Eu já ouvi muitas pessoas dizerem: “maternidade é como vídeo-game: ao passar de fase, você encontra uma mais difícil!”. Quando você tem um bebê de um mês que mama a cada duas horas, quando você passa o dia todo amamentando e o bico do peito chega a sangrar, parece impossível que algo seja mais difícil do que isso. Eu sei, eu também pensava assim. E, para falar a verdade, considerando o desgaste físico, provavelmente nada se compare aos primeiros dias do pós-parto. Então os filhos crescem, e você descobre que a dificuldade das próximas etapas é muito diferente. Ela não te exige tanto fisicamente – mas psicologicamente você será testada o tempo inteiro.
Pois aqui em casa, começamos a passar por um dilema muito interessante: até que ponto acolher a pequena em suas dificuldades? Para mim, estabelecer o limite é extremamente difícil, porque sou o tipo de mãe leoa, cujo instinto primordial é defender a cria, abraçá-la, beijá-la, cheirá-la (sim, eu confesso: eu cheiro minha filha para senti-la bem pertinho!). Se eu não parar para pensar, coloco Catarina debaixo da asa, para tentar evitar qualquer sofrimento desse mundo. Mas aí eu penso… E percebo que, dependendo da situação, essa atitude é o que justamente provocaria um problema futuro, por impedir que ela aprenda a lidar sozinha com as questões que a incomodam. Ai, ai, como é complicado!
Hoje foi dia de ballet – atividade na qual Catarina nunca me deu um pingo de trabalho. Mas sua professora acabou de ter um bebê, e está sendo substituída por outra (que já está com a turma há alguns dias). No meio da aula, eis que surge a pequena, aos prantos, dizendo que não queria mais voltar para a sala. Nem hoje, nem nunca mais! Peguei-a no colo, abracei, e ouvi da própria professora que o todo o problema havia começado quando a pequena se recusou a executar uma das atividades propostas. E considerando o que eu havia ouvido do lado de fora da sala, era exatamente o que tinha acontecido.
Eu tinha basicamente duas opções: levar Catarina embora ou tentar fazer com que voltasse para a aula (tarefa que eu sabia, seria quase impossível). Eu poderia compreender que ela estava cansada (e realmente estava, porque havia dormido menos do que de costume), que passava pela fase de adaptação à nova professora, e poderia tê-la deixado ali, no colo, por quanto tempo ela quisesse. Ou poderia acolher, mas ser firme – mostrando que na vida ela terá que fazer também o que não gosta.
Dessa vez, eu escolhi a segunda opção. E depois de algum tempo de papo, consegui que Catarina voltasse à aula e dela participasse, até o final. Eu me lembrei das incontáveis vezes que minha mãe teve a mesma atitude, não me deixando desistir de algo na metade. E de como isso me fez mais forte, responsável e determinada.