Querida filha,

Vendo sua carinha de anjo deitada em sua cama, tive vontade de lhe falar sobre a maternidade. Um dia, quando você crescer, você fatalmente se perguntará se de fato vale a pena ter um filho. Você achará sua vida muito boa, seus amigos as melhores companhias do mundo, e sua liberdade sem preço. Se você encontrar um homem de valor, com quem desejará compartilhar sua caminhada, é provável que sejam tão felizes juntos, que se questionará se lhes falta mesmo uma criança. É para esse momento, minha pequena, que escrevo essas palavras.

Ah, filha, ser mãe talvez seja a coisa mais difícil que você fará em sua vida. Talvez, não, com certeza! E o mais difícil sobre ser mãe não são as noites mal dormidas, a comida fria que te resta depois de alimentar a cria, nem as crises de birra que te deixarão a ponto de explodir. A parte complicada, querida, é colocar outra pessoa, que não você, em primeiro lugar em suas decisões, sempre! Não é uma, não são duas, nem três vezes; o desafio acontece quando, para o resto da sua vida, você resolver que não é a sua felicidade a que importa, é a do ser que habitará seu corpo por nove meses, e que nem por um segundo deixará de morar em seu coração.

Desde que você nasceu, minha vida mudou radicalmente. Eu, que dormia como uma pedra, hoje acordo ao menor ruído de sua respiração, ou quando você balbucia meu nome durante o sono. Eu, que me achava extremamente paciente, por vezes me pego irritadíssima ao ter que repetir pela centésima vez a mesma explicação (sem sucesso!). Eu, que me achava senhora de mim, em muitos momentos me sinto sem rumo, e acabo deixando as lágrimas rolarem no chuveiro, o único lugar da casa que ainda continua sendo apenas meu. Porque o resto do banheiro já é seu, e ai de mim se tentar trancar a porta, porque você é capaz de derrubá-la, de tanto bater do lado de fora!

Filha, quando você chegou em minha vida, eu não estava preparada para tanta coisa! Eu não estava preparada para ter que limpar suas roupas, as minhas, e os lençóis do berço todas as vezes em que sua fralda vazava; eu não estava preparada para cheirar a leite por meses; eu não estava preparada para o choro enlouquecedor (e para o sentimento visceral de ser capaz de fazer coisa para vê-la se acalmar). Eu não estava pronta, principalmente, para o sentimento de impotência  – a cada febre que você tinha, a cada fato que te magoava e que fazia seus lindos olhos marejarem.

Mas, querida, tenho que dizer a você que, mesmo que eu soubesse de todas as dificuldades que me esperariam pela frente no papel de mãe, eu não deveria ter desistido. Do contrário, não teria conhecido seu cheiro, que era só seu e de nenhum outro bebê, e que eu poderia reconhecer a metros de distância. Eu não teria conhecido seu sorriso, que ilumina até os dias mais tristes. Eu não teria conhecido seus olhos, nos quais eu descobri o significado da pureza. Eu não teria conhecido suas mãos e a força que delas emana, desde a primeira vez que as toquei.

O mais impressionante foi perceber que aquele amor que eu considerava o maior do mundo, poderia crescer a cada dia. Que eu te admiraria com maior intensidade a cada desafio vencido (os primeiros passos, as primeiras palavras, o primeiro desenho) e nos momentos em que você foi capaz de compreender minhas falhas. Que a cada abraço, o laço que nos une se torna mais atado – e diferente do cordão que nos unia, esse não poderá ser cortado.

Quando você estava para nascer, eu dizia que o que eu mais queria como mãe era lhe mostrar um mundo inteiro; quando, na verdade, foi você quem me mostrou novos caminhos. E nas dificuldades que passamos juntas eu descobri que eu poderia ser uma pessoa infinitamente melhor do que eu era. E ter ao meu lado, a melhor companheira de todas.

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