O parto normal é a forma mais natural da mulher dar à luz. Vários estudos ao longo das últimas décadas demonstraram que as vantagens do parto normal são muitas. Inclusive, tanto a mulher quanto o bebê são beneficiados pelo processo de dar à luz desta forma natural. Por exemplo, mulheres que passam por cesárea demoram muito mais tempo para se recuperarem, e a mulher e o bebê têm mais riscos de desenvolverem infecções.
No entanto, também é verdade que o parto normal está culturalmente atrelado a uma série de mitos. Infelizmente, é comum associarmos este tipo de parto à noção de dor intensa, sofrimento e outras situações nocivas. Essas ideias que se associam à imagem do parto normal costumam ter relação com a cultura cesarista no Brasil. Além disso, os casos de violência obstétrica também contribuíram para que as mulheres tenham medo e queiram fugir dessa experiência.
Parto normal – Foto: Freepik
Entretanto, estudos recentes e o incentivo em políticas públicas dos últimos anos têm garantido que a experiência das mulheres mudem. Ainda bem, o cenário está mudando e cada vez mais mulheres podem ter uma excelente experiência de parto. Hoje existem algumas técnicas simples que ajudam significativamente no alívio da dor. Por isso, cada vez mais mulheres estão podendo dar à luz de forma natural e sem sofrimento e desconforto desnecessários.
Da respiração ao sistema imune; do sucesso escolar à flora intestinal; da relação mãe-bebê à saúde mental do bebê: vir ao mundo naturalmente garante um início e continuidade de vida mais seguro e mais saudável. Veja neste artigo algumas vantagens do parto normal e desmistifique seus medos e fantasias deste momento, que pode ser mágico. Boa leitura!
Importância do pré-natal
Gestante sendo atendida em acompanhamento de pré-natal – Crédito da foto: Freepik
Antes de falarmos das vantagens do parto normalmente, propriamente ditas, é importante falarmos também do acompanhamento de pré-natal. Isso porque o pré-natal é fundamental para garantir que a experiência de parto seja positiva e tranquila. E aqui vale destacar: o pré-natal é importante independente do tipo de parto que a mulher vai passar.
Neste acompanhamento que ocorre durante toda a gravidez, a mulher poderá tirar todas as dúvidas com o médico. E, é claro: o médico avaliará o desenvolvimento da gestação e do bebê. Por isso, o pré-natal é determinante para que a definição do tipo de parto seja adequada à cada situação específica.
Então, é importante lembrar que um dos requisitos mais importantes para ter um parto sem problemas é fazer o acompanhamento pré-natal corretamente. Isso significa ir em todas as consultas, fazer todos os exames e sempre que tiver dúvidas as esclarecer com o médico. Este acompanhamento é importante desse jeito porque é nele que o médico vai verificar se você poderá fazer o parto normal, ou se há algum impedimento. Por exemplo, há algumas infecções e alterações no desenvolvimento do bebê que tornam o parto normal arriscado. Nestas situações, a cesárea será a melhor alternativa. Mas para que o médico saiba disso, você precisa fazer o pré-natal.
Vantagens do parto normal
Bem, agora que você já sabe que o pré-natal é elementar para que sua experiência de parto seja melhor está na hora de irmos ao ponto.
Veja a seguir quais são as principais vantagens do parto normal tanto para a mãe quanto para o bebê. Vale lembrar que estas informações foram amplamente analisadas e estudadas pela ciência tanto no Brasil quanto em outros países ao longo das últimas décadas.
Então, as vantagens listadas aqui são comprovadas. Mas elas não são as únicas. Isso porque há outras vantagens não listadas que ficaram de fora deste artigo porque ainda estão sendo estudadas para as confirmarmos.
Mas chega de “enrolação”, leia a seguir as principais vantagens do parto normal, quando comparado ao parto via cesárea.
1. Tempo de recuperação
Mão de paciente internada em hospital – Crédito da foto: Freepik
Mulheres que dão à luz naturalmente se recuperam muito mais rapidamente e com maior facilidade. De modo geral, isso acontece porque elas não foram submetidas a procedimentos invasivos.
Por isso, estas mulheres podem voltar para suas casas mais rapidamente. Além disso, elas também têm mais condições de ficar com o bebê. Ou seja, o parto normal ajuda não somente na recuperação da mamãe, mas também no melhor desenvolvimento da relação entre mãe e bebê nos seus primeiros dias de vida.
Com o parto normal, o útero da mulher também se recupera muito mais rapidamente. Isso acontece porque ele volta ao tamanho normal pouco depois da experiência de parto. No entanto, mulheres que passam por cesárea precisam ainda lidar com a mudança paulatina do útero – que tende a gerar uma série de desconfortos.
Basicamente, dar à luz naturalmente protege a mulher de passar por uma série enorme de desconfortos mais comuns entre aquelas que fizeram cesárea.
O tempo do trabalho de parto também tende a ser reduzido conforme a mulher passa por novas experiências de parto normal. Por exemplo, a primeira experiência de trabalho de parto pode durar cerca de 12 ou 14 horas. Mas é comum que a segunda experiência caia pela metade, não durando mais que 5, 6 ou 7 horas. No entanto, há também mulheres que conseguem dar à luz pela segunda vez em apenas 3 horas, ou até menos.
2. Risco de infecção
O parto normal também reduz significativamente o risco do bebê ou da mulher desenvolver alguma infecção. Isso acontece porque no parto normal o bebê passa pelo canal vaginal, que é uma experiência que o faz ter contato com uma série de microrganismos que impactam positivamente no sistema imunológico dele. Ou seja, a passagem pelo canal vaginal faz com que o bebê chegue ao mundo um pouco mais fortalecido.
Mas não é somente o bebê que tem menos chances de desenvolver alguma infecção. A mulher também tende a ter menos infecções quando passa pelo parto normal. Isso porque os cortes e os instrumentos cirúrgicos utilizados na cesárea são os principais responsáveis pelas infecções nas mulheres. Ou seja, quem dá à luz e não é cortada nem tem contato com instrumentos cirúrgicos corre menos risco.
No entanto, vale lembrarmos que a episiotomia é uma prática relativamente comum nas maternidades. A episiotomia é um corte feito entre a vagina e o ânus que tem como objetivo alargar o espaço para o bebê sair. Esta é uma prática raramente necessária, mas muitas maternidade a utilizam de forma rotineira.
Ainda que mulheres que tenham sido submetidas à esta prática tenham menos risco que mulheres que passaram por cesárea, esta é uma prática que coloca a mulher em risco de infecção de forma desnecessária, quando utilizada levianamente. Não à toa, esta técnica esta entre as mais costumeiramente lembradas quando falamos de violência obstétrica.
3. Facilidade para respirar
Bebê enrolado dormindo – Crédito da foto: Freepik
Você sabia que bebês que nascem de parto normal tem mais facilidade na respiração e menos riscos de desenvolver doenças respiratórias no futuro?
Isso acontece também devido a passagem do bebê pelo canal vaginal, como citado anteriormente em relação às infecções. Sim, a passagem pelo canal vaginal traz vários benefícios ao bebê.
Neste caso, o bebê respira melhor porque quando ele passa pelo canal vaginal o seu tórax é comprimido. Essa compressão faz com que o líquido amniótico que está presente no pulmão seja expelido com grande facilidade. Assim, o bebê nasce respirando melhor e corre menos risco de vir a desenvolver problemas de respiração no futuro.
Além disso, alguns especialistas também orientam que o cordão umbilical seja mantido intacto por alguns minutos após o nascimento. Essa conexão entre o bebê e a placenta materna pelo cordão umbilical garante que ele seguirá recebendo oxigênio da mãe nos seus primeiros minutos de vida. Diversos estudos demonstraram que este atraso no corte do cordão reduz o risco do bebê desenvolver anemia nos seus primeiros dias de vida.
4. Atividade ao nascer
As alterações hormonais que ocorrem no corpo materno durante o trabalho de parto também são vantajosas à saúde do bebê. Isso porque estas alterações naturais que acontecem com a mãe ajudam o bebê a ser mais ativo e responsivo durante o nascimento.
E essa maior responsividade e atividade são percebidos logo nos primeiros momentos de vida. Por exemplo, quando o bebê nasce de parto normal e não tem seu cordão umbilical rapidamente cortado, ele pode ser colocado na barriga da mãe e ele conseguirá se arrastar sozinho até seu peito para mamar. Esse percurso que ele faz de forma ativa e sem ajuda não é possível entre bebês que nascem de cesárea ou bebês que nascem de parto normal e tem seu cordão umbilical imediatamente cortado.
Alguns estudos mais recentes também tem apontado que essa atividade inicial contribui para uma série de fatores associados à saúde da criança na primeira infância. No entanto, estes estudos ainda são novos e é preciso mais pesquisas para confirmar as informações.
5. Relação mãe-bebê
Mãe e bebê se abraçando – Crédito da foto: Freepik
O corpo do bebê é massageado durante o trabalho de parto e no parto normal, o que faz com que ele desperte para o toque. Logo, o bebê não estranha tanto o toque dos médicos e enfermeiros ao nascer (e não os primeiros contatos com a mãe e familiares). Esse “massageamento” acontece devido inicialmente as contrações, mas principalmente pela passagem do bebê pelo canal vaginal.
Ou seja, aqui há mais um ponto positivo da passagem pelo canal vaginal: a rápida adaptação ao toque. E isso contribui muito, mas muito significativamente para a relação mãe-bebê. Muitos estudos demonstram que esta primeira experiência no parto normal contribui para a mais fácil e rápida construção de uma relação de afetividade e laço entre a mãe e o seu bebê.
O contato constante entre bebê e mãe no parto normal ajuda no desenvolvimento de laços sentimentais entre eles. Isso auxilia não somente na relação mãe-bebê, mas também no temperamento do bebê, que tende a ser mais calmo.
6. Calma
Como mencionado anteriormente, a passagem pelo canal vaginal ajuda o bebê no sentido de o manter mais calmo. Mas não é somente o bebê que fica mais calmo após o parto normal, a mãe também fica. Isso porque logo após o nascimento o bebê pode ser levado imediatamente até a mãe. Este momento e o laço estabelecido ali ajuda tanto bebê quanto mãe a se acalmarem e se sentirem em paz.
Após estar limpo, ele também pode permanecer mais com a mãe. Isso porque ele não precisa ficar em observação, como muitas vezes ocorre em casos de cesárea. Então, bebê e mãe se acalmam e compartilham momentos de tranquilidade e felicidade após o nascimento com maior frequência quanto o parto é natural.
7. Saúde intestinal
Fundo médico 3d com células do sangue e fita de dna Foto gratuita – Imagem: Freepik
O bebê é recoberto por bactérias e por fungos presente na microbiota daquela região durante sua descida pelo canal vaginal. Este contato com organismos da região contribui muito para o desenvolvimento saudável do bebê. Isso porque é neste contato que ele receberá alguns organismos que vão colonizar o intestino da criança. Ou seja, com a descida pelo canal vaginal o bebê terá acesso a micróbios que o ajudarão a desenvolver a sua própria microbiota.
Isso é muito, mas muito importante. Diversos especialistas pontuam que a saúde do intestino é tão complexa e tão importante que ela pode ser considerada o novo “cérebro”. Essa fala vem no sentido de compreender que o intestino e sua saúde está entre os elementos mais importantes da saúde de alguém, em especial de bebês e crianças pequenas.
Durante a gestação o bebê começa a receber alguns micro-organismos no útero. Estes organismos são necessários para a saúde e desenvolvimento do feto e são recebidos pela placenta da mãe. Mas é nesta passagem pelo canal vaginal, que ocorre no trabalho de parto, que o “banho” é completado.
Assim, é claro que bebês que nascem via cesárea já tem alguma proteção. Mas é no parto normal que eles vão receber a quantia necessária para garantir sua saúde intestinal. Especialistas na área lembram que “Esses agentes colaboram para a maturação do sistema imunológico e deixam o bebê melhor preparado para se defender de agentes externos”. Ou seja, além da saúde do intestino todo o sistema imunológico do pequeno é recompensado pelo parto normal.
Alergias
Além disso, também já descobrimos através da ciência que este tipo de nascimento reduz a probabilidade do bebê desenvolver alergias durante a vida. As pesquisas demonstram que mesmo bebês nascidos em famílias com histórico importante de alergias tem menos riscos de vir a desenvolvê-las.
Algumas pesquisas mais recentes também demonstraram que as crianças que venham a desenvolver alergias têm o problema menos acentuado e tem mais facilidade no tratamento e na recuperação.
8. Eliminação do líquido amniótico
Assim como mencionado anteriormente, a respiração do bebê é facilitada quando ele passa pela experiência do nascimento via parto normal. E isso acontece por outra coisa que também é um benefício do parto natural: a expulsão total do líquido amniótico.
Antes do nascimento, os pulmões do bebê estão cheios deste líquido. Mas durante as contrações o líquido começa devagarinho a ser drenado dos pulmões. No entanto, é na compressão ocorrida pelo parto normal que ele é totalmente expelido.
Além de facilitar a respiração, esta passagem pelo canal vaginal também garante que o líquido seja expelido de forma natural. Por isso, o bebê tende a nascer mais saudável, não precisa passar por longos períodos de observação e não precisa ter o líquido expelido artificialmente.
9. Imunidade
Bebê recém-nascido descansando em cama no fundo branco – Crédito da foto: Freepik
Assim como mencionado, boa parte dos benefícios do bebê com o parto normal passam pelo melhor desenvolvimento do sistema imunológico, que é fortalecido com este tipo de parto. Isso acontece porque durante a passagem pelo canal vaginal o bebê é exposto a uma série importante de microrganismos, que estimulam e reforçam as defesas do bebê.
Um exemplo muito importante de benefício para o sistema imunológico advindo do parto normal é a redução do risco do bebê desenvolver qualquer tipo de infecção. E, assim como já mencionado, esta defesa se prolonga ao longo da vida, uma vez que a criança tem menos chances de sofrer com alergias diversas e responde melhor a tratamentos. Outro elemento importante a ser destacado é a menor chance do bebê se tornar uma criança ou adolescente com problemas respiratórios, o que também é efeito deste sistema imune mais forte.
Além disso, uma série importante de estudos também vêm demonstrando que a saúde cardíaca da criança também tende a ser mais resistente quando ela nasceu via parto normal. E até mesmo o aspecto nutricional da criança tem vantagens quando ela chegou ao mundo de forma natural. Isso porque a ciência tem demonstrado de forma consistente que o parto via cesárea está associado de forma significativa ao sobrepeso ou obesidade. Ou seja, crianças que vêm ao mundo através da cesárea tem mais riscos de desenvolver sobrepeso ou obesidade ainda na infância ou na adolescência, mesmo quando seguem dietas idênticas à dieta de crianças que nasceram naturalmente.
E estes são apenas alguns dos exemplos de benefícios que o parto normal acarreta para a criança. Isso porque há uma série grande de novos estudos descobrindo novas correlações diariamente, mas que é necessário ainda tempo e mais pesquisas para confirmarmos.
10. Flora intestinal do bebê
Você sabia que o bebê nasce sem flora intestinal? Sim, quando o bebê vem ao mundo ele ainda não tem flora intestinal. Isso acontece porque este é um dos poucos elementos que não foram desenvolvidos durante a gestação.
Dessa forma, o bebê vai desenvolver sua flora intestinal somente depois do nascimento. Por isso, o desenvolvimento dela depende restritamente do tipo de parto e da alimentação recebida após o nascimento. Essa foi uma forma encontrada pela natureza de simplificar e acelerar o período de gestação humana. Quanto menos for desenvolvimento ainda na gestação, menos energia e mais fácil de gestar será. No entanto, mais cuidados e tempo será necessário após o nascimento para o novo humano estar pronto para “se virar”.
A solução encontrada pela natureza é ótima, tendo vista que ela também garantiu que logo na chegada do bebê ele teria acesso a uma série de microrganismos que o ajudarão com isso. Entretanto, na medida em que as mulheres foram sendo submetidas a cesáreas, os seus bebês foram chegando ao mundo por um caminho que não os permite ter acesso a estes microrganismos fundamentais para sua saúde. Ou seja, os bebês vêm chegando ao mundo e sendo privados de um elemento fundamental para seu bom desenvolvimento.
Estes microrganismos que ele deveria ter acesso vão o ajudar a formar uma flora “amigável”, o que protege o bebê recém-nascido de uma série de doenças comuns na primeira infância. Não à toa, bebês que passam pelo parto normal tendem a ser mais saudáveis e ter menos problemas de saúde do que bebês que vieram ao mundo via cesárea.
O parto normal é considerado por especialistas a forma ideal de dar à luz
Gestante em sala de parto – Crédito da foto: Freepik
O parto normal ainda é cercado de mistérios e de mitos. Por isso, é muito comum que as mulheres tenham medo, receios, angústias, dúvidas e diversas fantasias com o assunto. No entanto, este é o padrão-ouro na área. O que quer dizer que é considerado a melhor forma de dar à luz, e esse título de padrão-ouro veio somente depois de muita, mas muita pesquisa na área.
O parto normal é considerado o ideal por especialistas porque ele tem muitos benefícios, tanto para a mulher quanto para o recém-nascido. Estes benefícios todos se associam à natureza humana e ao fato do parto ocorrer somente quando a hora do nascimento realmente chegou.
O nascimento via cesárea normalmente ocorre quando os adultos definem que é a melhor hora do parto ocorrer, seja por aspectos de conveniência médica ou por critérios utilizados pelos médicos – critérios estes nem sempre claros e transparentes às mulheres e suas famílias. Mas o parto normal é diferente. Com o parto normal, o bebê chega quando ele precisa chegar, quando ele está pronto.
Com o parto normal, o bebê vem ao mundo quando está completamente formado e maduro. E isso não é somente algo bonito e poético, é também algo que interfere diretamente na saúde do recém-nascido. Isso porque quando ele vem ao mundo estando preparado, a mulher corre menos risco de ter complicações e o bebê corre menos risco de precisar de internação na UTI neonatal. Não é à toa que a maior parte dos bebês internados chegaram ao mundo através de cesárea.
Preparação para o trabalho de parto
Especialistas explicam que a maior comprovação de que o parto normal acontece quando o bebê está pronto reside justamente no fato de que é uma substância liberada pelo pulmão do feto que avisa o corpo da mãe que chegou a hora dele entrar em trabalho de parto. Com este aviso do feto, o corpo feminino aumenta a produção de hormônios como a ocitocina, que ajudam nas contrações uterinas e musculares. E o corpo da mulher também começa a produzir mais cortisol, que regula os níveis de estresse da gestante.
Depois de ter tudo isso pronto e dos organismos da mãe e do bebê estarem prontos, finalmente o momento chega e o bebê é expulso do ventre materno. E vale destacar que a dor desta expulsão natural pode ser reduzida através da utilização de uma série de técnicas para alívio de dor.
Primeiros momentos após o nascimento
Recém nascido dormindo após nascimento – Crédito da foto: Freepik
Algumas médicas pediatras destacam que o nascimento não é “somente” um nascimento. Elas destacam que cada nascimento é um acontecimento único no mundo, e que nenhum nascimento é igual ao outro. Este é um momento que pode e precisa ser especial para a família, de acordo com elas.
O elo entre a mãe e o filho começa a ser formado ainda na gestação, mas é neste momento – nos primeiros momentos após o nascimento – que ele se fortalecerá. Estes primeiros minutos de vida é fundamental para iniciar a relação mãe-bebê de forma afetividade, carinhosa e cheia de amor.
No parto normal, o contato pele com pele é muito mais fácil e mais rápido – e ele pode ocorrer logo após a expulsão do bebê. Mesmo com todas as orientações para que o bebê seja dado à mãe também após cesárea, infelizmente isso é muito mais difícil e muitas maternidades não respeitam esta recomendação. Então, há algo de único e de singular que não pode ser resgatado e que pode se perder em experiências de cesárea.
E é claro que a recuperação muito mais rápida da mulher e o menor risco de complicações por parte do bebê também contribuem para que ambos possam ficar juntos e aproveitar seus momentos de forma mais tranquila.
Mas infelizmente, as taxas de cesárea seguem sendo altíssimas no Brasil. Essa é uma realidade que vem se modificando, mas a passos lentos ainda. E o mais triste é que estas cesáreas não fazem parte daqueles casos em que há necessidade, e nem tampouco dizem respeito a situações onde a mulher pôde escolher. Infelizmente, esta taxa é reflexo da decisão tomada unilateralmente por médicos que tem preferência por este método e impõe isto às suas pacientes.
Excessividade de cesáreas
No ano de 2015 a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu uma alerta geral para o excesso de cesáreas realizadas em alguns países. Infelizmente, o Brasil estava entre os países que mais seriamente desrespeitavam a recomendação. Consequentemente, o nosso país estava entre os que mais faziam partos cirúrgicos sem qualquer critério clínico sólido. Por isso, o Brasil esteve na lista dos países acionados pela OMS, nesta ocasião.
Segundo a instituição de saúde mundial, o ideal é que no máximo 15% dos nascimentos de um país aconteçam através de cesáreas. No entanto, no Brasil este número alcança quase 80%, considerando rede pública e privada de saúde. E quando considerado apenas a rede privada, a situação fica ainda mais grave: praticamente 90% dos partos são cirúrgicos nos planos de saúde. Isso acontece porque no sistema público há um cuidado maior com a ciência e com as recomendações internacionais. Mas entre os convênios médicos o maior foco é o lucro, e é óbvio que colocar na agenda um dia e hora para fazer uma cirurgia que dura pouco mais de uma hora é muito mais lucrativo do que aguardar a natureza e ficar por 6, 10, 15 horas na assistência de um trabalho de parto.
Mudança de cenário, é possível?
Desde este alerta da OMS, o Ministério da Saúde (MS) e outras entidades, como universidades e hospitais, intensificaram os seus esforços para promover mais partos normais. Felizmente, alguns resultados já estão sendo percebidos. Políticas públicas de incentivo ao parto normal conseguiram reduzir a taxa de cesáreas no país. Por exemplo, em março de 2017 foi constatado que a taxa de cesárea no país caiu de quase 80% para 56%. É claro que este número ainda está longe de ser o ideal e segue sendo uma das taxas mais altas do mundo. Entretanto, é um avanço que merece ser comemorado.
Infelizmente, no setor privado as taxas ainda seguem sendo exorbitantes. Na rede privada de saúde, os partos via cesárea ainda representam mais de 80% do total. Então, desde 2015 a taxa de cesáreas caiu na rede privada em apenas 10%. Ou seja, o avanço alcançado nestes últimos anos se deve basicamente à rede de saúde pública, que conseguiu alcançar números bem mais interessantes depois de mudanças significativas nos protocolos de assistência ao parto.
Parto normal humanizado
Médico obstetra fazendo parto normal em hospital – Crédito da foto: Freepik
Infelizmente, no ano de 2018 dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo demonstraram que na rede privada a taxa de cesárea era de 83% do total de partos. Mais de 3 anos depois do alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) e a rede privada segue realizando esta prática de forma indiscriminada.
Médicos obstetras, ginecologistas e pediatras concordam que é necessário ainda muito trabalho pra conscientização tanto de profissionais quanto de pacientes. Isso porque o parto normal ainda é percebido como um momento horroroso de dor e sofrimento, mesmo entre médicos.
Por isso, é fundamental que o imaginário dos profissionais e das pacientes seja trabalhado, para que todos compreendam que a melhor opção sempre é o parto normal e humanizado. Inclusive, uma das barreiras mais difíceis até o momento é justamente desmistificar que parto humanizado é sinônimo de privação de medicamentos para dor ou obrigação de comer a placenta. Muito ao contrário, o parto humanizado nada mais é do que garantir que a mulher e suas decisões sejam respeitadas, incluindo aí o seu desejo pelo uso de analgesia ou pela possibilidade de fazer com a placenta o que desejar.
Mas a cesárea sempre é uma péssima alternativa?
Não, a cesárea não deve sob nenhuma hipótese ser demonizada. Até porque, este procedimento é legítimo e muito valioso. O parto via cesárea é capaz de salvar vidas quando ele se faz necessário.
Os especialistas da área concordam que o problema da cesárea ocorre quando ela é agendada e pré-definida exclusivamente pelo médico. Ou seja, o problema ocorre quando o médico o aplica de forma rotineira, não compartilha da decisão com a gestante e quando sequer dá a oportunidade da mulher decidir ou tentar fazer o parto normal. Estes são os casos que mais costumeiramente geram complicações para a mãe ou para o bebê.
De acordo com os médicos, é importante que a mulher entre em trabalho de parto, tente fazer o parto normal e, se for necessário, seja encaminhada para cesárea. Neste caso, o parto ocorreu no momento que deveria ocorrer, ainda que tenha sido via cesárea (o que é absolutamente diferente de ter uma data agendada, sem saber das condições do feto vir ao mundo naquele momento). E é claro que se a mulher decide que deseja uma cesárea, é importante que isso seja respeitado também.
No entanto, os especialistas lembram que a decisão só pode ser considerada legítima se a mulher teve acesso a informações objetivas e sólidas sobre as suas opções. É importante lembrar disso porque, infelizmente, muitos obstetras romantizam a cesárea, demonizam o parto normal e “deixam a paciente escolher”. Para a escolha, a mulher precisa ter acesso e direito a informações e esclarecimentos de forma ética e transparente.
Alternativas para a cesárea
Gestante em hospital para cesárea – Crédito da foto: Freepik
As pesquisas recentes e a ciência tem demonstrado que a humanização é algo que deve ocorrer em todos os partos, e não somente nos normais. Isso porque ela não está atrelada à técnica utilizada, mas sim, ao respeito e assistência prestada durante o procedimento. Ou seja, a cesárea também pode (e deve!) ser humanizada.
Recentemente descobriu-se que há algumas formas de minimizar os prejuízos causados pela cesárea no desenvolvimento do bebê. Infelizmente, as descobertas recentes também apontam que os benefícios estão longe de terem a mesma proporção. Entretanto, estes cuidados extras seguem sendo uma forma de reduzir o abismo que existe entre a saúde de um bebê que nasce naturalmente e um bebê que nasce via cesárea.
Por exemplo, parte dos benefícios do parto normal pode ser obtido com cesárea através de alguns elementos principais:
- Estimular o contato entre a mãe e o bebê nos primeiros minutos de vida dele;
- Ofertar o seio da mãe para a mamada logo que o bebê seja retirado do útero;
- Passar os fluidos da vagina da mãe imediatamente após a retirada cirúrgica com auxílio de uma gaze.
Nenhum destes elementos contribui tanto para o bebê quanto a experiência de parto normal. No entanto, são algumas estratégias para reduzir os prejuízos da cesárea, ao menos para o recém-nascido. Infelizmente, o risco da mãe desenvolver alguma infecção ou depressão pós-parto segue igual. E, infelizmente também, os riscos do bebê desenvolver infecção, problemas respiratórios e outros problemas também seguem iguais.
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