Hoje eu estava pensando sobre esse tal do papel de pai, sobre o qual tanto falamos, e como ele tem mudado nos últimos anos. Na nossa geração, os pais trabalhavam o dia todo, jantavam conosco à mesa, eventualmente nos levavam para a escola, e a convivência diária não fugia muito disso. Pensando em nossos avós e bisavós, a coisa era ainda mais distante: as crianças mal se dirigiam à figura paterna, muitas vezes morriam de medo dela, e o pai só atuava na educação dos filhos na base da chinelada. Resumindo, os filhos ficavam quase 100% do tempo em família com a mãe – ao pai cabia a função de provedor, de trazer o dinheiro para a casa, e de autoridade máxima nas decisões que envolviam a todos.

ser pai

Imagem: 123RF

Só que nós sabemos que esse pai já não cabe na realidade da maioria das famílias. Hoje, não basta ao homem colocar comida na mesa – ele sabe que não é razoável deixar que a mãe amamente, troque as fraldas, dê banho e coloque o bebê para dormir, enquanto se joga na frente da televisão, esperando pelo jantar. Ele quer se envolver com a educação do filho, contar os aprendizados que ele considera importantes para a vida, mas sabe que isso tem um preço – o da convivência, do trabalho diário, de deixar de fazer muitas das coisas que fazia para ter tempo para esse novo modelo familiar (exatamente como as mães fazem desde que o mundo é mundo, certo?).

Mas esse homem tinha um pai que não fazia isso, e quando pequeno, ele nunca achou que um dia faria! Ele foi criado para ter um futuro profissional brilhante, para saber jogar futebol, vôlei, tênis, e mais mil e uma modalidades esportivas. Ele é aquele menino que nunca brincou de boneca (“para que, se não vai ter que cuidar de filho? Melhor brincar de carrinho, de bola, de luta) e que se descobriu no meio de um mundo de fraldas, leite, e choros de bebê – sem ter a menor ideia de como lidar com a situação (se ser mãe não é natural para muitas mulheres, apesar de carregar o bebê nove meses na barriga, já imaginou para o pai?). Ele se sente atraído pela possibilidade de ter o mesmo vínculo que a mãe desenvolve, de vivenciar aquele amor maior do que tudo (ou você acha que ele não percebe que isso é bom pra caramba?) – mas sente conflito entre o que sempre disseram que ele deveria fazer (resumindo: “ser macho”) e o que o mundo pede hoje dele. E fazer essa escolha, definitivamente não é fácil!

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Por isso eu tiro o meu chapéu para aquele pai que põe o filho para arrotar para que a mãe tenha míseros vinte minutos para descansar ou tomar um banho decente; que pega o termômetro para medir a febre do filho no meio da noite; que levanta no frio para cobrir o pequeno; que dá a papinha, o banho e escova os dentes; que desliga o telejornal para contar uma história; que acalma a mãe quando ela que está dando tudo errado; que deixa o filho ver suas lágrimas quando se emociona; que vira um leão para defender a cria quando vê uma injustiça; que ensina que na vida é preciso se dedicar para fazer um bom trabalho; que está sempre junto para levantar o filho quando ele cai; que sabe demonstrar amor sem achar que isso é fraqueza. E tiro o chapéu não porque ele faz coisas que as pessoas por aí dizem ser nada mais do que sua obrigação. Mas porque ele se despiu dos preconceitos e abriu mão da comodidade de ser um pai do século XX, para se tornar um pai do século XXI – que coloca a mão na massa, porque reconhece que é tão importante para a criação do filho quanto a mãe.