Sabe aqueles dias em que tudo parece dar errado? Pois é, mãe também tem desses. Você levanta com o cano estourando na pia da cozinha, pisa (e estraçalha) aquele brinquedinho que seu filho adora, mas que insiste em deixar no meio da casa, pega um resfriado como há cinco anos não pegava, briga com sua melhor amiga, e seu carro para no meio da rua quando você está voltando para casa. No meio de tudo isso, o filho começa a chorar loucamente (porque é claro que ele sente que você está nervosa, incomodada, e não sabe como lidar com a mãe desse jeito – então, sua reação mais primitiva é desatar em lágrimas). E se você achava que ainda havia uma pequena parte de você senhora da situação, aí é que você tem certeza de que queria que um buraco se abrisse no chão, bem na sua frente, para você sumir do mapa e voltar três dias depois.

tudo errado

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Todo mundo tem dias como esse, é verdade. Mas quando é com a mãe, devo dizer que acaba sendo um dia de cão para toda a família. Porque no fundo somos nós, lá, equilibrando os pratos para que o resto da rotina corra bem. E quando a gente tropeça, vão todos os pratos para o chão de uma vez só! Você olha aquele estrago e se pergunta: por onde eu começo? O que pego primeiro? Normalmente você pensa primeiro no filho – se ele está bem, até que a coisa tem jeito. Depois vai pegando um a um, contando com a boa vontade de quem está ao redor (ainda bem que sempre aparece um anjo), até colocar tudo em ordem outra vez (nem sempre é rápido – pode demorar dias, semanas, meses ou até anos).

É claro que nessas horas você se cobra. Pensa em como pode ter se deixado tropeçar, se você é responsável por tanta coisa. Vem a culpa: por não ter dado conta, por ter feito as pessoas ao seu redor sofrerem também (mesmo quando é um pouquinho só). Afinal, você é mãe, caramba! É como se você não tivesse direito de errar, porque tem que tomar conta dos outros. Você pensa: por que eu não matei no peito e resolvi sozinha? Por que não fui forte o bastante?

A resposta é: porque você é humana. E erra, erra mesmo. E deixa a peteca cair, e chora escondido (ou na frente de todo mundo mesmo), e tem vontade de fugir, mas sabe que não pode. Aí quando você pensa em desistir, quando vem aquele sentimento de que não vai dar conta, você lembra de tudo que viveu até ali. Você pensa nas contrações que pareciam tirar todo o seu ar (mas mesmo assim você continuou respirando), você pensa em todas as noites que não dormiu (e de falta de sono você também não morreu), você pensa em todas aquelas suas vontades que tiveram que ser deixadas para trás quando você se tornou mãe (e esse ato de abdicar dói também, ou não dói? E você superou!).

E se você passou por tudo isso e continua aqui, não é um dia de cão que vai te derrubar. Você enxuga as lágrimas, e vai em frente. Porque, como minha mãe dizia, “vamos em frente, que atrás vem gente”. E essa gente, no caso, é pequena, e precisa que você esteja bem. E assim você estará, porque amanhã é outro dia.