Dia desses estava conversando com algumas amigas que também são mães, quando surgiu o assunto: o ritmo de vida louco que enfrentamos nas grandes cidades. Vivendo em São Paulo, são poucas as pessoas que conheço que têm o privilégio de almoçar em casa, ou mesmo de trabalhar meio período para ficar o restante do dia com os filhos. O normal é ser uma mãe que sai pela manhã, enfrenta uma hora de trânsito para chegar ao trabalho, almoça por lá, trabalha mais algumas horas, até pegar o carro e fazer o trajeto para casa (idem para os pais).
Mesmo quando se tem uma certa flexibilidade de ir e vir do emprego, há o corre-corre de levar os pequenos para a natação, o balé, a aula de inglês, só para citar algumas atividades. Vivemos ligadíssimas, com a agenda cheia, assim como nossos filhos. Lembro-me da minha infância, em que aulas extra-curriculares eram raras (um esporte e uma língua estrangeira, na maioria das famílias com que convivia), e assim mesmo para crianças mais velhas. Pensar em colocar uma criança de 4 anos em três ou quatro aulas fora do horário escolar? Claro que não! Ficávamos apenas brincando dentro de casa, em geral com nossos irmãos ou amigos mais próximos.
Hoje é tudo muito diferente. Queremos dar aos nossos filhos uma educação exemplar, e fazer o que estiver em nosso alcance para que tenham as melhores chances profissionais no futuro. Como alguns estudos mostraram que o aprendizado de línguas é facilitado até certa idade, colocamos os pequenos cada vez mais cedo para estudá-las. E fazemos da mesma forma para as aulas esportivas, para a música e artes em geral… Quando percebemos, as crianças estão com rotinas apertadas, e quase não sobra tempo para algo que tínhamos de sobra: o ócio. Resultado: filhos com um carga de conhecimento grande, numa tenra idade. E muitas vezes estressados e sobrecarregados.
Uma corrente em ascensão na Europa e nos EUA, o”Slow Parenting“, está propondo um retorno a uma vida mais tranquila, para pais e filhos. Mais próxima da natureza, com menos dispositivos tecnológicos, e mais tempo para o brincar (principalmente até os cinco anos). Mais oportunidade para não se fazer nada. Porque nesses momentos as crianças aprenderiam a lidar com si mesmas, com a sensação de solidão, e teriam tempo para desenvolver a criatividade (sim, porque para ela aflorar é preciso um espaço na agenda!). Seus defensores acreditam que é apenas a partir dos seis anos que a criança está preparada para suportar uma carga maior de informações; até lá, o melhor mesmo seria que ela brincasse livremente.
Confesso a vocês que a ideia me agrada, com algumas adaptações para meu estilo de vida. Hoje não consigo pensar para minha filha Catarina uma rotina como a que tive. A começar pelo óbvio: ela não tem irmãos. Por isso, ficar em casa significa ter a companhia da mãe (que adora estar com ela, mas que também trabalha e tem seus afazeres), de uma babá ou da televisão. Felizmente moro em um condomínio onde os vizinhos brincam juntos (sendo essa uma ótima opção para as horas em que fica em casa), mas poderia não ser assim. E como ouvi outro dia de uma amiga: prefiro que meu filho esteja nas aulas extra-curriculares do que na frente TV. Nunca tinha pensado no argumento (e não o desprezo).
Chegamos em casa a um ponto que considero equilibrado, entre o tempo que Catarina passa comigo, brincando com outras crianças e na escola. Para esse ano, pretendo colocá-la na natação, até por uma questão de segurança (e também porque acho mais fácil perder o medo de água quando são pequenos). E talvez eu mesma comece a tirar duas horinhas semanais para brincar com ela em inglês. Ou seja, acredito que possamos viver uma vida mais calma e sem atropelos, sem pensar em nossos filhos como mini-executivos sendo preparados desde o nascimento para o mercado de trabalho; mas sem ignorar que alguns conhecimentos de fato são mais facilmente incorporados quando ainda são novinhos. Sobre o uso das tecnologias, apoio o uso consciente e acompanhado, ao invés da proibição; até porque esse é o mundo em que vivemos, e acredito que nossas crianças devam estar preparadas para lidar com ele.
E você, em que acredita? É adepta do Slow Parenting? Acha tudo uma grande balela? Deixe seu comentário!
Se quiser ler mais sobre o assunto, recomendo o artigo da Folha de São Paulo e o post do blog Mãe Bacana.