A depressão infantil é um assunto ainda pouco discutido entre profissionais e cuidadores de crianças. Muito disso se deve ao fato de que as pessoas acreditam que as crianças não tem “razões” para se deprimirem. Esse pensamento acontece porque os adultos acreditam que a criança não tem problema como os adultos têm. Portanto, elas não vão se deprimir, não é?
Entretanto, se a depressão acontecesse porque a pessoa tem problemas, então todos teríamos esse diagnóstico, não é? Afinal, quem não tem problemas para resolver?
A depressão infantil é um problema cada vez mais frequente entre as crianças e os adolescentes. Alguns levantamentos da Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstraram que as taxas de depressão na infância e na adolescência quase dobraram ao longo da última década.
Por isso, é fundamental compreendermos o que é a depressão infantil, assim como conhecermos os seus sintomas, as possíveis causas, a influência da família e da escola no diagnóstico e as melhores formas de tratamento e de prevenção. Veja tudo isso neste artigo, boa leitura!
O que é e o que não é depressão infantil?
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O primeiro ponto é desmistificar essa história de que criança não tem problema. Evidentemente que os problemas da criança não são os mesmos do adulto, mas isso não quer dizer que eles não existam.
Na infância, a criança está se desenvolvendo e está aprendendo como o mundo, as pessoas e as coisas funcionam. E isso traz uma série de problemas reais e angustiantes para a criança, sim. As vivências na escola, em casa e nos outros círculos que o pequeno frequentam podem acarretar sérios problemas para ele. Por exemplo, assim como você se angustia hoje com a sobrecarga que seu chefe coloca em cima de você no trabalho, talvez sua filha se angustie com a mudança de professora na escola e com a consequente mudança de métodos didáticos dela.
Mas é claro que isso não quer dizer que toda tristeza ou angústia seja sinal de depressão infantil. Na verdade, os problemas podem causar uma série de sentimentos nas crianças. Entretanto, isso não quer dizer que todos eles vão levar os pequenos a um quadro depressivo, ok?
É normal que as mudanças na rotina da criança gerem episódios normais e esperados de tristeza. Além da tristeza, a criança também pode se ver em situações que a deixem em luto, irritada ou sentindo-se inadequada. Entretanto, nada disso por si só é sinal de depressão. Por exemplo, se o bichinho de estimação da criança faleceu é normal que ela fique irritada, brava, triste ou de luto. Isso é esperado e é um sentimento adequado ao contexto.
Quando desconfiar do diagnóstico, então?
Sim, é normal que a criança passe por episódios de tristeza, raiva ou luto. Entretanto, quando os sintomas se apresentam de forma persistente e duradoura é necessário ficarmos mais atentos. Isso porque a depressão infantil é um distúrbio de humor que vai para além da tristeza normal e temporária.
Este é um diagnóstico que retrata uma perturbação psíquica e orgânica. Por isso, a depressão infantil tem variáveis sociais, psicológicas e biológicas.
A doença pode se apresentar em crianças e adolescentes de qualquer idade. Alguns pais se surpreendem com esse dado, mas é possível que a criança não saiba falar mas já apresente depressão. Todavia, o mais comum é que o diagnóstico se faça presente em crianças com 6 até 11 anos de idade, de acordo com o Ministério da Saúde.
Depressão infantil
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A criança ainda está em formação. Ou seja, ela está aprendendo e está desenvolvendo o seu repertório de identificação e comunicação dos sentimentos. Por isso, é normal que as crianças ainda não consigam expressar verbalmente o que sentem e pensam. De modo geral, a criança comunica o que está se passando em seu universo interior através de sintomas e comportamentos. Portanto, é fundamental que os adultos prestem atenção aos detalhes que a criança expressa.
A criança com o diagnóstico de depressão infantil pode apresentar uma enorme variedade de sintomas. Inclusive, os próprios sintomas podem servir como uma forma de avaliar a gravidade da situação.
Por exemplo, a criança pode apresentar sintomas mais brandos ou sintomas mais severos. Um caso precoce pode envolver episódios de tristeza em situações estressantes. Entretanto, se a criança mantém os sintomas e os mesmos se agravam pode ser que ela esteja apresentando uma condição clínica mais grave. Nestes casos, a vivência dela possivelmente está sendo marcada por enorme sofrimento.
Esfera biológica, psicológica e social
Em relação ao aspecto biológico, a depressão infantil é vista como uma disfunção dos neurotransmissores provavelmente devido à herança genética. Nestes casos também é normal vermos áreas do cérebro com anomalias ou com falhas.
Em relação ao aspecto psicológico, o diagnóstico está associado com o comprometimento da personalidade da criança. Isso pode afetar toda a sua vida e pode se apresentar de diversas formas. Alguns sintomas comuns destes casos estão associados com demonstração de baixa autoestima, dificuldade de acreditar em si mesma e sentimento persistente de inadequação e de inferioridade.
Em relação ao aspecto social, a depressão infantil pode ser visualizada como uma maior dificuldade de se adaptar ao ambiente. Isso pode acontecer porque há uma espécie de violação em relação aos mecanismos culturais, familiares e escolares na perspectiva da criança. Ou seja, ela não consegue se sentir pertencente nos ambientes que circula.
Principais causas
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Assim como mencionado anteriormente, há uma série de fatores associados à depressão infantil. Os fatores mais comuns possuem fundo biológico, psicológico e social.
De modo geral, a depressão infantil pode se desenvolver devido a uma disfunção cerebral. Isso costuma acontecer porque há problemas com os neurotransmissores e com os neuroreceptores da criança. A genética e a herança hereditária costumam ter influência nestes casos, sendo os principais responsáveis por essas disfunções.
Entretanto, a doença não é puramente biológica. Há os fatores psicológicos que contribuem para o desenvolvimento do diagnóstico. Os problemas psicológicos e emocionais são preponderantes na depressão infantil. Isso porque somente o fator genético não é suficiente para causar depressão em alguém, de acordo com uma série de estudos das últimas décadas.
Ou seja, é necessário que além dos aspectos biológicos haja algum(ns) fator(es) psicológico(s) que sirva(m) de gatilho para o desenvolvimento deste problema.
Causas mais comuns
Alguns exemplos comuns de gatilhos que podem facilitar o desenvolvimento de depressão infantil são, por exemplo:
Destaca-se que o divórcio por si só não é gatilho para depressão na criança. Na verdade, o problema está no rompimento do laço com um dos cuidadores.
Inúmeros estudos demonstraram que é mais saudável para a criança conviver com os pais separados, mas que saibam conviver quando necessário e que cumpram seus papéis de cuidadores do que conviver em um lar com pais que não se suportam mais e que expõe as crianças a situações de brigas constantes e de conflitos.
Além disso, também é comum que a criança desenvolva depressão infantil quando ela passa por inúmeras experiências de fracasso. Isso acontece porque os eventos estressantes do fracasso podem alterar a imagem da criança sobre si mesma. Ou seja, essas experiências podem afetar sua autoestima e, consequentemente, seus pensamentos e sua conduta.
Outras causas possíveis
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Exatamente por possuir fator genético, quando a mãe ou pai tem ou já teve depressão a criança tem mais chances de desenvolver a doença. Entretanto, você sabia que quando o cuidador com depressão não tem laço genético com a criança ela também corre mais riscos de desenvolver depressão?
Isso acontece porque quando a criança é cuidada por uma pessoa que tem ou teve depressão, a criança pode ter mais dificuldade de desenvolver a regulação da atenção e dos estados emocionais de forma adequada. De modo geral, isso acontece porque o cuidador apresenta mais dificuldade de empenhar o seu papel de responsável pela criança.
Ser cuidada por uma pessoa com dificuldade de desempenhar esse papel deixa marcas na criança que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro depressivo ainda na infância.
Outras patologias e situações médicas também podem gerar ansiedade e contribuir para o quadro de depressão infantil. Por exemplo:
Passar por essas experiências variadas pode formar um conjunto de fatores de risco que potencializam o desenvolvimento da depressão infantil.
Claro que não é porque a criança passou por algumas dessas experiências que isso queira dizer que ela certamente vai ter depressão. Na verdade, não há um elemento sequer desta lista que seja suficiente para fazer com que alguém tenha a doença. É justamente o conjunto de fatores que potencializam o diagnóstico.
Ou seja, é possível que uma criança esteja passando por depressão infantil tendo vivido apenas dois ou três cenários listados aqui enquanto outra criança que passou por muitos deles não tenha desenvolvido a doença. Justamente por isso, é fundamental que a criança seja levada a um profissional capacitado para avaliar o caso, se a família estiver com suspeitas do diagnóstico.
Sintomas da depressão infantil
Os sintomas da depressão infantil podem variar bastante a depender da idade da criança. Isso acontece justamente porque ela está se desenvolvendo e aprendendo a se comunicar. Ou seja, a forma da criança demonstrar o seu sofrimento pode variar a depender das condições que ela tiver de comunicar o que está a acontecendo.
Os bebês até crianças com dois anos de idade podem apresentar alguns dos seguintes sintomas:
Entretanto, crianças com até quatro anos de idade (idade pré-escolar) podem apresentar novos sintomas, por exemplo:
- Comportamento regressivo, em especial no aspecto psicomotor
- Grande dificuldade de desenvolver a linguagem
- Controle esfincteriano (capacidade ou incapacidade de controlar o xixi e cocô e/ou comunicar sua necessidade de usar o banheiro)
Os primeiros sintomas percebidos
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É absolutamente normal que a criança explore o ambiente. Essa é uma forma dela descobrir coisas novas (e cada nova descoberta da infância é motivo de festa). Entretanto, quando a criança se sente com medo ou com insegurança, ela pode se retrair significativamente.
Nas situações de retraimento, a criança tendo a se “aquietar”. Isso quer dizer que ela pode:
- Ficar isolada (não querer mais brincar com outras crianças, preferindo ficar sozinha)
- Sentir grande medo de se separar dos seus pais ou cuidadores (chorar e fazer verdadeiros escândalos quando os pais precisam deixar a criança em algum lugar, como na escola ou em casa com uma babá)
- Ficar parada (ir para algum cantinho do ambiente e não interagir, não brincar e ficar quieta e parada)
- Apresentar alterações na rotina e na qualidade do sono (ter o sono interrompido por pesadelos, sentir medo de ficar sozinha para dormir, reclamar e chorar quando chega a hora de dormir)
Apesar destes serem apenas alguns dos sintomas da depressão infantil, eles merecem destaque porque não raramente são os primeiros percebidos pelos pais. Claro que há muitos outros sintomas, mas normalmente estes são percebidos primeiro porque eles se associam diretamente com o comportamento da criança no cotidiano (como sua forma de brincar, sua aceitação de se separar dos pais e a qualidade de seu sono).
Quando estes sintomas começam a aparecer e se mostram persistentes é necessário ficar atento. Qualquer um deles pode ser um sintoma momentâneo. Nestes casos, normalmente é a forma da criança mostrar aos adultos que há algo de errado. Entretanto, se o comportamento persistir pode ser importante acionar um profissional para averiguar a situação.
Principais sintomas
A lista dos sintomas de depressão infantil é extensa e é claro que nenhuma criança precisa apresentar todos eles para ter o diagnóstico. Na verdade, é justamente a possibilidade de mesclar os sintomas mais variados que faz com que esse diagnóstico seja complexo.
Os principais sintomas costumam ser:
- Autocrítica elevada
- Sentimentos de inferioridade
- Comportamento agressivo
- Irritabilidade
- Tiques
- Medos e fobias diversos, incluindo fobia escolar (medo excessivo de ir ou ficar na escola)
- Anorexia
- Problemas de memória
- Dificuldade de concentração e atenção
- Problemas no controle do esfincter, como enurese e encoprese (fazer xixi e/ou cocô nas roupas ou na cama)
- Ansiedade elevada
- Hipocondria (medo excessivo de ter alguma doença não-diagnosticada)
- Aumento significativo da sensibilidade
- Sentimento de rejeição e de desamparo
- Comportamento de extrema obediência, beirando um comportamento de submissão
- Descuido pessoal, corporal e com sua higiene
- Tendência ao pessimismo
- Comportamento autopunitivo e sentimento de culpa constante
- Olhar muito tempo e/ou com muita frequência para o chão
- Permanecer com a postura arqueada
- Sensação recorrente de cansaço e/ou fadiga
- Fala monótona, devagar e com ausência de expressão e/ou utilização de respostas monossilábicas
- Atividade extrema ou apatia e/ou hipoatividade
- Sentimento de falta de valor ou de inutilidade
- Alteração no peso e no apetite (para cima ou para baixo)
- Problemas de sono
- Choros frequentes (em casos mais graves, alguns episódios de choro não tem razões aparentes e/ou adequadas para a situação)
- Queixas físicas (como dores)
Sobre a apresentação da ideia de morte e suicídio na infância
Apesar de muito mais raros entre crianças menores, também é um sintoma comum dos casos mais graves pensamentos recorrentes sobre a morte ou sobre o suicídio. Em relação a este fator, destaca-se que nem todo pensamento sobre morte é necessariamente um pensamento suicida. Por exemplo, a criança pode pensar com frequência sobre o assunto mas sempre em relação aos outros (a morte da plantinha da mamãe, a morte de uma vizinha da avó, a morte do peixe da família e etc).
Há também casos onde a morte aparece no pensamento de uma forma mascarada. Por exemplo, quando a criança menciona que está pensando sobre coisas que sugerem a interrupção da vida, mesmo quando ela não fala propriamente sobre a morte. Alguns exemplos são quando ela fala sobre “sumir”, “ir embora”, “desaparecer” mas quando perguntada: “ir embora para onde?”, ela não sabe responder.
Aqui há claramente a presença do tema de rompimento ou interrupção de algo (talvez da vida), mesmo que a criança não mencione essa palavra nenhuma única vez.
Mudança de comportamento
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Além de estar atento aos sintomas, também é necessário levar em contato a mudança de comportamento da criança. É verdade que esse cuidado é bem difícil, porque a criança está se desenvolvendo então ela está em constante mudança. Hoje a criança gosta de brincar de um jeito e amanhã muda totalmente. Hoje ela gosta de fazer algo, e amanhã não gosta mais. Em alguma medida, as mudanças são normais (em especial entre crianças pequenas).
Entretanto, a mudança de comportamento é determinante para estabelecermos o padrão de comportamento da criança. Por exemplo:
- Uma criança que era ativa e ficou quieta e sem interesse por nada repentinamente
- Quando a criança sempre foi calma e de repente começou a se mostrar irritada ou agressiva
- A criança era ativa e alegre e começa a se mostrar pessimista
Mais que somente analisar os sintomas, é preciso também verificar se houve mudança de comportamento na criança. Inclusive, começar a registrar de alguma forma (por exemplo, fazendo anotações com datas) quando e como as mudanças aconteceram pode ajudar a definir quais fatores podem ter associação com a depressão infantil.
Depressão na criança e no adulto
O Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-V) é um instrumento utilizado para definição dos sintomas e dos critérios para diagnóstico de diversos transtornos mentais, incluindo a depressão. O DSM-V compreende que a depressão infantil é semelhante à depressão do adulto. Por isso, os critérios diagnósticos de depressão no adulto podem ser utilizados para diagnosticar o problema na criança também.
Sendo esta fonte, os sintomas de depressão são:
- Humor deprimido na maior parte do dia
- Falta de interesse na maioria das atividades diárias
- Alterações de sono e de apetite
- Falta de energia
- Alteração nas atividades motoras
- Sentimento de inutilidade
- Dificuldade para se concentrar
- Pensamentos ou tentativas de suicídio
Para que o diagnóstico seja fechado, é necessário que a pessoa apresente cinco ou mais dos sintomas citados. Entretanto, é obrigatório que um dos sintomas seja:
- Humor deprimido a maior parte do dia; ou
- Falta de interesse na maioria das atividades diárias
Além disso, é necessário que os sintomas sejam persistentes. Isso quer dizer que é preciso que eles se apresentem por um período mínimo de duas semanas ininterruptas.
Entretanto, há algumas ressalvas considerando o nível de desenvolvimento da pessoa. Isso ajuda a diagnosticar crianças e adolescentes. Por exemplo, é possível que a criança apresente humor irritável e não triste. Além disso, a queda no rendimento escolar também pode ser considerado um sintoma. Isso porque é compreendido que esta é uma consequência natural quando há maior dificuldade para pensar e para se concentrar.
O impacto da família e da escola na depressão infantil
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Os fatores psicológicos e, principalmente, os fatores sociais da depressão infantil demonstram que a família e a escola são ambientes preponderantes para o desenvolvimento da doença (ou para prevenção dela). Isso porque a depressão também se sustenta nos padrões de relacionamento que a criança experimenta.
Ou seja, ambientes e situações com algumas características potencializam o diagnóstico. Algumas das piores situações que você pode expor a criança possuem, por exemplo:
Evidentemente, essas situações podem acontecer tanto em casa quanto na escola. Por isso, os dois ambientes podem refletir em sofrimento psíquico para a criança grave o suficiente para a levar a um quadro de depressão.
Na escola, problemas de relação com os professores e com colegas pode prejudicar o bem-estar emocional da criança. Em casa, conviver com os pais brigando ou ser afastado de um dos cuidadores pode acarretar sérios danos ao pequeno.
Quando a família e a escola não percebe
Como as crianças estão em desenvolvimento, é normal encontrarmos casos onde a família e a escola não percebem com a devida atenção as mudanças ocorridas na criança. De modo geral, isso acontece porque os adultos mais próximos acreditam que é uma mudança normal do desenvolvimento. Por isso, não raramente crianças que se calam e que se retraem demoram para receber qualquer atenção especial.
Além disso, muitas crianças que ficam mais quietas, caladas e comportadas são vistas como uma “boa criança” pela família e pela escola. Além desse descuido dificultar o diagnóstico e, normalmente, levar a criança para atendimento somente quando o caso já estiver mais grave, esse comportamento de “reforçar” na criança a depressão também traz sérios problemas para o tratamento. Isso porque há casos em que a família e a escola “ensinaram” para a criança que ela será recompensada com carinho e com elogios se ela continuar se apresentando “calminha”, “quieta” e deprimida.
O que é responsabilidade da família, da escola e o que não é
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A falta de informações das famílias e escolas sobre depressão infantil pode atrapalhar bastante o diagnóstico da criança. Ou seja, essa falta de informações pode contribuir para a ampliação das dificuldades da criança e para o seu sofrimento. Isso porque é mais provável que a criança seja encaminhada para atendimento quando o caso estiver bem mais grave e, consequentemente, quando há houverem sequelas emocionais na criança.
Entretanto, de nenhuma forma isso significa que a família ou a escola sejam “culpados” ou responsáveis pela situação. É evidente que nem a família e nem a escola estão preparados para diagnosticar uma criança com depressão (ou com qualquer outro transtorno).
Destaca-se ainda que está tudo bem eles não estarem preparados, porque eles não são responsáveis pelo diagnóstico. No entanto, é responsabilidade destes ambientes ter um olhar atento às crianças. Com conhecimento sobre os sintomas mais comuns do diagnóstico e com atenção às suas crianças, tanto a escola quanto a família podem começar a “desconfiar/suspeitar” quando algo errado estiver acontecendo.
Nesse sentido, a criança poderá ser encaminhada para uma avaliação rapidamente sempre que houver necessidade. Quanto mais cedo a criança for encaminhada para um psicólogo infantil, mais rapidamente ela terá acesso ao tratamento/intervenção adequado. E, claro, quanto antes o tratamento iniciar melhores as chances de dissolver o problema.
O que é possível fazer?
Quando a escola percebe que há mudanças no comportamento da criança, é necessário fazer o encaminhamento para um psicólogo e alertar a família sobre o caso. Alguns dos sintomas mais fáceis da escola perceber são, por exemplo:
Entretanto, quando a família percebe que algo está acontecendo, é sua responsabilidade levar a criança até um profissional para o diagnóstico e tratamento. O ideal também é comunicar a escola sobre o percebido, mas não é necessário esperar que a escola perceba algum sinal para que a procura por profissional aconteça.
Mais que simplesmente fazer o diagnóstico e levar a criança ao tratamento, os adultos próximos dela também precisam ajudá-la. Para isso, é muito importante que os adultos apoiem a criança. A melhor forma de fazer isso é mostrar que a criança não está sozinha. Alguns exemplos de como fazer isso podem ser:
- Respeite e tente compreender os sentimentos da criança
- Mostre que você se importa com os problemas dela
- Incentive sem pressão a criança a fazer atividades que ela gosta
- Dê atenção, converse, pergunte como ela está e como ela se sente
- Diga e mostre que ela é amada dando carinho
- Elogie ela e as coisas que ela faz e quando for necessário corrigir algo, o faça com gentileza
Talvez o papel mais importante da família e da escola nessas situações seja construir um ambiente saudável, seguro e acolhedor para as crianças. Quando a criança se sente segura, querida e acolhida, ela tem mais chances de superar a depressão infantil. Isso porque grande parte do problema está justamente nas dificuldades relacionais da criança.
Tratamento para a depressão infantil
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Infelizmente, há casos em que a família e a escola até percebem os sinais, mas acabam por levar a criança em profissionais da saúde que não dão a devida importância ao quadro. Apesar de não ser uma regra, muitos médicos não possuem qualificação para avaliarem o caso. Isso acontece principalmente entre os profissionais preocupados exclusivamente com os aspectos fisiológicos e biológicos dos pacientes.
Levar a criança neste tipo de profissional pode agravar ainda mais o quadro. De modo geral, isso acontece porque o profissional não conseguirá fazer o diagnóstico adequadamente. Não raramente vemos profissionais desqualificando o quadro com afirmativas do tipo “não é nada”, “é birra” e etc.
Se é perturbador para nós ouvirmos de um profissional que não há nada de errado conosco quando sabemos que há algo, imagine o problema que isso pode acarretar para uma criança com depressão infantil. Lembrando que alguns dos sintomas são justamente o sentimento de inferioridade, inadequação e baixa autoestima.
Problemas de diagnóstico
Outro problema que dificulta bastante o diagnóstico correto da depressão infantil é o fato de que depressão é sintoma de outros transtornos. Por isso, é comum que crianças que sofrem desse problema acabem recebendo outros diagnósticos e, consequentemente, são tratadas de forma equivocada.
Os diagnósticos que mais comumente são confundidos, nesses casos, são:
Psicoterapia para casos de depressão infantil
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A psicoterapia é o tratamento mais eficaz para a depressão, independente de estar lidando com crianças, adolescentes ou adultos. Essa é a melhor indicação porque ela é baseada em uma abordagem individualizada. Ou seja, ainda a criança não seja a única no mundo a ter depressão, a forma que ela vive a doença é. Por isso, é fundamental que o tratamento seja específico para o caso particular dela.
O psicólogo responsável pela psicoterapia vai verificar os sintomas e ele poderá (ou não) fechar o diagnóstico de depressão, a depender do caso. Se for necessário, o profissional poderá encaminhar a criança para um médico psiquiatra para confirmar a suspeita de diagnóstico, apesar do encaminhamento não ser obrigatório.
Em alguns casos, a criança pode precisar usar alguma medicação. Nestes casos, sim, o médico psiquiatra certamente é acionado. Entretanto, destaca-se que a medicação é utilizada como último recurso e deve ser consumida somente quando não há outra alternativa, em especial no caso de crianças pequenas.
Ou seja, dependendo da gravidade do caso é possível que a psicoterapia seja a única intervenção no tratamento.
Diagnóstico precoce
Como já mencionado, o diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento. No caso da depressão infantil especificamente, isso é particularmente importante porque quanto mais tempo levar para o início da intervenção, mais resistente à mudanças o comportamento da criança pode ficar.
Infelizmente, há casos de pacientes com depressão que começaram a apresentar os sintomas ainda na infância e que a doença perdurou por boa parte da vida. Não raramente, adolescentes ou adultos com depressão possuem a doença desde pequenos. Claro que parte do problema possui associação com o não-tratamento nas fases anteriores da vida. Entretanto, há casos onde o tratamento já é antigo, mas a doença persiste (muito devido a demora para iniciar o tratamento adequado).
Prevenção
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Os ambientes onde a criança circula são fundamentais para o bom (ou mau) desenvolvimento emocional da mesma. Isso porque a criança precisa sentir que os espaços suprem as suas demandas básicas: proteção e acolhimento. Portanto, fornecer um ambiente acolhedor é elementar para prevenir qualquer problema emocional, e não somente a depressão. Alguns fatores preponderantes para o bom desenvolvimento da criança são, por exemplo:
- Amor e carinho
- Compreensão
- Amparo
- Confiança
- Atenção
Construir uma relação de confiança, onde a criança sinta que é amada, cuidada e amparada (sem os excessos da superproteção!) é a forma mais adequada e mais certeira para prevenir a depressão infantil. Isso vale mesmo para casos onde a criança tenha pré-disposição para a doença, como crianças vindas de famílias disfuncionais ou com membros deprimidos.
Para prevenir que outros problemas se desenvolvam na adolescência e na vida adulta, é necessário que a criança seja tratada (quando necessário) logo na infância. Isso porque a depressão infantil é capaz de comprometer seriamente o desenvolvimento e o processo de amadurecimento psicológico e social da criança.
Quando o tratamento não ocorre de forma adequada, ou no momento certo, os problemas podem evoluir e podem ficar mais graves. Por exemplo, um problema menos sérios como problemas de rendimento escolar ou de convívio social pode se transformar em grandes problemas de autoestima, dificuldades sérias de se relacionar e incapacidade de se equilibrar com os estresses e obrigações da vida adulta. Apesar de ocorrerem em menor grau, os casos mais sérios podem levar a pessoa a ideias ou tentativas de suicídio.
A importância da escola na prevenção da criança
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Apesar da grande importância da família para os cuidados e para a prevenção da depressão infantil, não é somente ela que é responsável pelo caso. A escola também desempenha papel crucial nesse cuidado, já que está entre os principais lugares onde a criança convive.
Quando a criança é bem sucedida na escola e participa das atividades, ela tem muito menos risco de desenvolver depressão infantil. Isso porque ter relações positivas com adultos fora da família, ter uma boa imagem de si mesma e receber suporte adequado em suas necessidades a ajuda a ter suas capacidades intelectuais e sociais preservadas.
Dificilmente uma criança que se sente segura, cuidada, amparada, compreendida e que confia em si mesma desenvolverá um transtorno de humor, como é o caso da depressão infantil.
Resumindo
Assim como no caso do adulto, a depressão infantil é uma condição clínica grave. Este diagnóstico pode acarretar em problemas graves para a criança e para o adolescente.
Por isso, a família e a escola devem estar atentos à mudanças significativas ocasionadas nas crianças. Isso é particularmente importante neste caso porque os sintomas podem passar despercebidos e, portanto, os adultos podem se dar por conta quando o quadro já estiver mais severo.
Quando não tratado adequadamente, a depressão infantil pode se desenvolver e ter continuidade no restante da vida da pessoa, incluindo sua vida adulta.
Para que as suspeitas sejam consistentes e possam realmente ter associação com a doença, os sintomas precisam persistir fortemente por duas semanas seguidas ou mais. E, claro, quanto mais cedo o diagnóstico for feito e o tratamento iniciar, melhores as chances de recuperação.
O tratamento precisa ser conduzido por um psicólogo e pode (ou não) necessitar de acompanhamento medicamentoso com um médico psiquiatra (que deve trabalhar em conjunto com o psicólogo, já que este é o profissional que atuará mais diretamente com a criança).
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