãe com a amamentação é gigantesco (no meu caso, eu perdi todo o peso adicional da gravidez e mais cinco quilos em cerca de duas semanas. Fiquei um palito!). E é por isso que sentimos tanta fome nesse período. Mas o que dirá se uma mulher vai ou não emagrecer amamentando é o equilíbrio entre a quantidade de energia que ela come (proveniente dos alimentos) e que ela gasta, na produção do leite e na manutenção do seu corpo. Assim, é comum que a mãe emagreça, mas pode acontecer também de engordar, se comer em excesso!
7 – Você vai ficar cheirando a leite (e vai detestar!). Principalmente se seu filho é daqueles que regurgita, você vai viver com um paninho no ombro, e, mesmo assim, vai levar vários banhos de “leite-queijinho”. Depois de alguns meses você vai se acostumar com o cheiro, mas vai agradecer quando, finalmente, ele passar.
8 – Você vai sair do banho “pingando”. Isso nunca haviam me contado antes de ser mãe: que o banho estimula a saída do leite a tal ponto, que você precisa sair do chuveiro arqueada para a frente, para não se dar um banho de leite e ter que voltar para a água! Depois de alguns minutos o “pinga-pinga” para, mas que ele é cômico, é!
9 – Pode ser fácil parar, ou difícil pra caramba! Para algumas mães, o desmame ocorre naturalmente (para mim não foi sofrido – quando Catarina tinha 9 meses, pegou uma bronquiolite, não conseguiu sugar por vários dias, e meu leite, que já era pouco, secou. Foi simples assim!). Para outras, a despedida da amamentação é doída, e pode levar meses, até que se efetive. Não há regra: para cada mãe acontece de uma forma diferente, que deve ser respeitada e vivida em sua plenitude!
10- Você será julgada pelas suas escolhas. Se você escolheu amamentar em livre demanda, há sempre alguém para dizer que você precisa aumentar o tempo entre as mamadas – do contrário acostumará seu filho mal. Se tenta amamentar a cada três horas e não colocar o filho no peito sempre que ele chora, terá que ouvir que não se recusa o bico para uma criança. Se você se sente à vontade de amamentar na rua, precisará encarar alguns olhares feios. Se prefere se cobrir para amamentar em público, ouvirá que ninguém mais faz isso. Se decidiu parar de amamentar quando seu filho fez um ano, escutará que isso é um absurdo, e que você só deveria desmamar quando seu filho quisesse. Se optou pela amamentação prolongada, terá que encarar gente dizendo que criança grande pendurada no peito é um delírio. Não importa o caminho que você escolheu para a amamentação do seu pequeno, as pessoas vão te julgar. E no fim você descobrirá que é apenas o que você considera certo o que realmente importa!
E você, pode acrescentar algo à lista? Me conta!