Levei minha filha Catarina à praia pela primeira vez quando ela tinha 10 meses de vida. Eu, na maior expectativa, achei que a pequena fosse estranhar a areia e fugir do mar. Para minha surpresa, aconteceu exatamente o contrário: ela se atirava em direção às ondas, completamente maravilhada por sua visão. E nesse dia eu pensei: “Puxa, minha filha é uma destemida!”. Nessa mesma fase, Catarina era a menina-sorriso: a qualquer um que passava, destinava um riso fácil e lançava lindos beijinhos. E todos que nos encontravam diziam: “Que menina dada! Não estranha ninguém!”.
E com a ideia de que minha filha era uma menina valente e aberta ao mundo eu me acostumei. Quando ouvia amigas com filhos mais velhos contarem da dificuldade da adaptação na escola, ou do filho que não queria cumprimentar ninguém, eu pensava que daquele mal eu não padeceria. Isso até que minha filha completou 1 ano e meio. E aí, minhas amigas, eu percebi que mãe muitas vezes só acha, não tem certeza de nada! Aos poucos a menina sorridente foi cedendo lugar à outra, encabulada, que não dava um sorriso sequer para alguém que não fosse de sua convivência intensa. E a primeira crise forte de medo veio, durante um show de uma personagem famosa entre os bebês. Tudo estava lindo e formoso, a platéia batendo palmas para o espetáculo começar, até que a primeira personagem do musical, uma barata, subiu ao palco. E daí para frente ela enfiou seus olhinhos no meu ombro e praticamente não os tirou de lá (para não dizer que ela não viu nada, topou dar uma espiadinha em duas músicas quando eu me distanciei do palco – até que literalmente despencou, dormiu em meu colo de puro medo!).
Poucas semanas depois fomos a um evento onde havia um artista sobre uma perna de pau. Dessa vez ela chorou, chorou muito, e não teve conversa: tivemos que tirá-la de perto. E aí, mãe – que é um bicho estranho por natureza – fica preocupada (e por que não dizer, sentindo-se culpada!), achando que errou em algum ponto da educação do filho, afinal “ele não tinha medo de nada, mas agora…!”. É claro que toda mãe quer que seu filho seja corajoso, que enfrente os obstáculos da vida e que saia vitorioso. Mas também é verdade que o medo tem uma grande utilidade, do contrário poderíamos sair nos jogando pelos ares, achando que iríamos voar. O fato de seu filho começar a demonstrar medo significa que seu processamento cerebral já o alerta do perigo e que, portanto, ele está crescendo e se desenvolvendo normalmente! E mesmo sabendo de tudo isso, você ainda se sente mal toda vez que seu filho fica com medo de algo que algo que você, mãe, sabe que é inofensivo.
Então vem aquela pergunta que martela no seu ouvido: devo continuar expondo-o àquilo que lhe causa medo (para que haja possibilidade de superar esse medo infundado) ou devo poupar meu filho, para evitar um trauma maior? Como cada criança é uma criança, e cada situação é uma situação, não acredito que haja uma fórmula mágica. Posso apenas compartilhar o resultado de minhas experiências com Catarina, e acreditar que de alguma forma elas possam te levar à refletir. Começamos a perceber que tornar a expô-la ao objeto do medo era importante, mas que antes deveríamos dar um tempo à pequena. E nesse tempo, tentávamos conversar e explicar algo sobre aquilo que ela achava estranho (porque no fundo era isso, ela não entendia o que estava acontecendo, pois era um desvio do que ela considerava normal – como uma barata maior do que ela, ou o artista que era três vezes mais alto do que o papai). Certa vez, o pai mostrou a ela um filminho de uma tempestade, depois de vê-la apavorada com raios e trovões (e não é que ela entendeu?!); eu fiz uma luva para sua boneca, depois do dia em que ela saiu gritando alucinadamente ao ver uma par de luvas pretas de inverno em meu armário. E assim vamos, tentando respeitar o ritmo de processamento de Catarina, mas sempre incentivando-a a enfrentar seus temores.
E você, como lida com os medos do seu filho? O que você sente quando vê aqueles olhinhos marejados de puro medo?