Já reparou como nossos filhos estão reproduzindo, nos últimos tempos, frases pesadas, tristes, e até mesmo raivosas? É como se toda a loucura do mundo em que vivemos estivesse invadindo seus coraçõezinhos, a partir do que dizemos a eles. Mas será esse mesmo o melhor caminho? Essa é a reflexão proposta pela nossa querida colaboradora Fabiana, com mais um de seus textos deliciosos! Imperdível!
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Por Fabiana de Toledo Oliveira
Vivemos tempos de tempestade. Tempos de testas franzidas, ânimos em chamas e almas que pesam toneladas. Tempos de convicções implacáveis, esperanças moribundas e negativismo à solta. Mas, em meio a toda essa escuridão, a vida se desenrola em nossos lares. As crianças, em seus microcosmos, fervilham, florescem, transbordam energia e vigor. Elas se ocupam daquilo que suas essências lhes imploram. Seja qual for o clima lá fora, elas só querem brincar, mexer o corpo, cair na farra, vestir suas fantasias e descobrir o mundo. Seus espíritos contrastam radicalmente com esses dias atormentados, que tanto ecoam lamentos, inquietações e descrenças. E aí cabe refletir: mas as crianças não estão certas? Sim, claro que estão! Vivem a infância, afinal. São brincantes por natureza, seres que combinam com risos e que aprendem com a diversão.
Imagem: 123RF
O problema é que muita gente anda subvertendo essa ordem. Famílias vêm arrancando seus filhotes desse universo encantado e os transportando para a terra do ódio, das desavenças, das discriminações e da incredulidade. Movidos por traiçoeiras emoções, muitos pais acabam – por querer ou sem querer – envolvendo seus pequenos em um assunto de gente grande que não lhes cabe. Xingam na frente deles, atracam-se em discussões calorosas demais, ficam mal-humorados e sem disposição para se conectarem com as crias, disseminam pensamentos incompatíveis com suas cabecinhas… Acima de tudo, semeiam nos pequeninos corações sentimentos que só causam dor: ira, tristeza, raiva, intolerância, dentre outros mais feios do que bicho-papão.
Alguns alegam a intenção de transmitir valores cívicos aos rebentos, outros dizem que crianças merecem a verdade nua e crua, e um bom tanto se justifica dizendo que formação política se inicia na infância. Pera lá! Quer ensinar patriotismo? Pira no Carnaval, se joga nas maravilhas das festas regionais, dança frevo na sala, faz uns almoços temáticos com comidas típicas de diferentes regiões, deixa o folclore invadir sua casa… Melhor: se puder, viaja por aí e mostra como esse Brasil é lindão! De resto, troque as verdades difíceis de serem processadas pelas mentes em formação por frases simplificadas que estimulam a capacidade de questionamento e use recursos legais para ensinar que política é algo presente até na escola, no clube ou no condomínio. Que tal esse livro aqui?
Pessoas recém-chegadas a esse planeta merecem curtir a viagem um bocado antes de terem contato com as mazelas locais, não acha? Não dá pra educar para o bem quando a gente martela para a prole que o nosso país não tem jeito, que a maldade impera e que, em alguns casos, cai bem falar uns nomes feios e desejar coisas ruins aos outros. Pior: não dá pra ser alguém equilibrado com uma cabeça onde os pensamentos ruins brotam mais do que capim e com um peito onde os sonhos foram interrompidos “porque era preciso mostrar ao pitoco ou pitoca a realidade em que vivemos”.
Então, em poucas palavras, devemos fazer nossos filhos acreditarem que o mundo é bom porque queremos criar pessoas felizes.