Quando eu nasci, minha avó materna abriu uma caderneta de poupança para mim, assim como fez para cada um dos cinco netos. A cada aniversário, ao invés de me dar um presente em mãos, ela fazia um depósito nessa conta, e dizia que um dia eu poderia comprar algo muito legal com o dinheiro que estava sendo guardado ali. Ano após ano, o dinheirinho ia crescendo, aos poucos. Meus pais também faziam pequenos aportes, até que com 15 anos eu usei o saldo da conta para pagar uma viagem para a Disney World.

Então quando Catarina nasceu, minha avó apareceu com um envelope e uma instrução bem definida: aplicar o dinheiro que estava em seu interior, para que ela pudesse usá-lo quando crescer. Por isso, o futuro financeiro da pequena sempre foi objeto da nossa atenção. Agora, com dois anos de idade, ela já começou a entender alguns conceitos: que cada coisa tem um valor monetário diferente, que para levarmos algo do supermercado temos que pagar, que para almoçarmos em um restaurante, idem. E como essas conversas começaram a ser frequentes aqui em casa, eu me dei conta de que estava na hora de aprender um pouco mais sobre educação financeira para crianças.

Como essa é uma questão que não tem nada a ver com a minha formação, eu resolvi conversar com um dos maiores especialistas em educação financeira do país, e contar tudo para vocês! Já sabem de quem estou falando? Gustavo Cerbasi é o autor dos livros de auto-ajuda financeira mais vendidos do país e foi eleito o Melhor Educador Financeiro do Brasil em 2012 pela Arata Academy. Além disso, é colunista da revista Época e da Rádio Globo, e participa do quadro Cuide do seu Bolso, no programa Hoje em Dia da Rede Record. E apesar da sua agenda cheia, ele foi super atencioso com o blog!

Segue então a nossa entrevista, e que ela seja ponto de partida para aprendermos e discutirmos muito sobre o assunto aqui no Mil Dicas de Mãe!

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Gustavo Cerbasi

Entrevista com Gustavo Cerbasi

A partir de que idade já é possível conversar com as crianças sobre dinheiro? Como as noções de educação financeira podem ser incluídas no dia-a-dia dos nossos filhos?

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A conversa sobre dinheiro deve acontecer desde sempre. Na verdade, uma mãe que, com a criança no ventre, é disciplinada com o horário para comer, dormir, tomar banho e acordar já está ensinando muito sobre disciplina, um elemento fundamental no trato com o dinheiro. O tema dinheiro, em si, já pode ser tratado com a criança desde os dois anos de idade, quando seu nível de curiosidade e descoberta do mundo está aguçadíssimo e seus pais já podem explicar que, por exemplo, o motivo de sua ausência é o trabalho, que resulta em dinheiro para compras as coisas que precisamos para viver. Nas situações de compra, a criança deve ser convidada a se envolver, entregando o dinheiro para o vendedor e recebendo em troca o comprovante ou o troco. Isso faz com que sua relação com o dinheiro seja natural. Do contrário, dinheiro seria visto como coisa de adulto, coisa proibida, e ao longo de seu desenvolvimento a criança corre o risco de desenvolver uma perigosa relação apaixonada por ele.

 

Qual a sua opinião sobre mesada?

A mesada não tem valor algum quando concedida como um direito da criança, com total liberdade de decisão. Mesada é útil quando concedida como parte de uma proposta de educação financeira, com total interação entre os pais e a criança. Deve ser concedida juntamente com a discussão de um orçamento, criado juntamente por pais e filhos, estabelecendo como será gasto cada centavo. A cada novo recebimento, deve haver uma prestação de contas. A criança tem que entender que mesada não lhe dá o direito de administrar seu dinheiro como bem entender. Mesada lhe dá é o direito de administrar uma pequena parte do orçamento da família, aquela parte que corresponde a seus gastos individuais, desde que ela demonstre conseguir administrar essa sua parte. É uma troca colaborativa entre pais e filhos.

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De quais decisões financeiras familiares os filhos devem participar?

Na medida em que crescem, os filhos devem ser gradualmente convidados a participar de escolhas cada vez mais complexas. Até os cinco anos, não dá para envolvê-los em decisões porque não existe o conhecimento matemático suficiente. A partir dos seis anos, a criança pode ser convidada a colaborar nas escolhas sobre orçamentos parciais. Por exemplo, se a família disponibiliza uma verba de R$ 100 para passar o fim de semana, a criança pode opinar sobre o destino a dar a esse dinheiro. Demonstrando maturidade, o próximo passo é discutir junto com os pequenos o orçamento das próximas férias ou da noite de Natal. Na adolescência, já há maturidade para que pais definam uma verba disponível aos filhos e que esses opinem sobre quanto será gasto com roupas, lazer e atividades culturais, por exemplo.

 

Logo que os filhos nascem, alguns pais optam por abrir uma poupança para gastos futuros ou já iniciam um plano de previdência privada. O que você acha sobre isso?

Essa deveria ser a primeira das decisões tomadas por pais sobre o futuro dos filhos. Hoje, a falta de um diploma de ensino superior praticamente elimina as possibilidade de um jovem se empregar. Considero a poupança para a faculdade mais importante até do que o custeio de uma escola privada na infância. Caso os filhos tenham que estudar em escolas públicas, poderão custear uma faculdade privada com a poupança formada. Se o gasto com escolas privadas inviabilizar a poupança e o jovem não for bem sucedido em vestibulares de faculdades públicas, pode ter seu ensino superior inviabilizado. Hoje, mesmo contando com facilidades como o Financiamento Estudantil (FIES), contar com uma boa reserva significa garantir tranquilidade na formação profissional. E o ideal é que, se a família não tiver outras poupanças formadas, essa reserva seja feita através de um plano de previdência específico para a educação, que conta com um seguro que garante o valor da faculdade mesmo em caso de morte ou invalidez de quem contribui.

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Em seu livro Pais Inteligentes Enriquecem seus Filhos, que tipo de dica você dá aos pais que desejam um futuro financeiro tranquilo para os filhos?

Recomendo dedicação dos pais carinhosa, divertida e cotidiana ao ensino sobre dinheiro para as crianças. O ideal é envolver as crianças com a rotina financeira, permitir que elas manipulem dinheiro mesmo que em brincadeiras, e que todo sacrifício feito em família seja feito com propósito bem definido e com uma evidente celebração ao final. A mensagem essencial do livro é convidar os pais para que eduquem seus filhos para construir riqueza, pois, se isso não for feito, não restará outro caminho aos filhos a não ser depender da riqueza dos pais por muitos anos, e depois sofrer para ajudar a manter a vida dos mais velhos, sem poder aproveitar ao máximo a própria vida. Com a devida educação, enriquecer é questão de escolha pessoal.