Seu filho não para quieto. Não consegue se concentrar por muito tempo em atividade alguma, se distrai com qualquer coisa, fica horas no sofrimento até terminar a lição de casa e dá o maior trabalho na escola.
Se esse quadro tem se repetido com frequência e seu filho está começando a sentir as consequências no cotidiano, pode ser que ele faça parte da parcela de 3 a 5% das crianças brasileiras que recebem o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o TDAH.
crianças na escola. Foto: freepik
Também chamado de DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção), o transtorno é reconhecido oficialmente pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma desordem neurobiológica de causas genéticas.
Antes de sofrer pensando que seu filho é portador do problema, acho importante que você se informe sobre o assunto. E que perceba que o TDAH é visto de maneiras diferentes ao redor do mundo.
Como comentei nesse post, enquanto cerca de 9% das crianças norte-americanas são diagnosticadas com o transtorno, apenas 0,5% das francesas são classificadas dessa forma.
Isso acontece porque, na França, os profissionais procuram atuar nas causas do comportamento das crianças tidas como desatentas e hiperativas (será que estão tendo algum problema familiar? Estão recebendo o apoio da família?
criança na escola – Foto: Freepik
Tem elementos para estudar e trabalhar de forma organizada? Recebem estímulos de acordo com seus interesses?), enquanto nos EUA parte-se com maior frequência para o tratamento medicamentoso.
Eu acredito que também aqui no Brasil muitas crianças estão recebendo medicamentos sem necessidade, mas é inegável que, em alguns casos (naqueles em que de fato a criança apresenta o TDAH), eles auxiliam o indivíduo na retomada de uma vida saudável. A seguir, informações importantes sobre o assunto:
O que causa o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, afinal?
criança na escola – Foto: Freepik
Como dito anteriormente, o TDAH é um transtorno neurobiológico, ou seja, afeta células do sistema nervoso.
Estudos mostram que os portadores apresentam algumas alterações na parte frontal do cérebro e nas conexões entre esta área específica e as demais.
Acontece que a parte frontal do cérebro é a responsável pelo comportamento humano. É ela que regula o nível de inibição, o autocontrole, a capacidade de concentração, a memória e a capacidade de organização.
Nas crianças com TDAH, é como se o cérebro desacelerasse quando recebe alguns estímulos. Ou seja, ao invés de reagir positivamente, aumentando a velocidade, ele fica mais lento.
Criança estressada – Foto: Freepik
As principais causas do transtorno são genéticas: a criança recebe dos pais uma propensão a desenvolver o TDAH.
No entanto, estudos apontam que substâncias ingeridas durante a gravidez como álcool e nicotina também podem afetar algumas áreas do cérebro, aumentando as chances de desenvolver o transtorno.
Quais são os sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade?
Há dois principais. De um lado, a desatenção; do outro, a hiperatividade e a impulsividade. Justamente por isso, o TDAH apresenta três perfis diferentes. O primeiro é o da criança mais distraída, avoada, com a “cabeça na lua”, como os mais velhos costumam dizer.
Menina com fones de ouvido azuis, sorrindo em frente ao tablet. Foto: Freepik
Ela não vai bem nas provas porque não tem paciência de ler direito os enunciados das questões, nunca termina o que começa, fica totalmente desconcentrada em atividades que não lhe pareçam atraentes. Nesses caso é importante distinguir essa criança daquela que simplesmente não se adaptou a um determinado método educacional.
O segundo é o da criança impulsiva: aquela que não fica sentada, que fala sem parar, que corre de um lado para o outro e que se arrisca mais do que o normal (por isso, não raro, vive machucada). O terceiro tipo é uma combinação entre os dois perfis.
Quando o TDAH começa a se manifestar?
Os primeiros sinais do transtorno aparecem durante a infância. 85% dos afetados seguem com os sintomas durante a adolescência e grande parte continua com eles até na vida adulta.
Como saber se meu filho tem TDAH?
menino brincando na escola. Foto: freepik
O que diferencia uma criança com TDAH e outra que é simplesmente muito agitada ou muito desligada é a intensidade dos sintomas.
Ou seja, na criança com TDAH, a impulsividade, a desatenção e a hiperatividade começam a prejudicar o dia-a-dia – vide as notas da escola ou o relacionamento com os coleguinhas.
No primeiro perfil do transtorno, o da criança mais desligada, o diagnóstico é mais difícil, já que ela costuma ser vista como sonhadora ou avoada e acaba passando despercebida.
Mais complicado ainda é que não existe um exame laboratorial que acuse TDAH nos resultados: o diagnóstico é uma questão de avaliação clínica – por isso, o diagnóstico nem sempre acerta.
Outro fator complicador é que, na maioria dos casos, o TDAH não aparece sozinho: outros transtornos, tais como a bipolaridade, costumam acompanhá-lo.
Como os sintomas são concomitantes, fica difícil separar qual pertence a cada transtorno para dar um veredito no diagnóstico. Se você acha que seu filho pode ter TDAH, consulte o site da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), que traz uma lista de profissionais especializados.
Qual é o tratamento?
A assistência a crianças com TDAH deve ser conduzida simultaneamente em diversas frentes: com médicos, pais e professores.
Assim, recomenda-se altamente o acompanhamento terapêutico também; o mais adequado para o TDAH é chamado de Terapia Cognitivo Comportamental, que no Brasil é função exclusiva dos psicólogos.
Na escola, portanto, é essencial que os professores tenham algum conhecimento para lidar com crianças que possuem o transtorno, ajudando-as a desenvolverem técnicas que aumentem sua concentração e paciência.
É necessário utilizar medicamentos?
Na maioria dos casos (diagnosticados acertadamente), sim. Por isso, é fundamental procurar uma opinião médica em que você confie (se não ficar satisfeita com apenas uma, ouça um segundo profissional).
Quais podem ser as consequências do TDAH para a criança?
mãe conversando com o filho. Foto: freepik
A mais evidente, em um primeiro momento, é a queda do rendimento escolar. Assim, a médio prazo, a criança acaba perdendo a confiança em si mesma e desacreditando de sua capacidade de aprender. Com frequência, muitas delas se acham “burras” e ficam desmotivadas a continuarem os estudos.
Além disso, não é apenas a dificuldade em prestar atenção na aula que provoca esses sentimentos: as crianças com TDAH não têm muita paciência, apresentam dificuldades para se organizar ou cumprir prazos e frequentemente perdem objetos importantes, como as chaves de casa e o celular.
Os relacionamentos interpessoais também ficam prejudicados pela falta de autoestima dos portadores do transtorno, o que costuma ser mais perceptível na fase adulta. Além disso, pesquisas mostram que pessoas com TDAH têm maior propensão a se envolverem com álcool e drogas.