Eu não sei se vocês se lembram, mas há alguns meses estive em Buenos Aires. E na ocasião tive a oportunidade de assistir a uma palestra incrível, de uma das mais renomadas psicólogas argentinas, Maritchu Seitún. Apesar da dificuldade inicial com a língua (confesso que não sou fluente em espanhol), tudo o que ela falava era tão interessante, que eu não despreguei meus olhos (e não desliguei meus ouvidos) por cerca de duas horas. Lembro perfeitamente que, logo no início, ela disse algo que me marcou: “até os 7 anos de seus filhos, vocês, pais e mães, terão uma boa parcela de responsabilidade sobre a formação de até 90% de sua personalidade”. Imaginem como fica o coração de uma mãe, diante dessa afirmação?
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Maritchu é uma grande defensora da criação com apego. E durante boa parte de sua apresentação, contou como é importante essa conexão entre pais e filhos, desde os primeiros instantes de vida. Uma criança que se sente amada, será muito mais segura de si quando se tornar um adulto. Isso passa pelo colo, pelo contato físico com o corpo da mãe, pela amamentação (e, para aquelas que não conseguiram amamentar, por que não colocar o filho sobre o próprio peito, para dar o complemento?). Enquanto escutava, sentia que estava no caminho certo, porque fui descobrindo tudo isso junto com Catarina, até me transformar na mãe que sou hoje (e que acredita piamente que o caminho do carinho, da atenção, do amor formam um filho mais forte).
Mas então aconteceu: sabe aquele sentimento de que você está “abafando”, até sentir uma bordoada na cabeça? Pois ela veio, quando a psicóloga começou a falar sobre alguns pontos em que, comumente, os pais erram na educação dos filhos. Sabe a mãe gritadeira, que fala uma vez, a segunda, e na terceira está berrando pela casa, para se fazer ouvir pelo filho? Ou a mãe que está sempre correndo, porque não consegue manejar seu próprio tempo – e com isso apressa a criança, que tem uma percepção temporal completamente diferente da de um adulto? Ou então a mãe (falo mãe, mas leia-se pai também, inclusive para o que já foi falado acima) que se pega interrompendo a brincadeira para responder a uma mensagem (nem tão importante) no WhatsApp? Pois é, confesso que por vezes assumo esses papéis, embora não me orgulhe deles. E nessa hora me senti minúscula, frágil, e uma mãe pior do que a minha filha merece.
Aparentemente, todos os pais e mães que estavam naquela sala sentiram o mesmo. Pensativos, haviam colocado uma enorme carga de culpa sobre seus ombros. Nesse instante, todos nós ouvimos algo que jamais esqueceremos: a história do pintinho. Maritchu nos perguntou o que acontecia com um pintinho, cuja casca fosse quebrada antes da hora. “Ele morre”, pensamos. Pois é isso, ela disse: “seus filhos são os pintinhos, e vocês são a casca, que os envolve. É batendo contra a casca, que esse bichinho se torna forte – e quando ele está pronto, é capaz de sair para o mundo. Vocês não precisam ser pais perfeitos – aliás, ser um pai perfeito é a forma mais fácil de criar um filho neurótico, incapaz de lidar com as imperfeições do mundo. Sejam apenas os melhores pais que puderem, pois dessa forma serão exatamente tudo aquilo que seu filho precisa”.
Que nossas imperfeições sejam uma boa casca, que torna nossos filhos mais fortes. E que eles saibam que sempre terão o conforto de nossas asas, nos momentos em que precisarem.