Há alguns meses uma amiga me emprestou um livro bastante interessante, cujo título em português é “Crianças francesas não fazem manha”. No enredo, a jornalista americana Pamela Drukerman conta sua experiência ao mudar para Paris, viver na cidade seu período de gestação e os primeiros anos de sua filha. Como boa parte de nós, mães brasileiras, a autora teve várias dificuldades com a educação da pequena, principalmente em relação ao sono, alimentação e estabelecimento de limites. É muito engraçada a passagem em que ela conta um passeio pelo litoral da França, em que sua filha tem um crise de birra no meio de um restaurante, enquanto as crianças francesas, mesmo as mais novas, comiam alimentos saudáveis calmamente em seus cadeirões. A partir daí tem início uma crítica bem humorada, que compara o modo de criação francês ao americano.

crianças francesas nao fazem manha

Enquanto você lê, tem a impressão de que o jeito brasileiro de educar está mais próximo do americano do que do francês. Porque segundo a autora, nos Estados Unidos, os pais acabam modificando suas vidas com a chegada do bebê, ao invés de fazer o bebê se adaptar à vida da família – como ocorre na França (essa é a diferença básica entre os dois sistemas, que acaba se refletindo em todas as esferas da educação dos filhos). Quer fazer uma imagem? Uma mãe americana típica enfrentaria noites em claro com um bebê que não dorme, teria dificuldade em alimentar seu filho com qualquer coisa que não fosse doce ou fritura e estaria acostumada a ser frequentemente interrompida pelas solicitações (ou melhor, ordens!) dos pequenos. Já nas famílias francesas, os bebês dormiriam a noite toda mais cedo, comeriam tudo o que se coloca na mesa e saberiam se portar em público. Mas como elas conseguiriam esse milagre?

Para os franceses, deixar o bebê chorar por 5 a 10 minutos é culturalmente bem aceito. Isso porque as francesas querem se certificar de que seus filhos realmente precisam de ajuda para voltar a dormir. Especialmente nesse ponto eu discordo do livro, porque como já falei em outro post, não me senti nada à vontade em deixar Catarina chorando no berço (e não julgo quem se saiu bem com o método – cada família é uma família!). Mas achei a leitura bem interessante quando faz uma avaliação da alimentação das crianças francesas. Lá é comum a família inteira sair para escolher e comprar alimentos frescos, e faz parte da diversão familiar cozinhar junto com as crianças. Além disso, os bebês são estimulados a descobrir sabores diferentes desde que começam a alimentação sólida (nada de papinha sonsa para eles, a comidinha é temperada!). Isso faria com que eles aprendessem a apreciar a boa comida, os aromas do preparo, e se acostumassem a comer vegetais, frutas, queijos… E nessa hora você se lembra que ao invés de comer uma maçã na frente da sua filha, abriu um pacote de biscoito…

Outro ponto importante do livro diz respeito aos limites a serem impostos aos filhos. Segundo o livro, pais franceses não dão muito espaço para debates, enquanto entendem que o filho não tenha maturidade para discutir. É o famoso não, e pronto. Ah, e algo fundamental: fazer o filho esperar. Você está ao telefone? Então ao invés de desligar, peça a seu filho que espere. Ele quer algo mas não é o momento? Seja firme ao negar o que ele deseja, para que ele cresça sabendo o que pode e o que não pode fazer.

Fazendo uma avaliação final, eu acho que a leitura é válida, principalmente para que nós, pais e mães, façamos uma análise de como estamos criando nossos filhos. Será que estamos sabendo lidar com o sono do bebê? Será que poderíamos fazer com que ele comesse melhor? Será que é possível exercer autoridade sem autoritarismo? Será que não modificamos demais nossas vidas em função do bebê que chega e nos esquecemos de adaptá-los minimamente à nossa rotina. As respostas não são óbvias, e cada um terá as suas!

 

Crianças francesas não fazem manha – os segredos parisienses na arte de criar filhos

Texto: Pamela Druckerman

Editora Fontanar