Há alguns dias eu conheci a história da Ariane, uma mãe como qualquer outra, que passou por uma experiência difícil e ao mesmo tempo belíssima – a de ser mãe de um bebê prematuro. Seu pequeno Bernardo veio ao mundo com apenas 26 semanas e pesando menos de 1 Kg – algo que seria impossível algumas décadas atrás. Difícil saber quem foi mais forte: ela, que viu seu filho sendo cuidado por semanas em uma UTI, sem poder levá-lo para casa; ou ele, que nasceu com uma vontade de viver maior do que tudo.
Ariane aceitou meu convite para contar um pouco sobre a rotina de uma mãe de UTI. Assim, compartilho com vocês a seguir suas palavras de fibra e de amor. E no seu blog Sem Intercorrências, ela conta mais sobre sua experiência, para que outras mães que passam por situações semelhantes sintam esperança e recebam mais informações sobre a vida dos prematuros.
Por Ariane Deziderá Mello
Ser mãe de um prematuro nunca passou pela minha cabeça, sempre imaginei que esse problema estivesse muito distante da minha realidade. Ficava muito ofendida, inclusive, quando alguém me falava que eu deveria diminuir meu ritmo de trabalho e de vida. Sempre fui acelerada, afinal de contas, gravidez não é doença!
Acontece que com 26 semanas de gestação meu pequenino veio ao mundo, pesando 830g, medindo 32cm e com uma vontade enorme de viver! Meu ritmo de vida não foi o causador do parto, e sim uma doença conhecida como “incompetência no colo do útero”, que faz com que o peso do bebê provoque a dilatação total e, consequentemente, o parto prematuro.
Estar com o bebê numa UTI não é fácil por uma infinidade de motivos, além do mais importante, que é não poder ter seu bebê em seus braços e levá-lo pra casa como programado. A sensação de vazio ao sair do hospital é algo que não se explica. Você sai, e deixa seu bebê aos cuidados de estranhos. Estranhos que em muito pouco tempo você considerará parte da sua família, e aos quais será grata para o resto de sua vida! Lógico que não são todos – sempre tem aquela médica ou enfermeira de quem você não gosta (e quando é a vez do plantão delas, você conta os minutos para que chegue ao fim!).
Com o tempo, a rotina se estabelece: visita das 9h, tira leite, visita das 14h, tira leite, conversa com pediatra, visita das 21h, tira leite. E lá está você, prontamente aguardando para entrar. Eu, que nunca fui pontual para nada, passei a ser adiantada, sempre de 5 a 10 minutos, para não correr o risco de perder aqueles 30 minutos do mais puro amor! Fizesse chuva ou sol!
Nem sempre foi fácil, confesso. A intenção era levar energias positivas, mas em dias de notícias ruins, era difícil segurar o choro e manter o bom astral na frente daquele serzinho tão frágil. Entretanto, sempre que possível, éramos os pais mais animados da UTI. Piadas e brincadeiras eram as coisas mais constantes no box 6; choro e tristeza, só da porta pra fora e por poucos minutos, para desafogar os sentimentos e chutar a bola para a frente de novo.
E as conversas na fila dos pais e das visitas? Pergunta mais comum feita por quem chegava: “há quantos dias vocês estão aqui?”. A resposta era o suficiente para gerar uma expressão de pena em todos que ainda não conheciam aquela história. Eu também fiz essa pergunta no início, não vou mentir, e devo ter feito essa mesma cara. Com o tempo percebi o quanto aquelas conversas, com pessoas que já tinham passado ou ainda passariam pelo mesmo que você, eram acalentadoras. Torcer pela melhora, chorar pela derrota e vibrar com as conquistas de todos era bom demais, e ainda é! Mais uma parte da família que se cria numa UTI!
Depois de 86 dias, 45 no tubo de oxigênio, 15 no CPAP, 5 na caixinha, 3 no cateter, cirurgia a laser nos dois olhinhos para corrigir a retinopatia da prematuridade, hemorragia cerebral grau III, 5 transfusões de sangue, PCA no coração fechado (sim, tudo isso!), com 1960g, 42cm e a mesma vontade de viver, finalmente meu filho saiu da UTI! Fomos para o quarto e aí, sim, descobrimos a rotina de novos pais, só que de um bebê de 3 meses, ainda com tamanho de prematuro! Depois de aprender a dar banho, trocar fraldas e curtir os primeiros dias sem sair do colo, era hora de ir para casa.
E quem disse que você fecha os olhos quando chega lá? Ah, não! Nossa rotina durante os primeiros dias era assim: vovó, mamãe e papai fazendo revezamento ao lado do berço a madrugada inteira! E se ele parar de respirar? E se engasgar? E se insaturar? E se? E se? São muitas as dúvidas e os medos, mas eles passam, tanto que quinze dias depois já vivíamos uma vida normal – ainda sem visitas, com várias restrições, mas éramos mãe e pai de um bebê saudável!
E agora, com nove meses? Bom, ele ainda é pequenino. Mas quando nos perguntam quantos foram os dias de UTI, qual a sua idade, deixamos de ver os olhares de pena e passamos a receber outros, de admiração.  Foram 86 longos dias de UTI e nenhuma sequela até o momento. Não foi fácil, mas nós vencemos!
ariane

Essa é a Ariane, com seu lindo Bernardo