Quando penso na formação de Catarina, de uma forma completa, desejo que ela tenha boas noções de educação financeira. Pode parecer besteira, mas tenho certeza de que não é: eu mesma sabia muito pouco sobre dinheiro (aprendi com meus pais a gastar menos do que ganho – o que acho imprescindível, mas não o bastante), e acabei aprendendo mais apenas depois de adulta. E vejo que outras pessoas da mesma idade, que conheciam melhor o assunto desde a infância, conseguiram, de forma geral, construir um patrimônio maior do que o que eu já conquistei.
Você pode estar pensando agora: mas meu filho é tão pequenininho, e lá vem essa chata falar sobre dinheiro? É que eu percebi que é possível falar sobre economia com nossos filhotes desde cedo (não é uma missão impossível, eu juro!). Com pequenas atitudes, que podem surgir em momentos do dia a dia, dá para introduzir o assunto de uma forma leve, e mostrar ao filhote a importância de poupar – e quanto antes você começar esse aprendizado, mais naturalmente ele acontecerá. Além disso, acredito que uma criança que tenha contato com esse conhecimento cresce valorizando um consumo consciente – o que diminuirá sensivelmente até as birras nas horas das compras!
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Se você também pensa como eu, dê uma espiadinha em algumas dicas que separei a seguir. E depois em conte como você trata a questão aí na sua casa!
- Aproveite quando o seu filho pede algo: é muito comum que um filho peça algo que você não pretende comprar na hora, não é verdade? Já pensou que esse é um ótimo momento para ensiná-lo como economizar nas compras? Você pode fazer assim: mostre ao filhote o preço do que ele quer e quanto será necessário que ele economize para comprá-lo. Então, como incentivo, ofereça à criança, depois de algum tempo, o mesmo valor que ela tiver poupado (por exemplo: se ela conseguir economizar 10 reais, complete com mais 10). Mais uma dica é que, para acompanhar o progresso da sua economia, vocês podem fazer juntos uma planilha ou tabela, em que anotam o quanto já foi poupado e o quanto ainda falta para conseguir o item de desejo.
- Leve-o às compras com você: crianças são muito perceptivas e analisam tudo o que fazemos, o tempo todo. E o nosso comportamento durante uma compra, se o pequeno estiver junto, também será alvo de “análise”. Portanto, leve-o às compras com você e pesquise preços em estabelecimentos diferentes, pergunte sempre na hora de pagar se há desconto, prefira o pagamento à vista (ou ensine que o parcelamento sem juros também é uma forma de pagar menos, se o dinheiro permanece rendendo no banco!). Todos esses hábitos básicos, essenciais para a saúde financeira, devem ser mostrados à criança por meio do exemplo. E também, aos poucos, tente explicar a ela por que você toma essas medidas, antes de adquirir um produto.
- Incentive-o a adquirir alguns produtos usados: você costuma frequentar lojas de produtos usados? Pois as famílias que têm esse hábito devem incentivá-lo junto aos pequenos. Por exemplo, se a criança quiser um livro novo, faça uma pesquisa na internet para verificar se a obra está disponível em algum sebo e se o preço compensa mais do que a aquisição na livraria. Em caso afirmativo, mostre ao filhote a diferença nos valores (porque nem sempre é fácil convencê-lo de que algo usado é melhor do que um novo). E acredite: se ele for adquirir o produto com o próprio dinheiro, provavelmente vai gostar bastante da ideia de economizar na compra! Lembre-o também de que a economia pode abrir espaço para comprar mais alguma coisa que ele queira, mas que a qualidade do item usado vem em primeiro lugar (se não estiver em bom estado de conservação, provavelmente ele terá que gastar duas vezes, comprando em seguida um novinho em folha!).
- Faça das compras uma brincadeira: que tal transformar o dia de compras em uma caça ao tesouro? Você pode selecionar um produto e o desafio será encontrá-lo pelo menor preço (ou encontrar o item mais em conta no mesmo local, que pode ser de uma marca diferente). Também é válido, depois das compras e da brincadeira, rever com a criança o quanto vocês economizaram com essa pesquisa. Esse é mais um reforço para que ela entenda a importância de pesquisar preços.
- Mostre que nem sempre marca é importante: especialmente para produtos escolares, nem sempre aquele que tem um personagem famoso estampado é o melhor em qualidade (e muito menos o mais em conta – mas quase sempre é o que os nossos filhos pedem!). Em uma situação assim, em que o filhote quer o mais caro, explique a ele que um produto mais barato pode ser tão bom (ou até melhor) quanto o de valor mais alto. Para facilitar a troca, ofereça ao pequeno o dinheiro que for economizado com a compra do item mais barato – ele pode comprar algo de que goste ou guardar no cofrinho, para conseguir adquirir aquele tão sonhado presente!
- Introduza a diferença entre necessidade e vontade: essa regra vale ouro para todo mundo que quer economizar, e pode ser repassada às crianças. Por exemplo, quando o filhote pede alguma coisa nova, verifique se ele já não tem aquilo (e se ainda está em boas condições de uso). Pedir um novo do que já se tem é uma prática muito comum na época de compra de material escolar, por exemplo. Nesse caso, é interessante sentar com a criança e explicar a diferença entre vontade e necessidade. Ainda no caso do material, uma “necessidade” pode incluir um fichário novo para substituir o que está quebrado, enquanto a “vontade” inclui uma roupa ou objeto de uma marca específica, que não seja fundamental. Mais uma vez, uma medida para incentivar a prática (que nem sempre é bem aceita pela criança) é reforçar que, com o dinheiro que for economizado, deixando de comprar algo que ela não precisa, ela pode adquirir outra coisa – que ela precise e queira, às vezes até um pouco mais cara.
Para saber mais como introduzir educação financeira às crianças, não deixe de conferir neste post uma entrevista que fiz com o educador Gustavo Cerbasi. Imperdível!