Hoje fiquei algumas horas longe de Catarina. E se por um lado a saudade batia forte, por outro eu estava feliz com a possibilidade de jantar calmamente com meu marido. Enquanto ele se servia, fiquei alguns instantes sozinha, olhando tranquilamente para a pizza que estava à minha frente. Puxa, que sensação boa de poder esperar para comê-la, simplesmente em silêncio.
Comecei a voltar no tempo, procurando as últimas vezes em que tinha ficado assim, só, sem correria. Porque nos momentos em que Catarina fica na escola, estou sempre correndo, procurando fazer tudo o mais rápido possível. “Tem que dar tempo de ir ao supermercado; tem que dar tempo de colocar gasolina no carro; tem que dar tempo de responder aos e-mails”. E se a pequena está apenas em casa e eu saio sem ela, é ainda pior, porque, querendo ou não, sinto que é meu dever voltar para lhe dar atenção, para brincar, para estar presente em sua vida. Pois é, fazia muito tempo que não tinha a sensação de que meu retorno não era urgente.
Quando voltamos para casa, ainda sem ela, percebi o quanto ela estava presente em meus pensamentos. A cada barulho que ouvia, demorava alguns segundos até perceber que não eram feitos por ela, e que por isso eu não precisaria me preocupar se estava fazendo algo perigoso. Se pegava algo para comer (que também é apreciado por ela), pensava em lhe deixar um pedaço. Engraçado não ter que mudar o canal de TV para que a pequena não visse um programa que não fosse apropriado para sua idade; ou não precisar tomar banho em cinco minutos (ninguém para me interromper, como assim?).
Então foi inevitável pensar em como será daqui a poucos anos (vinte, vinte e cinco, no máximo?). Todas as tarefas relacionadas à minha filha, que hoje ocupam a maior parte do dia, simplesmente não farão parte da minha vida. O que fazer com tanto tempo disponível? O que fazer para me sentir útil, sabendo que ela não precisaria mais de mim nos mesmos moldes? Confesso ter sentido uma grande tristeza, apenas antecipando a síndrome de ninho vazio.
Outro dia uma amiga disse algo que faz total sentido: “pena que a maternidade nos exige tanto em um período tão pequeno. Seria muito melhor se pudéssemos dividir o trabalho dos primeiros anos (tão intensos!), de forma que esses fossem menos desgastantes; e prolongar o tempo que temos para abraçar, beijar, pegar no colo, proteger”. Infelizmente não é possível. Um dia, estamos com olheiras profundas, pedindo (pelo amor de Deus!) para que algo nos tire daquela rotina exaustiva. E em um piscar de olhos, ficaremos torcendo por um telefonema, ou para que apareçam no fim de semana para almoçar.