Seu filho já cansou das mesmas brincadeiras? Aqui em casa eu vivo esse desafio: Catarina não para um minuto, e haja criatividade para criar novas formas de entretê-la. Brincamos com bonecas, princesas, esconde-esconde, pega-pega, e minha impressão é que o dia não chegou nem na metade! Também já ensinei algumas formas de brincar da nossa infância (quem se lembra de corre-cotia, passa anel, gato mia? Escrevi um post com todas elas, se você não viu, vale a espiada!).
Mas se a ideia é ir ainda mais longe, que tal ensinar ao filhote algumas brincadeiras indígenas? Pois eu acho que essa é uma forma muito bacana de valorizar a nossa história, a nossa cultura, o nosso país. Ricos em aspectos como respeito à natureza, à família, arte e culinária, os índios ainda possuem riqueza no brincar. O arco e flecha e a peteca são dois dos principais brinquedos que utilizavam e que se popularizaram na cultura ocidental – mas existem muitas outras formas de divertir as crianças, praticadas pelas tribos em jogos (só entre os pequenos ou envolvendo também os adultos).

Como os índios vivem em comunidades, algumas dessas atividades precisam de um bom número de crianças para acontecer, e as de dois participantes são feitas sob os olhares curiosos dos outros pequenos, que se divertem assistindo, enquanto aguardam para ser a dupla da vez. Com isso, algumas dessas brincadeiras podem cair muito bem, por exemplo, em festas de aniversário, para animar a criançada e transportá-las para uma cultura que tem muito a nos ensinar! Conheça a seguir alguns desses jogos:
Toloi Kunhügü
Típica da tribo Kalapalo, habitante do sul do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, essa brincadeira costuma ser praticada à beira do rio, onde as crianças desenham uma árvore com vários galhos, e cada uma escolhe aquela que será o seu ninho, para fugir do gavião (é como se fosse um pega-pega, em que o pegador é o gavião e os demais são os passarinhos). Para a brincadeira começar, os passarinhos devem ir até um ponto comum, localizado à mesma distância de todos os ninhos, para bater os pés, chamando pelo gavião. O gavião se aproxima aos poucos dos pequenos, agachado e, quando chega bem perto, levanta em um pulo e sai correndo para tentar pegá-los. Os passarinhos podem se proteger em seus ninhos, mas, se forem pegos, são levados para o ninho do gavião, de onde não podem mais sair. O vencedor é o último passarinho restante que, como prêmio, vira o próximo gavião e o jogo recomeça! A brincadeira pode ser reproduzida na terra ou mesmo no chão, onde a árvore pode ser desenhada com giz.
Heiné Kuputisü
Também da tribo Kalapalo, essa brincadeira é bem simples e consiste em uma corrida com um pé só. É escolhida uma distância, em que é traçada uma linha, e o desafio é que os participantes cheguem até ela correndo como um saci (e não vale trocar de perna!). Aquele que aguentar ir ainda mais longe é o grande vencedor. Nessa brincadeira, o que vale não é a velocidade, mas a distância percorrida.
Briga de galo
Nesse jogo o objetivo também é permanecer em uma perna só, mas, ao contrário do anterior, os participantes devem ficar parados. Lembra-se da briga de galo na piscina, em que cada um sobe nos ombros de outra pessoa e tenta derrubar o adversário? Na versão indígena em terra firme (eles também brincam nos rios, como nós) são dois competidores e cada um deve se equilibrar sobre uma perna e deixar os braços cruzados no peito. O objetivo é tentar fazer o outro perder o equilíbrio, utilizando os ombros.
Outra variação da briga de galo comum entre os índios Manchineri, que vivem no Acre, é imitar mesmo um galo. Cada participante (são dois) deve ficar com o tronco inclinado até a linha da cintura e permanecer com as mãos dadas atrás das coxas. Deve ser feito um círculo na terra (ou no chão com um giz) e o objetivo é, usando o tronco, empurrar o adversário para fora do círculo. Apesar do nome do jogo ser “briga”, essa e outras lutas praticadas pelos índios desde pequenos não envolvem violência – o que vale, assim como nas artes marciais, é o treino da concentração e do pensamento rápido.
Adugo
Esse jogo, comum entre os Bororos (índios do Mato Grosso), também precisa de apenas dois competidores e lembra uma disputa de damas. O tabuleiro é desenhado no chão e as peças são pedras, sendo 14 pequenas (que serão os cachorros) e uma grande (que será a onça). Uma criança manipula os cachorros e a outra a onça. Quem estiver com os cães, deve se esforçar para deixar a pintada encurralada e, quem estiver com a fera, tem o objetivo de comer o maior número de cachorros, pulando pelo tabuleiro como no jogo de damas.
Derruba toco ou Luta do Maracá
Praticada pelos Pataxós, de Minas Gerais e da Bahia, e também pelos Tupinambás, que habitavam boa parte do litoral brasileiro, essa luta consiste em tentar derrubar um pedaço de toco (daí o nome) usando uma parte do corpo do adversário. É possível reproduzir em um tatame, por exemplo, para ninguém se machucar, e o objetivo pode ser virar uma garrafa pet (mas cheia de areia ou de algum outro conteúdo, para ficar mais difícil de derrubá-la), derrubando o oponente, para que ele cause a queda do objeto.
Marimbondo
Em muitas florestas, é comum o aparecimento de marimbondos, e eles acabaram servindo de inspiração para essa brincadeira, que costuma ser feita à beira do rio. As crianças são divididas em dois grupos, um que fica brincando entre si (geralmente são de meninas, que aproveitam para fazer beiju, a nossa tapioca), enquanto o outro usa terra ou areia para construir uma grande casa de marimbondos. Quando o primeiro grupo vê que a casa está quase pronta, deve sair correndo para tentar destruí-la. Já o segundo grupo deve impedi-los, “picando-os” como se fossem marimbondos.
Tobdaé
Essa é como a nossa queimada, mas se joga em duplas; e, ao invés de uma bola, usam-se petecas. Com algumas petecas para cada criança (podem ser umas três, ou usar a mesma várias vezes), uma deve atingir a outra, ao mesmo tempo em que tenta desviar dos lances do adversário. Quem for queimado, sai da brincadeira e outro pequeno entra no lugar. Esse jogo é comum em boa parte das tribos indígenas, como entre os Xavantes, do Mato Grosso.