Durante a minha infância e adolescência, eu fui uma pessoa quieta. Enquanto as outras meninas da minha idade pediam Barbies, e um pouco mais tarde, roupas e sapatos da moda, eu pedia livros no meu aniversário. O que minha mãe achava ótimo por um lado (afinal, a valorização da cultura sempre esteve presente em minha casa), e nem tanto por outro (porque ela dizia que meus presentes não duravam mais de dois dias – que era o tempo que eu levava para devorar um exemplar – por isso acabava me dando dois ou três).

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Com minhas irmãs, também me lembro de ficar alguns dias alheia às brincadeiras. Elas, mais novas, muitas vezes brincavam entre si, enquanto eu ficava no meu mundinho. Na escola, eu tinha poucos e bons amigos (no melhor estilo nerd, por assim dizer!). Por isso, nunca achei que solidão seria um problema para mim (eu já não gostava da sensação de ficar comigo mesma?).

Até que Catarina nasceu e eu vi como pode ser difícil ficar sozinha. Foi um sentimento para o qual eu não estava preparada, e talvez mais difícil de lidar do que a dor das primeiras semanas de amamentação, ou as noites passadas em claro. Porque naquele momento não era só o fato de estar em casa sem companhia, cuidando com um bebê que não falava (muito pelo contrário, só chorava!). Era também ter a responsabilidade de decidir sobre as coisas de minha filha por mim mesma. “Ah, ela está com uma febrinha – ligo para o pediatra à noite ou espero até amanhã de manhã? / Está com cólica – será que dou um banho para ver se acalma, tento ninar até dormir ou coloco no peito? / Mamou só cinco minutos – será que tenho que insistir ou está satisfeita?”. Parecem perguntas bobas, mas para quem é mãe de primeira viagem a insegurança bate feio. E aí vocês me questionam: por que não falar com o marido, com a mãe, com a sogra, com uma amiga? Às vezes claro que eu falava. Mas a verdade é que nem sempre você quer compartilhar esse sentimento. Porque é como se você admitisse que não está no controle, que não sabe tudo sobre seu bebê. Admitisse para os outros, mas principalmente para você mesma.

Agora some a esse sentimento o fato de que o bebê não pode sair de casa por alguns dias (e se você sair, sabe que vai chegar até a padaria e estará na hora de amamentar de novo), a queda hormonal natural que ocorre no pós-parto, o efeito do sono acumulado no seu organismo. Se desse para sair correndo nessa hora, eu apostaria que não sobrava quase nenhuma mãe para contar história. Mas ao olhar para aquele bebezinho frágil, que depende de você para tudo, que depende das suas decisões para continuar saudável, você tira forças do fundo, mas bem do fundo mesmo, daquele lugar que você não sabia que existia dentro de você. Você se descobre forte, e é esse um dos grandes presentes que a maternidade nos traz.

Para as mães que estão no período do pós-parto, minha dica para as horas de solidão são os grupos ou comunidades de mães na internet. Lá é possível conversar com outras tantas mães que estão passando pelas mesmas alegrias e dificuldades. Elas discutem questões relativas aos filhos, se apoiam e criam vínculos de amizade. Além disso tudo, quem mais conseguiria te “escutar” às 3 das manhã, no meio de uma noite insone? Pois acredite, dentro dos grupos, o movimento não para, 24 horas por dia.

É claro que o apoio ao vivo e a cores dos familiares e amigos continua sendo o mais importante. Aquele colo de mãe quando você está exausta, o abraço do marido que acalma quando você não sabe mais o que fazer para o bebê parar de chorar, o ombro da amiga que diz que em alguns meses você terá suas noites de sono de volta não têm preço. Mas para receber ajuda é importante deixar o orgulho de lado, perceber que você não precisa ser perfeita, nem saber tudo. Você só precisa ser estar em paz, para fazer seu bebê feliz.

P.S. – A sensação de solidão passa, viu? Depois que seu filho começar a falar, você não se sentirá sozinha nem se quiser!!!